Morte de uma cultura

Morte de uma cultura

Artigo escrito por Laudelino José Sardá – Jornalista e professor (DC, 28/05/2009)

Rodrigo de Haro confessa-se desanimado com o desvanecimento da cultura da Ilha, assim como tantos outros talentos que também ajudaram a construir uma identidade cultural na música, na poesia, na crônica, no conto e romance, na pintura, no cinema, no teatro e nos movimentos sociais. Não é mais Desterro, que lembra a Madonna degli Emigrati, mas o aterramento cultural. A memória arquitetônica está dilacerada, a poesia ofuscada pela brutalidade urbana. Atribui-se esse ambiente impetuoso às transformações sociais. Contudo, vejo como maior causa a negligência dos governantes, que preferem ações que tragam holofotes. A megalomania com que se buscam grandes eventos e empreendimentos, somada aos superlativos que indicam a Ilha como a melhor referência em qualidade de vida, só tendem a embrutecer cada vez mais a cidade, sepultando nossas raízes culturais, como se um projeto de turismo decente e eficaz pudesse sobreviver sem valorizar as virtudes do povo. Sejamos, pelo menos, humildes para aprender as lições de países europeus.

Não condeno as grandes ideias, mas sentencio a omissão em relação às pequenas e valiosas ideias, que também ajudam a nutrir o turismo. Ou você, leitor, só vai a Paris, a Londres ou a Madri para comer, passear e sentir as baixas temperaturas? Mas não é o turismo que nos entedia. É a depreciação cultural, a baixa autoestima dos florianopolitanos. Perdemos nossas referências. A circunstância pede um movimento de força, denominando-se – quem sabe – A Grelha –, para interromper o processo de “espetacularização” da Ilha, borrifando-se os olhos que não querem enxergar a lenta e ignominiosa morte de uma cultura.