Reforma da ponte Hercílio Luz fora do cronograma

Reforma da ponte Hercílio Luz fora do cronograma

A reconstrução dos quatro pilares de sustentação da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, foi retomada em abril deste ano, mas já está fora do cronograma. O atraso nos dois primeiros meses de trabalho, segundo o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), deverá ser compensado até outubro, quanto termina o prazo para conclusão desta parte da obra. As estruturas que segurarão o cartão-postal em uma futura restauração fazem parte da etapa chamada Ponte Segura. A obra é de responsabilidade da empresa Empa – da portuguesa Teixeira Duarte. O presidente do Deinfra, Wanderley Dagostini, admite que a obra sofreu um atraso no começo, mas garante o cronograma:

– O prazo é apertado, mas como ele foi feito em emergência, é isso que a lei prevê, não pode ser prorrogado. Tem que ser cumprido.

O contrato entre o governo de SC e a companhia prevê pagamento mediante produtividade (conforme mostram as linhas do gráfico abaixo). O valor total é de R$ 10,3 milhões pela obra com prazo de 180 dias. As parcelas são depositadas mensalmente, contando desde maio, de acordo com o peso de material recebido e estruturado, sobretudo tubos e vigas metálicas e madeira. Cada quilo de material fornecido vale R$ 14,19, e o mesmo peso de material montado nos pilares vale R$ 18,66.

O cronograma inicial previa que a Empa recebesse R$ 425 mil em maio e mais R$ 2,2 milhões em junho, chegando ao acumulado de R$ 2,6 milhões no período. Mas no cálculo real a empresa deve receber até o fim de junho 27% do previsto no período. Tendo como referência a conclusão da estrutura, o previsto representaria cerca de 25% da obra, enquanto que o trabalho real foi de 7%.

De acordo com engenheiros da Empa e do Deinfra, mergulhadores tiveram que trocar parafusos corroídos nos dois maiores pilares. Além disso, em dias de vento forte, os trabalhadores não podem usar as balsas no mar para atuar nas estruturas. E quando chove, os soldadores ficam impedidos de mexer nas vigas e nos tubos metálicos. Segundo um executivo da Empa, o tempo instável prejudicou ao menos 15 dias de trabalho.

Membros da equipe garantem que as camadas finais dos dois pilares estão em estágio avançado e serão encaixadas em julho.

(DC,29/06/2015)


Acerto com americanos ainda está em aberto

A etapa chamada de Ponte Segura é uma fase intermediária para a restauração e uma segurança (física e jurídica) para o patrimônio histórico. Ela foi iniciada em 2012 pelo Consórcio Florianópolis Monumento, liderado pela construtora Espaço Aberto, que alcançou 30% de montagem das estruturas, mas a obra ficou parada por oito meses depois de o governo rescindir contrato com as empresas em agosto de 2014. Os trabalhos foram retomados com a Empa, em abril deste ano.

Mesmo se esta etapa for finalizada a tempo, ainda resta saber se a American Bridge irá ou não apresentar um orçamento para a restauração completa da ponte. Os americanos estão sendo sondados pelo governo catarinense desde fevereiro por terem sido os mesmos a construir a Hercílio Luz na década de 1920. O governador Raimundo Colombo já anunciou que tem uma reserva de R$ 130 milhões, emprestados do BNDES, para o possível contrato. Se o preço da empresa será compatível, também é uma incógnita.

Resposta sairá em agosto

Especialistas da American Bridge fizeram até agora quatro visitas à ponte para análise e tomada de fotografias. Em abril, o vice- presidente da empresa, Michale Cegelis, esteve em Santa Catarina e disse que apresentaria uma proposta dentro de 60 dias. Findo este primeiro prazo (por eles estabelecido), os americanos comunicaram que até agosto darão uma resposta ao governo.

A questão é que a estrutura de sustentação sofre desgaste e, se houver um longo intervalo entre a conclusão e o início da recuperação, os cofres públicos poderão arcar com os custos não só da manutenção da ponte, mas também da conservação de uma estrutura de sustentação em desuso.

(DC, 29/06/2015)


“Acreditamos na recuperação da ponte”

CARLOS ALBERTO KITA XAVIER – Presidente do Crea-SC

Qual a visão que o Crea tem da atual obra emergencial de sustentação da ponte?

O Crea tem a função de fiscalizar o setor. Verificamos que a contratação da empresa cumpriu todos os requisitos. Possui uma equipe técnica fantástica. Estamos acreditando, agora, que as coisas vão acontecer. Os prazos que nos passaram condizem com a realidade da execução, que requer tempo e paciência. Antes de iniciar qualquer trabalho, é preciso um planejamento. A empresa está fazendo todo o dimensionamento desta estrutura provisória e avaliação quanto à eficácia para garantir a segurança do cartão-postal. Saliento também que essa obra pode resolver parte dos problemas de mobilidade em Florianópolis.

O senhor acredita na reforma da estrutura?

O conselho de engenharia acredita que nada é impossível. Acreditamos na recuperação, é emblemática, com um vão fantástico de 339 metros livres, única no mundo. Realmente, é um ícone da engenharia. A Hercílio Luz é uma grande obra que se perdura ao longo dos anos. Claro, foi interditada em 1982 e de lá pra cá nunca se apresentou nenhum projeto convincente de restauração. Só recentemente que os projetos foram feitos e licitados para manutenção. O mais importante é ter um projeto executivo que dirá o que deve ser feito e é isso que eles estão fazendo. Isso não aconteceu no passado, mas não por falta de conhecimento da engenharia catarinense e sim por falta de objetivo. Escutamos em vários setores que a desmontagem da ponte seria a solução, mas não acreditamos nisso.

E qual sua opinião particular sobre isso?

Ela é muito bonita (risos). Seria um desperdício. Fala-se que com o que foi gasto na ponte poderia ter sido construída outra. Mas pelo investimento que já foi feito, acredito que ela deve permanecer como o símbolo do nosso Estado.

E sobre a forma de contratação, dividida em etapas. O que acha disso?

Existiram vários projetos de recuperação da ponte, e este foi o escolhido. Uma empresa catarinense ganhou antes a licitação (referindo-se à Espaço Aberto), infelizmente não conseguiu cumprir. E a estrutura provisória tem uma validade e prazo de vencimento. Lógico que a empresa americana que está analisando o projeto vai levar isso em consideração tendo em vista que ela já está a um bom tempo de sua utilização. A estrutura está num ambiente muito agressivo e os cuidados precisam ser redobrados. A empresa não vai querer colocar seu nome numa coisa que poderia dar errado.

(DC,26/06/2015)