07 mar Pesquisadores buscam causas para recorde de pinguins e lobos-marinhos em SC
Da Coluna de Dagmara Spautz (NSC, 07/03/2019)
O ano começou com um desafio para pesquisadores que trabalham com a fauna marinha: compreender por que 2018 ficou marcado pelo recorde no número de pinguins e lobos marinhos que apareceram na costa, especialmente em Santa Catarina. Foram mais de 5,8 mil pinguins, e 95% deles chegaram mortos às praias. O número preocupa especialistas.
Os lobos- marinhos tiveram mais sorte. Dos 216 que apareceram no Estado, 35% chegaram vivos – mas em uma quantidade quase 10 vezes maior do que no ano anterior.
Os números são do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, coordenado pela Universidade do Vale do Itajaí ( Univali), que acompanha desde meados de 2015 a mortandade de animais marinhos na zona costeira.
André Barreto, coordenador do programa na área que vai do Litoral de São Paulo até Laguna, no Sul de SC, diz que 2018 foi um ano diferente de todos os outros em que foi feito o acompanhamento.
Segundo ele, há discussões em andamento para tentar compreender se as estatísticas são reflexo de alguma questão ambiental, de correntes marítimas, que podem ter empurrado os animais para a costa, ou de impacto humano. O assunto é alvo de estudos entre pesquisadores brasileiros e argentinos.
– Nos leva a supor causas ambientais de larga escala, que tenham mudado a distribuição dessas espécies no ano que passou. Estamos avaliando correntes, temperatura do mar, ciclos que demoramos para notar. Precisamos de dados a longo prazo para entender o que mudou com o tempo – afirma Barreto.
Onze aves em recuperação
Embora os pinguins apareçam com mais frequência no inverno em SC, época em que deixam a Patagônia, no extremo Sul do planeta, seguindo as correntes marítimas de águas frias à procura de alimentos, a Associação R3 Animal, em Florianópolis, ainda tem 11 aves em recuperação.
Como entraram em período de troca de penas, os técnicos aguardam o momento propício para a soltura.
A médica veterinária Marzia Antonelli, que atua na R3, diz que a maioria dos animais que chegaram para recuperação, ou mortos, para necropsia, apresentava as mesmas características: estavam magros, anêmicos e com muitos parasitas.
Outros tinham, ainda, sinal de asfixia e edema pulmonar – o que pode indicar interação com a pesca.
A Associação aguarda os resultados de exames extras a que foram submetidas as aves, para entenderem se foram vítimas de alguma doença.
– O que podemos afirmar é o quadro, que foi causado por falta de alimento. Mas não podemos confirmar o por quê. Se houve sobrepesca ( pesca excessiva), ou se é resultado de condições climáticas – afirma a veterinária.
Alguns pinguins atendidos apresentavam lesões e amputações. Situação semelhante à de pelo menos um dos lobos marinhos tratados pela Associação R3 ano passado, que foi resgatado com um corte profundo causado pela hélice de um barco.
Animais costeiros são os mais afetados
O monitoramento da zona costeira que vai de Santa Catarina ao Litoral de São Paulo foi uma contrapartida exigida pelo Ibama, no processo de licença ambiental para exploração do Pré- Sal da Bacia de Santos, pela Petrobrás.
Ao todo, sete instituições de pesquisa, entre universidades e projetos ambientais, atuam nessa fase do programa. A intenção é identificar se há interferência da extração de petróleo e gás na vida marinha.
Mas, nas praias, os problemas que aparecem são lixo e pesca, provocados pelo ser humano.
Gaivotas, por exemplo, costumam ingerir bitucas de cigarro largadas na areia e se intoxicam com comida estragada. As tartarugas sofrem com o plástico, que depois de ingerido prejudica a digestão – muitas vezes gera a morte.
A pesca é ameaça para todos, especialmente para as toninhas, o golfinho com maior risco de extinção em SC.
Aliás, mamíferos como as toninhas são os que trazem os dados mais alarmantes. Mais de 40% dos que foram recolhidos mortos na área de monitoramento do projeto, tiveram como causa principal de óbito alguma atividade humana.
– A saúde dos animais tem nos preocupado como um todo. Quando comparamos os animais costeiros e os oceânicos, percebemos que os que vivem perto da costa têm saúde pior. Estamos gerando problema para a saúde dos animais que vivem na região – afirma o pesquisador André Barreto.
Ocorrências em números
15%
Dos animais que chegam mortos têm a causa do óbito ligada à interação com pesca, lixo ou colisão com embarcações
40%
Das tartarugas atendidas pelo monitoramento tiveram interação com lixo
45%
Dos mamíferos que aparecem mortos têm como causa do óbito a atividade humana