Extrativistas da Costeira do Pirajubaé retiram casqueiro para tentar salvar berbigão da baía sul

Extrativistas da Costeira do Pirajubaé retiram casqueiro para tentar salvar berbigão da baía sul

Praticamente desaparecido do mar no entorno de Florianópolis, o berbigão virou produto de luxo nas novas peixarias da remodelada ala sul do Mercado Público. O pouco que tem é trazido de São Francisco do Sul, a 180 quilômetros, e revendido entre R$ 22 e R$ 25 o quilo descascado. Enquanto isso, catadores da Reserva Extrativista do Pirajubaé que não migraram para outras atividades informais, passam o tempo de olho na maré à espera da vazante para dar sequência à retirada dos cascalhos acumulados na área de extração, entre a foz do rio Tavares e o baixio de Tipitingas, na baía sul.

Um hectare foi dividido em três áreas e demarcado com escoras de eucaliptos sinalizadas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodioversidade), órgão gestor da reserva, e Associação Caminho do Berbigão. Em dias de maré baixa, cinco dos dez extrativistas cadastrados remam até o meio da baía e, com espécie de ancinho adaptado, amontoam conchas abertas e cascalhos que se espalham no baixio.

Depois, o rejeito é transportado para a costa e usado como pavimento do pátio dos ranchos dos catadores, na baía sul. O trabalho tem parceria da organização não-governamental Rare, com sede nos Estados Unidos, que financia projetos de valorização de comunidades pesqueiras tradicionais do litoral brasileiro. “É um trabalho de formiguinha, demorado e cansativo. Mas, esperamos que dê certo”, diz o extrativista e engenheiro de aquicultura Fabrício Gonçalves, 36 anos, presidente da Associação Caminhos do Berbigão, na Costeira do Pirajubaé.

Amostras estão sendo recolhidas e encaminhadas ao laboratório de aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Pesquisadores e extrativistas constataram grande quantidade de pequenas ostras nativas entre o cascalho do berbigão, mas as causas da mortandade e do desaparecimento da espécie ainda são desconhecidas. “Pode ser uma combinação de baixa salinidade da baía por causa do excesso de chuva, temperatura elevada da água, desastre ambiental e excesso de extração”, enumera o chefe da reserva Leôncio Pedrosa Lima, 38, biólogo e analista ambiental do ICMBio.

Sem defeso, pesca é saída contra fome

Mesmo sem resposta para as causas do desaparecimento do berbigão a afloramento de larvas de ostras nativas nos baixios da baía Sul, a previsão de especialistas é de regeneração natural das áreas produtivas em um ano, com suspensão da coleta. “Com a manutenção da atividade, este prazo sobe para três anos, segundo estudos do professor Pezzuto [Paulo Pezzuto, da Universidade do Vale do Itajaí]”, diz o biólogo Leôncio Pedrosa Lima.

Leia na íntegra em Notícias do Dia Online, 24/08/2015