02 jun A sociedade se mobiliza
Autoridades e especialistas vestiram a camiseta da campanha ançada ontem pela RBS
Dário Berger, Prefeito de Florianópolis
“A força-tarefa contra o crack anunciada semana passada pela prefeitura demonstra claramente a preocupação do município com essa droga, que é o câncer de todas as drogas. É necessário que se faça um amplo diagnóstico, que se levante as informações, que efetivamente se busque o diagnóstico, para que, se for necessário, sejam implementados programas de atendimento à população atingida no mais curto espaço de tempo.”
Jorginho Mello, Presidente da Assembleia Legislativa
“O crack é uma droga barata, que leva a juventude a se destruir com uma velocidade incrível. Se você não oferece oportunidade para o jovem, se você não melhora as condições de vida, você empresta o adolescente para o traficante. Não podemos deixar o jovem disponível para o tráfico que está aí, recolhendo todos os dias aqueles que, por dificuldades sociais, entram num caminho sem volta.”
Luiz Paulo Barreto, Secretário-executivo do Ministério da Justiça
“Não é exagero afirmar que o crack é uma epidemia no Brasil. Hoje é um problema que está na pauta da segurança pública. O crack é muito diferente do que acontece com a maconha, com a cocaína, por exemplo, onde há uma estrutura de crime organizado mais bem feita operando este tipo de comércio. No crack, isto é mais dissociado. Em geral, atinge o jovem em situação de fragilidade social, que surge na desagregação da família, com o afastamento da igreja, com o afastamento da comunidade onde ele vive. Então nós temos muita convicção de que para reconstruir uma política de apoio a esses jovens, é preciso reconstruir o meio social onde ele vive.”
Jonas Ricardo Pires, Presidente do Centro de Recuperação de Toxicômanos e Alcoólicos (Creta)
“Estamos com 483 internos hoje. São 483 famílias descansando, são 483 famílias se recuperando também, porque a gente não recupera só o dependente químico, a gente recupera a família também. Trabalhamos com a (ONG de apoio) Amor Exigente, porque não adianta só recuperar o dependente químico e não recuperar a família. Eu já acreditava na recuperação e agora eu acredito mais ainda, sabendo que toda a classe política está aqui, presente, firme e forte para podermos alavancar essa corrida contra o crack. (Para o tratamento) não se tem pagamento, porque uma vida não tem preço. E o maior preço que nós temos é a sociedade apoiando todos estes dependentes químicos.”
Elisia Puel, Coordenadora do programa de saúde mental da Secretaria de Estado da Saúde
“O uso de drogas é uma grave questão de saúde pública, devido aos problemas nas áreas social, ocupacional e psicológica. Dada essa dimensão biopsicossocial, é importante que, em um projeto de intervenção nesta área, se trabalhe com a intersetorialidade. Daí a necessidade de se trabalhar, além da área da saúde, a educação com a Justiça, com a área social, com a própria comunidade em geral para que se possa fazer uma intervenção buscando ações de prevenção, de tratamento e de reabilitação. Esta é a condição principal: o envolvimento dos vários setores.”
Vilson Groh, Padre e líder comunitário em Florianópolis
“Acredito que a única saída é uma ação interdisciplinar do ponto de vista do município, Estado, federação e empresariado. E a prevenção está na geração de oportunidades e no investimento social. Sem investimento não é possível recuperar esta juventude. Um papel é a repressão, mas não basta limpar a área. A família pode ajudar na medida que é integrada. Um grande sucesso nosso está nos esportes radicais, no surfe. Tu tens que dar a este jovem a mesma adrenalina que ele tem no tráfico. Agora, precisa trabalhar a família. Aquela jovem que a mãe achava imprestável começa a ter valor. A família é fundamental para o laço. Um jovem na cadeia custa R$ 1,7 mil ao Estado. Uma criança ou jovem conosco, R$ 490.”
Luiz Eduardo Cherem, Secretário estadual da Saúde
“Está na hora de a sociedade reagir. O que me preocupa mais neste momento é, principalmente, os adolescentes. A dependência química é falta de educação informal, de valores que vêm de casa. Quanto mais famílias estruturadas, menos crianças com problemas. O problema do crack, acima de tudo, é uma questão de educação.”
Vanessa Cavallazzi, Promotora de Justiça da Infância e Juventude de Florianópolis
“O Ministério Público enxerga a questão do crack como uma questão global. A escola deve ser o centro das intervenções estatais, bem como da prevenção. Hoje há um sistema de ensino público que não encontra ressonância na clientela que atende. Fala uma linguagem desconhecida. As crianças e os adolescentes não entendem o que os professores estão lá fazendo. Nas escolas devem acontecer, por exemplo, cursos profissionalizantes, criando alternativas. Hoje os adolescentes não sabem o que querem ser. Existe um vazio, um olhar perdido, em busca de algo que não vem. A alternativa é então o tráfico.”
Marcos Zaleski, Médico psiquiatra
“Quando se fala em drogas é um problema de saúde pública, agora quando se fala em crack se fala de um problema seríssimo. É como se fosse o câncer de todas as drogas. O crack, por exemplo, mata 20% dos usuários em cinco anos. Se a gente considerar a média dos tumores que existem hoje, não encontra nenhuma patologia assim. Sem contar que ela mata crianças e adolescentes que não têm nenhum recurso, nenhuma chance de recuperação. Hoje, infelizmente, há usuários de crack nas prisões por pequenos furtos, e que lá dentro sofrem de síndrome de abstinência e vão tentar se recuperar. Às vezes têm a sorte, dependendo da pena, de se recuperar e sair. Mas normalmente não, e ele volta a delinquir”.
Paulo Ricardo Bruschi, Presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC)
“Os juízes estão direcionados pela legislação existente. Não tem muita alternativa. A questão do tráfico é bastante penalizada. Porém, o uso sofreu um abrandamento, sem uma repercussão maior. Isto, às vezes, torna o magistrado um pouco impotente no que tange ao usuário.”
Cláudio Monteiro, Titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes de Florianópolis
“Temos visto uma disseminação muito grande do tráfico e do consumo de drogas. Reside aí a principal dificuldade para a polícia: a capilarização do tráfico e do consumo. Está espalhado em todos os locais. Não tem uma comunidade que não tenha tráfico e usuários. Uma situação que me chamou a atenção foi o sofrimento de uma mãe, que me procurou. O problema sempre deságua na polícia. Ela não viu outra alternativa e acorrentou o filho. Ela não viu outro caminho. Foi a medida extrema para ela, que não soube mais como lidar com a situação.”
Ronaldo Benedet, Secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão
“O crack é a droga que mais causa violência. Oitenta por cento dos crimes estão ligados diretamente à droga, além de grande parte dos furtos, roubos, assaltos, homicídios. Com informação vamos reduzir a criminalidade no Estado. Em nossa área de repressão estamos aumentando cada vez mais os números de apreensões. Hoje, porém, ainda carecemos de estudos sobre quanto da população está envolvida com drogas.”
Anita Pires, Presidente da Fundação Catarinense de Cultura
“As atividades culturais têm tudo a ver com a inclusão social, a música, o esporte. Temos tempo ainda de enfrentar esta questão. Basta vontade política, e a sociedade participar junto. Devemos nos conectar às atividades já existentes nas clínicas, nas fazendas, como oficinas de dança e artesanato, coisas que ocupam esses jovens e ao mesmo tempo geram uma renda para eles.”
Gean Loureiro, Presidente da Câmara de Vereadores de Florianópolis
“O crack é uma das drogas mais consumidas na Capital. Então acho que tem que ter uma ação conjunta, que tem agora o apoio da iniciativa privada. É preciso chamar todos para participarem deste processo, que, na verdade, é uma luta. O crack é uma droga de baixo custo, que destrói mais rapidamente que as outras drogas tradicionais e traz uma consequência de problemas sociais que não conseguimos nem calcular.”
Maurício Eskudlark, Delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina
“É fundamental a mobilização, tão importante quanto foi a duplicação da BR-101 Norte. É uma necessidade de mudança e de salvação da sociedade como um todo. Quem ainda não foi atingido, pode acabar atingido pelo crack. Eu sempre digo que o crack, se você ir “bem”, vai para a cadeia. Porque o normal para quem se envolve é morrer. Então precisamos de condições para combater esta droga.”
Rosemeri Bartucheski, Secretária de Assistência Social de Florianópolis
“O crack é uma questão séria e complicada e não só do poder público, da iniciativa privada e da família, mas de toda a cidade. A deterioração do usuário do crack se dá muito rápida. Em dois anos, ele destrói a vida de uma pessoa. A sua recuperação é muito difícil e o atendimento é muito caro. Em Florianópolis há um sério problema: 90% dos moradores de rua são usuários também de crack, além de outras drogas.”
Ademir Arnon, Presidente da Associação Catarinense de Imprensa
“Acho que a RBS tem dado demonstrações de preocupação com Santa Catarina. Sem sombra de dúvidas, a RBS é o grande veículo que pode trazer para a discussão, para a sociedade, um tema tão importante. A imprensa tem esse papel social de divulgar, apoiar e transformar. Nunca foi tocado nesse assunto com tanta propriedade como a RBS está fazendo agora, tirando dos consultórios, das delegacias e trazendo ao público.”
(DC, 02/06/2009)