28 jun Florianópolis se preocupa com quantidade de moradores de rua
A região entre o Largo da Alfândega e o terminal intermunicipal Cidade de Florianópolis, no Centro da Capital, é palco diário da abordagem de pedintes. O número de pessoas em situação de rua preocupa quem passa por ali e muita gente desvia do local para não ser abordada.
Segundo levantamento da Prefeitura, o número de pessoas em situação de rua vem caindo, graças às políticas públicas de apoio e à ajuda de grupos de voluntários e ONGs. Os dados apontam que, em 2016, Florianópolis tinha 937 moradores de rua cadastrados. Em 2017, o número caiu para 850 e, em 2019 (até junho) são 459. Sem esse trabalho, a estimativa é de que o número chegasse a 2 mil.
O problema atinge muitas capitais brasileiras. “Enquanto aqui temos 459 pessoas, em São Paulo são 35 mil moradores de rua; em Porto Alegre, 6 mil; e em Curitiba cerca de 2,3 mil”, aponta o diretor da Assistência Social do município, Sandro Azevedo.
“Não incentivamos a esmola porque contribui para que as pessoas permaneçam nas ruas e porque prejudica o trabalho que é feito com dinheiro público. Em vez disso, indiquem os abrigos onde ofertamos alimento e pernoite”, aconselha o diretor.
Incômodo diário
Ainda assim, a percepção da população é de que há gente demais nas ruas. Enquanto esperava ônibus no antigo terminal, Maria (nome fictício) contou que já foi abordada várias vezes, não só ali como no Ticen (Terminal de Integração do Centro) e na passarela que dá acesso ao Terminal Rodoviário Rita Maria. “Geralmente eles pedem dinheiro, algumas vezes comida. Já dei esmola algumas vezes porque acabo sentindo pena”, diz. “Alguns querem mudar de vida, mas muitos preferem ficar na rua”, avalia.
Ao contrário de Maria, a funcionária pública Rosane Schneider afirma que não dá esmola, porque acredita que só alimenta o vício de quem está nas ruas. “O município oferece ajuda, mas muitos não querem e é uma pena porque vivem numa situação degradante”, opina. Ela diz que sempre tem gente pedindo esmola no terminal, especialmente no final da tarde.
Em outra plataforma, as operadoras de caixa Josiane Faustino e Amanda Freitas foram abordadas por um senhor pedindo dinheiro para comprar suco. “Ficamos com pena, mas não demos. Se ninguém desse dinheiro, talvez não tivesse tantos pedindo. Alguns pedem comida, aí eu me ofereço para comprar algo mas não querem, querem o dinheiro”, diz Josiane. “De manhã cedo sempre tem pedintes lá no Ticen. Já fui abordada por um homem que se ofereceu para passar o cartão na catraca pra mim em troca de dois reais”, conta Amanda.
Combatendo o problema
Para enfrentar a questão – que vai muito além do incômodo para quem transita pelo Centro da cidade, a prefeitura da Capital vem atuando em várias frentes. Uma delas é a concessão de passagens para as pessoas que desejam voltar às suas cidades de origem. Em 2017, foram emitidos 230 bilhetes. O número saltou para 510 no ano passado e nos primeiros seis meses deste ano, já foram 270 passagens.
“Não podemos simplesmente comprar a passagem e despachar a pessoa. Verificamos se há algum familiar na cidade de origem ou alguma possibilidade concreta de trabalho e a renda familiar. Concedemos um único bilhete por pessoa no período de um ano”, explica Azevedo.
Abordagem, abrigo e comida
Paralelamente, três equipes fazem a abordagem nas ruas, com oferecimento diário de serviços como acolhimento, atenção em saúde para dependentes químicos, alimentação, capacitação e apoio na reinserção no trabalho e na sociedade. No Centro Pop, uma equipe multidisciplinar presta atendimento, refaz a documentação e oferece oficinas para o mercado de trabalho e outras atividades coletivas.
Apesar disso, há resistência em aceitar oportunidades de trabalho. “Embora muitos digam que vieram para a cidade em busca de emprego, vários acabam fugindo da responsabilidade de trabalhar quando surge a oportunidade”, afirma o diretor. “Trabalhamos junto a empresas para ampliar a oferta de vagas, enquanto contribuímos com a capacitação”.
Também são disponibilizadas cerca de 200 vagas em abrigos, na Ilha e no Continente. E diariamente são servidos café, almoço e jantar para até 150 pessoas na Passarela do Samba. “Há muita resistência aos abrigos, porque temos regras: as pessoas são revistadas para ver se não portam drogas, precisam tomar banho e têm horário para dormir e acordar”, diz Azevedo.
Segundo o diretor, mesmo com o frio intenso desta quarta-feira (26), as vagas não foram totalmente preenchidas. Dos 80 leitos no Centro, cerca de 70 foram ocupados; e no Continente, onde há mais 80 vagas pouco mais de 30 pessoas pernoitaram.
(ND, 28/06/2019)