05 fev Cultura e sensibilidade
Artigo escrito por Salim Miguel – Escritor (DC, 05/02/2009)
Inicio por um mea culpa: muito embora tivesse passado várias vezes por perto, jamais havia entrado no novo prédio da Câmara dos Vereadores, e, ao contrário do expresso na crônica de um amigo meu, fiquei admirado com a extrema simplicidade de tudo o que vi: não havia mármore de Carrara, lustres de cristais da Boêmia, tapetes de Lurçat nem corrimões de ouro maciço.
Éramos trinta colegas de todas as categorias culturais e levávamos um documento colhido às pressas em um sábado e domingo, com mais de duzentas assinaturas, que atestava sermos contra a transformação da Fundação Franklin Cascaes em subordinada da Secretaria de Turismo.
Queríamos não só entregar o documento como expor nossa posição a todos. A Fundação foi criada por lei, regulamentada, sancionada e é uma referência nacional. Saímos então em busca dos demais vereadores, mas antes de chegar até eles, fomos chamados para conversar com o secretário de Turismo, que nos fez uma longa explanação tentando provar que. ao contrário do que imaginávamos, a Fundação sairia fortalecida. Surpresa: não sabíamos que tipo de fortalecimento podia ser esse, já que um órgão independente, criado por lei, passaria a ser um apêndice de outro órgão. Todos sabem que turismo e esporte, em nosso país, têm mais apelo do que cultura, e se a tal de cultura custa a captar minguados recursos, imagine se esses minguados recursos forem desviados para projetos de turismo. Um diálogo entre surdos se prolongou até o secretário afirmar que conversaria com o prefeito. Mas sabíamos que era tarde demais, a sessão já ia começar. Os nossos argumentos de nada valeram, e o projeto do governo teve 14 votos contra dois.
Agora a decisão está na Justiça, e os que se preocupam e sabem da importância do tripé básico educação, cultura e saúde para um país torcem para que a Justiça tenha a sensibilidade que faltou e falta aos vereadores e ao prefeito de Florianópolis.