Mau cheiro representa prejuízo perto da orla

Mau cheiro representa prejuízo perto da orla

Nos 12 anos em que trabalha com passeios de barco no canto direito da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, Júnior César Souza vê a placa de água imprópria para banho afixada no local. Todo verão é a mesma preocupação com o esgoto e com a fuga dos turistas.

A mesa em que Souza atende visitantes que querem passear na escuna fica bem em frente à placa da Fatma e ao lado de uma tubulação que despeja líquido na Lagoa.

Para Souza, falta uma ação mais efetiva dos governantes para solucionar o problema.

– A rede de esgoto aqui tem 20 anos. Alguns restaurantes da orla são multados, mas continuam funcionando – indignou-se.

Falta informação para alguns turistas. Em Canasvieiras, no Norte de Florianópolis, dois locais aparecem na lista de pontos impróprios, mas alguns banhistas não sabem exatamente o que os sinais significam.

Nem placas que informam locais próprios para banho são consideradas confiáveis por alguns. Em Ingleses, no Norte da Ilha, em frente à Rua do Siri, a carioca Maria Pianta indignou-se com o que viu.

Morando em Florianópolis há quatro anos, disse não acreditar que um local onde há um cano de esgoto jogando o líquido na água do mar o dia todo possa ser considerado limpo.

A Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), dona da concessão de serviço em 216 municípios e de gestão compartilhada em outros quatro, faz um balanço da situação. Segundo o engenheiro gerente de construção, Fábio Krieger, 12 municípios possuem coleta e tratamento de esgoto no Estado, variando de 2% a 51% de cobertura nas áreas urbanas.

A média de população urbana servida é de 15%, o que coloca o Estado em 17º no Brasil, segundo o engenheiro. Mas, conforme Krieger, a previsão é de que esse percentual seja de 25% em 2010.

PAC investirá em saneamento básico

O aumento será possível por investimentos de R$ 214 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo federal será responsável por 80% do valor, e a Casan por 20%. Numa segunda fase, o PAC pode injetar outros R$ 200 milhões em projetos de saneamento.

De 1998 a 2008, Santa Catarina ficou sem investimentos no setor, segundo o engenheiro. As justificativas, de acordo com ele, são a questão financeira e a falta de visibilidade.

– Esse tipo de obra não traz dividendo político, já que dificilmente é vista – avaliou.

Com relação ao valor das obras, Krieger destaca que a companhia não tem condições de realizá-las somente com recursos próprios. A receita do abastecimento de água também não é suficiente para bancar a coleta e o tratamento. Assim, apenas com o investimento do governo federal a companhia consegue implantar os projetos. A parte do investimento que cabe à Casan é conseguida com a receita do sistema já implantado.

Conforme Krieger, áreas como Canasvieiras e Ingleses, que apresentam pontos com água imprópria, estão cobertas pela coleta de esgoto. Nestes casos, podem existir unidades residenciais não conectadas, despejando o esgoto no mar.

– É do proprietário a obrigação de se conectar. A prefeitura só deve aprovar o projeto prevendo a conexão à rede – completou.

*Colaborou Tatyana Azevedo

Contraponto
O que diz a secretária adjunta de Turismo da Capital, Daniela Secco
Mesmo com 24 dos 63 pontos com águas impróprias para banho em Florianópolis, a secretária adjunta de Turismo, Daniela Secco, destaca que a cidade está melhor que outros destinos turísticos no Brasil. Ela ressaltou que uma pesquisa atribuiu à Capital a melhor média de qualidade dentre 65 municípios turísticos brasileiros.

Entretanto, o aumento de aproximadamente três vezes a população local durante a temporada merece atenção. Daniela acredita que o desafio está em fazer a parceria entre o turismo e a sustentabilidade ambiental:

– Existem pontos que merecem cuidados, mas precisamos mostrar as condições críticas para a sociedade e tentar reverter a situação.

Para a secretária adjunta, a condição de balneabilidade das praias de Florianópolis não prejudica o turismo. Ela avalia que o setor é considerado a “galinha dos ovos de ouro” da Capital, juntamente com o setor de tecnologia. Para ela, preservar o que existe, com investimentos sérios é fundamental para manter a cidade como atrativo internacional futuramente.

(DC, 16/01/2009)