Peça Entrepartidas embarca em ônibus de Florianópolis e discute mobilidade

Peça Entrepartidas embarca em ônibus de Florianópolis e discute mobilidade

Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 19/03/2019)

O olhar sobre e para a cidade faz parte do espetáculo “Entrepartidas”, que o Teatro do Concreto, de Brasília, vai apresentar em Florianópolis de quinta (21) a domingo (24). A peça começa e termina dentro de um ônibus – a saída será no Terminal Cidade de Florianópolis – com paradas em outros espaços urbanos. O diretor Francis Wilker falou à coluna sobre a experiência. Os ingressos da peça estão disponíveis no site do Sympla.

Como o espetáculo contribui para a discussão da mobilidade, tão forte em Florianópolis?
A cidade é o centro nervoso das discussões contemporâneas, ela é o grande objeto, por isso que desde a década de 60 a arte quer este diálogo com a cidade. Isso se tornou uma questão. Os modos de habitar, de conviver, de viver a cidade são discussões muito fortes. A peça contribui para lançar um olhar sobre o quanto a cidade poderia ser mais um espaço de convívio. O autor português Gonçalo Tavares diz que “o homem é um animal que de vez em quando desce do carro”. O trabalho, ainda que utilize o ônibus, é um desejo de falar sobre a cidade que habitamos, é onde se dão nossas relações, nossos afetos. A contribuição é sensibilizar o olhar para a beleza de estar junto, por exemplo, numa praça. A cidade é uma dimensão de vigilância e de consumo, e de se defender de algum jeito, você se fecha nos condomínios, nos shoppings. E a peça quer reforçar a cidade como o espaço onde nos encontramos, dialogamos, nos amamos e convivemos.

É uma linha normal de ônibus da cidade?
A gente trabalha com um micro-ônibus locado, porque é menor, desta forma se torna uma “comunidade” de espectadores que ficam mais próximos. Como o espetáculo também ocorre em outros ambientes, em um deles não há espaço para muita gente. Se fosse um ônibus maior, não teria como abrigar os espectadores nestes locais. Um ponto difícil para nós é que o nosso ator dirige o ônibus e não é fácil encontrar uma empresa de aluguel do micro-ônibus que aceite a proposta. Ele faz parte da dramaturgia do espetáculo, não é uma função logística, é poética. O ator trabalhou muitos anos com transporte escolar, tem habilitação, tem treinamento para isso.

Porque a escolha de Florianópolis na turnê?
Quando a gente escreveu o projeto para a BR Distribuidora propusemos várias cidades que não tínhamos se apresentado. Só não sabíamos que passaríamos antes, com uma única apresentação, com o projeto Palco Giratório, do Sesc. E também tem uma escolha que é feita também pela equipe da BR, em algumas cidades que sejam estratégicas para eles. A gente faz o Sul todo, Porto Alegre e Curitiba também, porque nós tínhamos pouco diálogo com estas cidades e um desejo de troca com o público, a cidade e outros profissionais da área.