E o aterro da Baía Sul? 

E o aterro da Baía Sul? 

(Por Sergio da Costa Ramos, Diário Catarinense, 05/01/2017)

Sucedem-se os prefeitos e o aterro da Baía Sul continua sendo uma terra de ninguém. Projetos apresentados – o entorno do mercado com passarela subterrânea rumo ao Ticen, entre outros – nunca saem do papel. Saem camelódromo e Direto do Campo, e o que os sucede? Nada. Apenas um vazio usado por drogados.

Garajão de ônibus, botecos e puxadinhos improvisados, qualquer corpo estranho prospera no espaço órfão de planejamento, onde reina, imprestável, a subestação da Casan apelidada de “Chernobyl do Cocô”.

O Ipuf, cabeça pensante atrofiada e esvaziada no perpassar de várias administrações, tem um projeto de humanização da área, com a intenção de devolver ao menos parte do acrescido ao convívio humano. Falida para investimentos, a Prefeitura deixa pra lá…

As cidades turísticas capricham na organização de seus centros urbanos. Às margens das águas cristalinas do rio Neva, no estuário do Báltico, os russos se orgulham de São Petersburgo e de seus monumentos, como a Catedral de Santo Isaac e o Hermitage, o mais belo museu do Mundo.

À beira do Tâmisa, ergue-se a gótica e milenar Torre de Londres, onde Henrique 8º fez decapitar Ana Bolena, para esconder o seu próprio alpinismo sexual.

À beira do Sena, deita-se uma antiga estação de trem, transformada no belo Museu D¿Orsay, casa e albergue dos gênios do Impressionismo.

Aqui, às margens da Baía Sul, ergue-se aquele liquidificador de m***, bem ali, ao lado do que deveria ser um jardim de Burle Marx.

Trata-se da admirável Chernobyl cujo “chorume” faz lembrar o aroma emanado dos antigos “pés de loiça” do Colégio Catarinense, porcelana sobre a qual os rapazes depositavam seu produto em estado bruto e não-processado.

Ali, à beira-baía, com vista parta o Cambirela, só nos resta rogar ao São Vento Sul que use o seu eólio látego para depurar a atmosfera do local, como aliás, tem feito com proverbial regularidade desde o século 19.

***

Na falta de qualquer estrutura de saneamento, é o vento sul o principal spray que depura aquele ambiente, espécie de aerosol mitigando a catinga que, outrora, se desprendia dos barris de carvalho, penicos ambulantes da classe abastada, transportados por escravos.

Quando é que algum prefeito vai redesenhar o Aterro da Baía Sul, racionalizando os seus atuais monstrengos?