Pântano do Sul é base de pesquisa

Pântano do Sul é base de pesquisa

A população do Pântano do Sul está perdendo o contato com a vegetação de restinga da região, o que reflete o distanciamento do potencial alimentar e medicinal das plantas que crescem nessa área. A constatação foi feita por professores e alunos do curso de Biologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que desenvolvem pesquisas sobre o tema.

A idéia central do projeto é investigar o conhecimento que as pessoas têm sobre as plantas do ambiente de dunas e praias, visando resgatar a cultura local e gerar meios para a conservação da área. O trabalho integra o programa de iniciação científica das estudantes Sara Melo e Victoria Duarte Lacerda, orientadas pela professora Natalia Hanazaki, do departamento de Ecologia e Zoologia do curso. Parte do projeto foi apresentado na última semana no 16o Seminário de Iniciação Científica da UFSC.

“Historicamente sabe-se que a humanidade é dependente das plantas”, explicou a professora Natália. “Entender como é a relação entre os homens e os vegetais é saber como as pessoas percebem e utilizam os recursos da natureza e é conseguir informações importantes para a sobrevivência humana”, acrescentou.

RESTINGA

A pesquisa denominada “Etnobotânica do Pântano Sul com Ênfase em Espécies de Restinga”, incluiu visitas a 20% das casas do Pântano Sul, quando foram mostrados 10 tipos de plantas, sendo perguntado aos moradores quais elas conheciam. O resultado mostrou que em média são reconhecidas 7,26 espécies por entrevistado. A maioria dos moradores, entretanto, afirmou não saber como utilizar as plantas e cerca de 5% nunca tinham visto espécie alguma.

De um total de 43 entrevistados, 84% foram mulheres e, entre elas, mais da metade trabalha em casa. Para a professora Natalia e suas alunas, isto influenciou a média de reconhecimento. “As mulheres têm a tendência de conhecer melhor as plantas medicinais, cultivadas próximas de casa. Os homens, principalmente os pescadores, costumam saber sobre as plantas da restinga, pois mantêm um contato mais prolongado com o meio natural”, destacou.

População do bairro desconhece vegetação

A pesquisa também revelou o desconhecimento de todas as plantas por 5% dos entrevistados, considerado um reflexo da influência da urbanização no bairro. “As pessoas já não interagem tanto com o ambiente e hoje dependem menos do mar e da restinga”, disse a orientadora do projeto, Natália Hanazaki. A situação atinge todas as culturas locais da Ilha. Os dados justificam o estudo do conhecimento de plantas, que pode ser perdido rapidamente.

A segunda fase da pesquisa identificou a tendência à perda de conhecimento sobre os vegetais de geração para geração. Nesta fase, os entrevistados indicaram pessoas que estavam familiarizadas com a vegetação do Pântano Sul para reconhecer as plantas. Apenas cinco pessoas foram indicadas e todas acima de 58 anos. “Isto demonstra que há uma pequena difusão do conhecimento no bairro”, afirmou Natalia.

A pesquisa integra um projeto maior da Universidade de Campinas (Unicamp) sobre pesca, conhecimento local de peixes e insetos, quintais urbanos e influência da pesca na vegetação de restinga. A UFSC e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) participaram do estudo com a Unicamp. A proposta da UFSC foi a de trabalhar com a etnobotânica do Pântano Sul. A vegetação de restinga foi escolhida porque é tema de uma das frentes do projeto, coordenada pela professora Tânia Tarabini Castellani, também do curso de Biologia da UFSC.
(Celso Martins, A Notícia, 24/10/2006)