Ponte Hercílio Luz é o maior desafio da engenharia em SC

Ponte Hercílio Luz é o maior desafio da engenharia em SC

(Por Carlos Damião, Notícias do Dia Florianópolis, 24/01/2017)

Pode não ser a maior obra em realização no Estado, mas é certamente o maior desafio da engenharia na atualidade em Santa Catarina. Em termos gerais, e por causa do trabalho artesanal, é como se a Ponte Hercílio Luz estivesse sendo feita de novo, como foi entre 1922 e 1926. De um aparentemente simples rebite a peças de aço enormes – como as longarinas e transversinas, bases de apoio do piso -, tudo é reparado e substituído manualmente, raras vezes com suporte de alguma tecnologia moderna. O monumento, tombado como patrimônio histórico e artístico nacional, vai sendo modernizado numa velocidade impressionante. De acordo com estimativa extraoficial, cerca de 45% das obras já foram concluídas, restando ainda a parte mais complexa, que será a substituição dos olhais, elos que “amarram” a parte pênsil às torres. Essa etapa deve ocorrer por volta de setembro deste ano. Até lá será realizado o reforço da estrutura, para que a carga total seja apoiada com segurança.

Para o governador Raimundo Colombo, que participou de uma minuciosa vistoria nesta terça-feira, 24/1, é bem possível que até o Réveillon de 2017 a ponte esteja pronta. Os técnicos são mais cautelosos. Alguns dizem que, mesmo diante da agilidade dos trabalhos, a ponte deve estar totalmente reabilitada em maio de 2018. O prazo final estipulado até aqui – outubro do próximo ano – leva em consideração a desmontagem das treliças implantadas sob a ponte, para garantir o apoio da estrutura na troca dos olhais.

Raimundo Colombo não vê a Hercílio Luz com utilidade diferente do seu propósito: ser o que sempre foi entre 1926 e 1982, uma ponte. O governador entende que a completa revitalização do monumento vai servir à mobilidade urbana, de acordo com estudos que são realizados pelo governo do Estado. Pode ser até que seja utilizada no sentido Continente-Ilha pela manhã e no sentido contrário durante a tarde. Será ponto prioritário de passagem do transporte coletivo, mas também terá passeio para pedestres e ciclovia.

MANUTENÇÃO

A ponte deve ser pintada com uma cor clara, para reduzir o desgaste provocado pelo sol. Periodicamente, será lavada com água doce para retirar os vestígios do salitre. E terá pelo menos 15 anos de vida útil imediata, sem necessidade de novas intervenções. A obra atual é realizada apenas no vão central porque os viadutos da ilha e do continente (o vão central é apoiado nos dois viadutos) foram inteiramente recuperados durante o governo de Luiz Henrique da Silveira (2003-2011).

Aos que sempre desconfiam dos valores empregados em sua recuperação, o governo do Estado esclarece que, de 1980 a 2006, a ponte custou R$ 190 milhões aos cofres públicos, valor investido em manutenção preventiva e corretiva para restauração do monumento. Até o fim, quando a ponte estiver pronta, serão mais R$ 274 milhões, dos quais R$ 60 milhões já foram pagos à empreiteira Teixeira Duarte, responsável pela última etapa.

VISITA GUIADA

É impossível descrever a sensação de mais uma vez caminhar sobre a ponte, desta feita até quase a parte continental. Apreciar a cidade lá do alto, acompanhar o trabalho artesanal dos operários, constatar que grande parte dos serviços já está pronta, são prazeres que animam os engenheiros, os jornalistas, as autoridades, qualquer visitante. Nunca, em 35 anos de interdição, a ponte esteve tão perto de voltar à sua função original. Pela primeira vez, a gente percebe que o serviço anda, que não há obstáculos – nem financeiros, já que os valores provêm de verba carimbada – para vencer o grande desafio. O governador Raimundo Colombo, ainda que sempre modesto em suas palavras, sabe que vai entrar para a história por ter reabilitado o monumento que é o principal símbolo de Santa Catarina, reconhecido em qualquer lugar do mundo. E talvez por isso ele tenha participado da vistoria desta terça-feira com um largo sorriso no rosto, orgulhoso em ver que os trabalhos ganharam aquele ritmo de reta final, de dever cumprido.