10 jul Mercado aos domingos
(Por Sergio da Costa Ramos, DIÁRIO CATARINENSE, 10/07/2015)
Parece que, finalmente, as portas do Mercado estarão abertas já na primeira semana de agosto, devolvendo à cidade a sua própria alma, há mais de um ano em reforma. Depois do teto retrátil e de vida nova nas duas alas e no vão interno, ficará faltando apenas o bulevar do entorno – projeto que animaria o comércio em passagem de nível subterrânea, servindo aos usuários do Ticen.
Seria ridículo investir no belo casarão amarelo para mantê-lo fechado aos domingos, como parecem cogitar alguns comerciantes nada pragmáticos.
No começo haverá um domingo aberto por mês, como teste. Logo o centro da cidade ganhará nova vida e o dinamismo de outros mercados ao redor do mundo. Seria impensável imaginar mercados como o londrino Covent Garden, o parisiense Les Halles ou o barcelonês La Boqueria melancolicamente fechados aos domingos. É nos fins de semana que eles fervem, festeiros, convidando ao convívio e à celebração.
Respeita-se, claro, o descanso semanal dos empregados, mediante o rodízio e a remuneração em dobro, mas se dispensa o mau humor dos que pretendem fazer de Floripa, aos domingos, a “Antares dos insepultos”. Aquela cidade dos mortos criada por Erico Verissimo no seu antológico Incidente em Antares.
O centro de Floripa precisa renascer e o momento é agora, devolvendo ao ilhéu o domínio do chamado centro histórico, estimulando o lazer, a caminhada, a gastronomia, o pequeno comércio.
É hora de ressuscitar o Centro como área de convívio e lazer, reunindo os ilhéus “a pé”. Há séculos as ruelas do Centro servem ao automóvel, desde os tempos do Ford T. Só que a Floripa daqueles tempos, risonhos e bucólicos até o final dos anos 1960 – população de 98.590 habitantes – já não existe mais. A Grande Florianópolis se aproxima do seu primeiro milhão de almas e requer uma nova dinâmica na sua caótica mobilidade, cada vez mais crítica e conflagrada.
É preciso valorizar o convívio humano, cultivar uma nova mentalidade que pense no humanismo, reinventando o centro histórico. Que os pedestres voltem a habitar nossa fantasmagórica Antares dos fins de semana.
Com o ânimo de quem deseja uma Floripa-viva e não odeia o trabalho.