Florianopolitanos querem conselho de saneamento deliberativo

Florianopolitanos querem conselho de saneamento deliberativo

Os moradores de Florianópolis que participaram da audiência pública da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa, realizada na noite dessa segunda-feira (29) no Centro de Eventos de Canasvieiras, reivindicaram mudanças no Conselho Municipal de Saneamento Básico, transformando-o em deliberativo e com 80% dos membros oriundos da sociedade civil. Atualmente o conselho é consultivo e com participação paritária, sendo 18 representantes do poder público e nove da comunidade organizada.

Além disso, os cidadãos propuseram que um órgão independente faça a análise diária da entrada e saída de efluentes das estações de tratamento e cobraram da prefeitura o mapeamento e a ampliação da drenagem pluvial. Também pediram a divulgação do contrato de gestão entre o município e a Casan e das respectivas metas de tratamento de esgoto.

Ainda reivindicaram a regulamentação do uso de estações de tratamento individuais ou coletivas e transparência na discussão dos projetos de tratamento e destino dos efluentes. “Chega de prato feito, de dizer que se não aprovarmos a cidade perderá recursos”, declarou Milton Weber Filho, representante do Conselho de Desenvolvimento do Norte da Ilha (Codeni), que cobrou da Casan e da prefeitura menos explicações e mais ação. “Não queremos tantas explicações técnicas, mas resolver os problemas. Estamos cansados de discussões, reuniões, queremos resolução e prazos curtos para o saneamento”, disparou o empresário.

O representante da Casan, engenheiro Lucas Arruda, afirmou que a empresa planeja investir em Florianópolis R$ 300 milhões até 2018, ampliando dos atuais 55% para cerca de 70% a cobertura de rede coletora na capital. O engenheiro anunciou obras nos Ingleses, Santinho, Canasvieiras, Saco Grande, Monte Verde, João Paulo, Rio Vermelho, Campeche e Rio Tavares. “Na região continental teremos 98% de rede coletora”, anunciou o servidor da Casan.

Lucas Arruda reconheceu dificuldades no licenciamento ambiental da Estação de Tratamento do Rio Tavares, mas afirmou que o projeto prevê tratamento de terceira geração. “A água sairá mais pura que a água que está no rio”, garantiu. A explicação não convenceu os maricultores do Sul da Ilha, que ponderaram que a água doce que será despejada naquela região alterará a salinidade do mar, prejudicando o cultivo de ostras e mariscos.

O representante da Casan criticou a prefeitura e lembrou que a rede de drenagem pluvial é uma estrutura diversa da rede coletora e que sua implantação é responsabilidade do município. “Não tem drenagem, não tem cadastro da rede, não tem plano de prevenção, por isso a chuva sobrecarrega o sistema e prejudica a balneabilidade. O dispositivo extravasor é para dar segurança, ele está previsto em norma, não é sacanagem”, explicou Lucas Arruda.

O engenheiro da Casan pediu a colaboração da comunidade. “Muita gente está ligado de maneira errada, há muitas ligações irregulares, é preciso se ligar corretamente”, argumentou Lucas Arruda. O engenheiro informou que a Caixa Econômica Federal (CEF) dispõe de linha de crédito para financiar a ligação das residências e dos estabelecimentos comerciais à rede coletora de esgoto.
Cobrado pela plateia, o secretário municipal de Saneamento, Carlos Alberto Riederer, afirmou que a fiscalização da rede de esgoto é complicada.

“A única forma de fiscalizar é através de equipamento robótico com câmeras”, justificou o secretário.

Clima tenso

O clima durante as mais de quatro horas de audiência pública foi tenso. Agressões verbais, cobranças veementes e o desrespeito generalizado pelos políticos. “Isso parece um conluio de entidades, amarram, explicam e não fazem nada. Há 15 anos não fazem coisa alguma e agora nós somos os culpados, o que a Casan fez com todo dinheiro que arrecadou”, questionou Roberto Schwartz, do movimento SOS Canasvieiras.
Luiz Cesar Costa, da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF-Canasvieiras), ironizou o investimento de R$ 300 milhões até 2018. “Em 2011 anunciaram investimentos de R$ 450 milhões”, pontuou. Henrique Santana, engenheiro sanitarista, não acreditou nas metas da Casan “Fiquei surpreso com o 70% de rede coletora, são apenas três anos, obras de infraestrutura não se fazem da noite por dia, eu questiono o dado pela dificuldade de execução”, frisou o sanitarista.

João Batista Simões Neto, técnico da Vigilância Sanitária do município, revelou que coletou e analisou amostras das estações de tratamento de Florianópolis durante dois anos, semanalmente. “Vou dar um dado técnico, a Escherichia Coli é permitida até mil, mas já encontrei 6 bilhões, é uma rotina não estar de acordo. Chega disso tudo, falta vontade, dinheiro sobra, tem muito dinheiro, falta é vergonha mesmo”, desabafou o servidor.

O doutor Fabrício Flores, da UFSC, lamentou a ausência de representantes de Palhoça, São José, Biguaçu e Governador Celso Ramos. “Eles também contribuem com a poluição”. Fabrício minimizou a influência da chuva na balneabilidade das praias. “Fala-se da chuva, mas a chuva é problema de cidade que não tem coleta e tratamento esgoto”, analisou o representante da UFSC, que alertou que o “cocô” de dois terços dos habitantes de Florianópolis acaba no mar. “Puxa a descarga e vai, isso é muito sério”.

Casan sob mira

O deputado João Amin (PP), que propôs e presidiu a audiência pública, questionou a conveniência da concessão de água e esgoto à Casan. “Há diversos casos de má prestação de serviço, não é só o rio do Brás, ou o Riozinho do Campeche, faltam respostas, falta projeto de expansão das redes pluviais. (A situação atual) tem potencial para a irreversibilidade, temos obrigação de perguntar onde erramos”, analisou o parlamentar.
Gean Loureiro (PMDB) creditou à fragilidade da estrutura de drenagem pluvial os problemas de poluição. “Os investimentos da macrodrenagem vão acontecer?”, perguntou Loureiro, que elogiou a iniciativa de realizar a audiência pública. “Para não esquecer os problemas na baixa temporada e para Florianópolis não ser mais manchete negativa”, declarou o deputado.

(Alesc, 01/03/2016)