A alma do setor de inovação são as empresas, diz presidente da Acate

A alma do setor de inovação são as empresas, diz presidente da Acate

Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 09/06/2018)

Após dois anos de trabalho intensivo, com o lançamento de uma série de programas para a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), o presidente da entidade, Daniel Leipnitz, e sua diretoria foram reeleitos para mais um mandato. Agora, o desafio é consolidar os novos programas. Nesta entrevista, ele diz que está animado com a projeção do setor, mas preocupado com a tributação.

O que o senhor destaca sobre o seu primeiro mandato à frente da Acate e qual é o foco do segundo mandato?

A gente teve um ritmo muito acelerado nesse primeiro mandato. Tivemos uma sequência de projetos incríveis lançados. Cito o escritório da Acate em São Paulo, o Link Lab na sequência, o lançamento da Acate International com o escritório em Boston, reforçamos todos os demais programas que estavam rodando na entidade, Midi Tecnológico (incubadora), o HTech e outros. A nossa ideia agora, no segundo mandato, é consolidar tudo o que a gente fez e replicar.

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A incubadora Midi foi eleita a quinta melhor do mundo. O que isso representa?

Eu penso que o Midi é um patrimônio do nosso Estado, cada vez mais aperfeiçoado. É uma grande entrega de valor para as empresas que passam por lá. A mensagem de que estamos indo para frente é que temos exemplos muito positivos no Midi. Um diferencial que é administrado por empresas e acaba se beneficiando com todos os programas da Acate.

O escritório de Boston já está mobilizando mais empresas para atuar no exterior?

Já temos empresas acessando nosso escritório lá em Boston, verificando oportunidades, projetos. Semana que vem teremos aqui um curso ministrado pelo nosso parceiro de lá, com a confirmação de diversas empresas tradicionais como Neoway, Welle, AltoQI e Audaces. São empresas do nosso polo conectadas em função da iniciativa de abrir ao exterior.

Como avalia a evolução do Link Lab?

É um movimento. Antes do Link Lab nós éramos invisíveis e, de um momento para outro, a entidade começou a ser valorizada, requisitada pela sociedade, pela indústria, comercio tradicional, governos, embaixadas. As pessoas começaram a nos enxergar como um grande hub de conexões. Isso começou a atrair uma série de empresas vindo até nos como WEG, Engie, Ambev, Marisol e diversas outras. Então, o Link Lab é consequência de a sociedade nos enxergar como hub de tecnologia. Hoje conseguimos atrair startup, uma empresa que já está escalando e outras. A gente consegue atrair todo esse público para cá e o Link Lab é uma consequência disso. Uma forma de gerar valor também para indústrias tradicionais.

Vocês criaram um grupo de startups. Como funciona?

Criamos um grupo de empresas startups para que elas participem na Acate. São dois anos de inscrição gratuita. É uma iniciativa para que a gente consiga transitar em todas essas etapas do empreendedorismo de tecnologia. Uma grande preocupação que a gente teve para manter viva a entidade é atrair os jovens. Informo a eles que eu estou aqui temporariamente. Eles estarão aqui dentro de alguns anos. Nesta quarta-feira, fizemos um evento aqui, o 27º meetup do Startup SC, que atraiu cerca de 750 pessoas.

Como o senhor avalia o ecossistema de inovação de Florianópolis e Santa Catarina?

A gente está em franca evolução. Nesses últimos dois anos, viajei muito pelo Estado. O que a gente vê hoje é que temos muita coisa boa em diversas regiões. Empresas que estão fora do nosso circuito estão fazendo, vendendo, crescendo. Aí a gente vê a importância do nosso papel de conectar essas empresas e trazê-las com o setor acadêmico.

O governo de SC lançou 13 centros de inovação. Apenas um foi inaugurado em 2016 e outro abrirá dia 15 em Jaraguá do Sul. Quais são as expectativas com esse projeto?

A gente acredita que a alma do setor de inovação são as empresas. Elas são o software, vão trazer vida. Sem as empresas não tem inovação. Elas devem liderar esse processo de conexão com as universidades, com as indústrias tradicionais. A gente fala que a inovação acontece quando você tira a primeira nota para venda de produto ou serviço.

O ambiente de negócios para o setor está melhorando?

Do ponto de vista burocrático, estão sendo trabalhadas iniciativas pela redução. Diversas prefeituras estão trabalhando nas suas leis de inovação municipal. São todas ações estruturantes que, muitas vezes, a gente não vai sentir no curto prazo. Há também um movimento interessante no Estado, que é o Pacto pela Inovação, que busca alternativas para melhorar esse ambiente.

Há ainda muita falta de capital, de recursos de investidores anjos para o setor?

Está melhorando. Estamos atraindo mais fundos de investimentos do Brasil e de fora. Porém, se compararmos com outros mercados como o Vale do Silício (EUA) e Israel, temos espaço para atrair bem mais. A partir do momento que a gente conseguir mostrar a nossa marca, mostrar para fora que temos produtos de qualidade, vamos atrair muito mais. Estamos fortes no processo de internacionalização, que visa levar nossas empresas para lá e também mostrar quem somos, vender o nosso ecossistema para investidores de fora.

Florianópolis é uma cidade que já atrai empresas em função do seu ecossistema de inovação. Isso pode avançar mais?

A cidade já tem um nome, cada vez está se tornando mais conhecido, mas ainda temos muito espaço para melhorar. Talvez em nível de Brasil já chegamos num patamar, mas em termos de mundo temos muito a fazer ainda.

Está sendo elaborada uma nova lei para o investidor anjo, com ênfase para compliance. Como a Acate observa isso?

A gente tem lutado para que o investimento anjo não seja taxado como um recurso de banco. O investidor está correndo mais risco, gerando empregos, por isso ele não pode ser taxado como um banco. Estamos lutando em nível nacional junto com outras entidades do setor.

O congresso manteve a desoneração da folha para o setor de tecnologia. Como avalia a decisão?

O nosso segmento foi o que puxou essa pauta anos atrás e, efetivamente, entregou resultados com aumento de emprego, arrecadação e faturamento das empresas. Eu sou muito tranquilo em dizer que o retorno que esse incentivo foi muitas vezes superado em postos de trabalho, arrecadação e outros.

A falta de trabalhador qualificado era um grande problema para o setor. Continua?

Isso nunca está bem. O que vamos fazer é reforçar uma série de ações para minimizar o problema. Cada vez mais trazer gente de fora, divulgar a Capital e o Estado de SC como lugares com ótima qualidade de vida, melhor do que a média do país, cada vez mais vamos incentivar o ensino de lógica e computação nas escolas, trabalhar em conjunto com todas as universidades para ter uma grade curricular que seja compatível com o que as empresas de cada uma das regiões estão precisando. É possível criar cursos específicos ou aprimorar cursos de diversas áreas. Um exemplo de novo curso é do Senai-CTAI de Florianópolis, que desenvolve um segundo grau técnico voltado à economia criativa. Está um sucesso. Vamos atuar nas duas frentes: adaptar os currículos atuais e criar cursos novos. Mas a base disso tudo é o mapeamento regional das empresas. Que profissional será necessário nos próximos anos? Esse é um trabalho inteligente, investir em profissionais que vão trabalhar na região. O Geração Tec é um bom exemplo.

O senhor é um dos empreendedores bem-sucedidos na área de tecnologia. Que conselho dá para quem gostaria de ingressar no setor como investidor?

Eu costumo dizer que é importante que ele comece a se conectar com o sistema. Frequentar as palestras, os Meetups que fazemos. O nosso setor é muito colaborativo. Uma palestra nunca termina e a pessoa vai embora. Você vai ficar, tomar um chope, trocar ideias. De uma hora para outra as coisas começam a ficar mais claras. Isso funcionou para mim e para diversas outras pessoas. Você começa a ouvir, ver como outras pessoas agem, você vai trocando seu mindset e logo vai poder se inserir.

E como o senhor ingressou no mundo da tecnologia?

O meu pai foi da área de tecnologia. Eu segui o caminho dele. Quando eu estava no colégio, ele me colocava para ensinar pessoas a usar processador de texto, usar planilhas. Meu pai começou como estagiário da Procergs (o Ciasc do RS). Eu fiz vestibular na Esag, passei e me apaixonei por gestão, mas sempre fui focado na área de tecnologia. Temos a empresa Visto Sistemas, especializada em soluções para a área de saúde. É o resultado da fusão da nossa empresa, a Callisto, com a paulista VM System, de Campinas. Estamos crescendo bastante e num processo de consolidação com aquisições.