20 out Entrevista: “O que está em jogo é uma mudança cultural”, afirma Taniguchi sobre mobilidade urbana
À frente da superintendência da região metropolitana da Grande Florianópolis, o engenheiro Cássio Taniguchi tem entre suas missões a integração das administrações municipais na busca de soluções conjuntas para melhorar a mobilidade urbana. “Aquelas funções públicas comuns a vários municípios têm que ser administradas em comum acordo”, afirma. Nesta entrevista Taniguchi, 73 anos, defende a redução do limite de velocidade nas cidades e fala do desafio de convencer a população de que seria melhor trocar o transporte individual pelo público.
O senhor assumiu em fevereiro com a meta de tocar projetos com base nos resultados de uma pesquisa que fez um raio-x da mobilidade na região. Houve mudanças de rota?
O Plamus (Plano de Mobilidade Urbbana Sustentável), inédito, foi financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para servir de modelo para as regiões metropolitanas. Apresenta muitos dados, como origem e destino, sobe e desce, pontos de congestionamento e de conflito e análise integral das várias opções modais. O plano mostrou claramente que em termos de custo-benefício e avaliação socioeconômica o BRT (transporte rápido por ônibus) é a melhor alternativa para a Grande Florianópolis porque tem o menor custo e o melhor desempenho. Na comparação, o VLT (veículo leve sobre trilhos), que adoro, custa uma fortuna: tem o mesmo desempenho operacional que o BRT com a desvantagem de custar mais e ter tempo de implantação e custos de operação maiores. A principal conclusão é que o BRT atende perfeitamente às necessidades da demanda prevista para o principal eixo, formado pela Via Expressa e pelas pontes.
Como está o processo para implantação desse projeto de BRT?
Inicialmente, fomos atrás de verba. O ministro Kassab (Gilberto Kassab, ministro das Cidades) esteve em Florianópolis e apresentamos a conta de R$ 550 milhões para a primeira fase, que daria para 52 quilômetros de BRT (60% da obra). Obviamente que em Brasília, quando fomos logo em seguida tratar do assunto no ministério, eles não tinham nem ideia de onde tirar esse dinheiro. Isso nos levou a uma outra opção, que seria um modelo de PPP (parceria público privada). Mas descobrimos que a lei de PPP catarinense é muito antiga, antes mesmo da lei federal e das subsequentes alterações. Trabalhamos então na nova lei da PPP e na lei da criação da superintendência, porque ela foi implantada em 2014 e no início deste ano saiu o Estatuto da Metrópole, que define com muita clareza as atribuições de um órgão metropolitano.
O projeto pretende garantir melhor fluxo entre os municípios, especialmente do tráfego do transporte público, mas não é a solução para todos os problemas. Como o senhor avalia isso?
O que está em jogo é uma mudança cultural, que é muito mais difícil. Tem que convencer a população da região metropolitana de que é melhor usar o transporte público do que o transporte individual. Hoje uma pessoa de carro ou moto leva cerca de 40 minutos no trajeto entre São José ou Biguaçu e o centro de Florianópolis. De ônibus, leva o dobro. Por que isso? Porque 60% dos empregos na região metropolitana estão concentrados na região central da Ilha. Esse é o grande nó da questão, por isso tem esse movimento pendular, que leva a um congestionamento muito grande na via expressa e nas pontes.
O senhor acha que as pessoas estão dispostas a deixar o carro na garagem e usar o transporte coletivo?
Claro que não! Se a gente conseguir retirar 12% dos veículos individuais já vai ser um bom ganho. Porque vamos ganhar tempo de viagem do ônibus – 40% mais ou menos – e o pessoal que usa o automóvel também vai ganhar praticamente o mesmo tempo. Com o BRT implantado, vamos facilitar tanto aquele que utiliza o transporte público como aquele que anda de automóvel. Por isso acho que do ponto de vista cultural não vai haver uma comoção tão grande assim.
Quais os problemas comuns que o senhor percebe nas principais cidades catarinenses em termos de mobilidade?
Praticamente todas as cidades, sejam grandes ou pequenas, têm o mesmo problema de mobilidade. As pessoas estão usando automóvel adoidado. O sistema de transporte público, mesmo nas cidades menores, não está funcionando adequadamente.
Alguns especialistas têm defendido a redução do limite de velocidade nas vias urbanas. O senhor concorda?
No mundo inteiro estão reduzindo as velocidades. A cidade de São Paulo reduziu o limite nas marginais e os acidentes diminuíram drasticamente, cerca de 30%. E essa medida permite controlar melhor o fluxo. Ora, se está congestionado lá na frente, porque o motorista tem que colocar 80 km/h para chegar ao congestionamento. Não é verdade? É de uma absoluta irracionalidade. Se reduz a velocidade, reduz o número de acidentes e eles se tornam também menos fatais. Atropelar alguém a 30 km/h ou por 80km/h tem diferença.
Leia na íntegra em Notícias do Dia Online, 19/10/2015