18 maio Floripa não é Antares
(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 18/05/2015)
Espera-se que o novo Mercado Público dê vida nova ao centro da cidade, transformado num deserto ou, pior, numa “Antares” de Erico Verissimo, um centro de almas penadas na cidade-fantasma que se habituou a fechar o comércio nos fins de semana. Seria ridículo investir no belo casarão amarelo para mantê-lo fechado aos sábados e domingos, como parecem cogitar alguns comerciantes nada pragmáticos.
Impensável ver mercados como o londrino Covent Garden, o parisiense Les Halles ou o barcelonês La Boqueria melancolicamente fechados aos domingos. É nos finais de semana que eles fervem, festeiros, convidando ao convívio e à celebração. Aliás, o próprio edital de licitação da nova era do Mercado já deveria ter proposto: os novos inquilinos serão convidados a manter a cidade “viva”, aos sábados e domingos.
Respeita-se, claro, o descanso semanal dos empregados, mediante o rodízio na jornada de trabalho e a indispensável remuneração em dobro, mas dispensa-se o mau humor dos que pretendem fazer do domingo a “Antares dos insepultos”.
O centro de Floripa precisa renascer e o momento é “agora”, devolvendo ao ilhéu o domínio do chamado centro histórico, estimulando o lazer, a caminhada, a gastronomia, o pequeno comércio.
É hora de ressuscitar o centro como área de convívio e lazer, reunindo os ilhéus “a pé”. Há séculos as ruelas do Centro servem ao automóvel, desde os tempos do Ford T. Só que a Floripa daqueles tempos, risonhos e bucólicos até o final dos anos 1960 – população de 98.590 habitantes –, já não existe mais. A Grande Florianópolis se aproxima do seu primeiro milhão de almas e requer uma nova dinâmica na sua caótica mobilidade, cada vez mais crítica e conflagrada.
Uma nova velocidade será necessária no planejamento e na execução de obras públicas que favoreçam a complementaridade dos modais, o rodoviário e o marítimo. Um viaduto de 200 metros não poderá mais levar dois anos para ficar pronto. Uma via expressa terá que ser concluída ao mesmo tempo que – já não vamos falar da China ou dos EUA – um país como Portugal imprime às obras da nova Lisboa.
E que uma nova mentalidade pense no homem e no humanismo, reinventando o centro histórico. Que os pedestres voltem a habitar nossa Antares dos fins de semana.
Com o ânimo de quem ama Floripa, e não com o ranço de quem odeia o trabalho.