30 abr Rio Tavares e topônimos
(Por Nereu do Vale Pereira* , DC, 30/04/2015)
Tenho lido e escutado muitas referências erradas com relação ao elevado do Rio Tavares, em Florianópolis. O trevo no qual está sendo projetado um elevado não se denomina Rio Tavares, mas Porto do Rio Tavares. Observem que a escola que ali se encontra se denomina Escola Básica Porto do Rio Tavares.
A localidade do Rio Tavares foi historicamente organizada em cinco segmentos. Quem entra através do elevado encontra a primeira comunidade, a da Seta. Logo a seguir há a Cachoeira do Rio Tavares por possuir uma queda-d’água onde a Casan mantém um reservatório que foi construído em 1921 e vai até ao encontro da segunda ponte sobre o rio Tavares – esta ponte foi construída por volta de 1960. Antes, a travessia da localidade, composta por uma larga lagoa, era feita por balsas – daí o topônimo.
Depois vem o Porto do Rio Tavares, a seguir para quem dobra à direta e após a Escola do Porto do Rio Tavares. A partir da igreja local, a denominação passa a ser Fazenda do Rio Tavares, onde se localizam o Tirio e a UPA. O quinto e último segmento para quem segue à Lagoa, à esquerda, é a sede do Rio Tavares, a qual segue até o Canto da Lagoa e ao Porto da Lagoa – todas as localidades que eram alcançadas por meio de balsas ou embarcações sempre foram denominadas de porto. São denominações antigas e necessitam respeito por todos os neófitos ou pouco letrados na história e geografia.
O caminho inicial para chegar até a Lagoa da Conceição, trilha que os açorianos chegados em 1749 organizaram, era pelo lado sul e não pelo morro do Padre Doutor, como é hoje. Foram os açorianos que criaram tais localidades denominadas de porto e, além de organizarem a Freguesia da Lagoa da Conceição (aliás o nome primitivo foi Nossa Senhora da Conceição da Lagoa Grande), foram criando e nominando outras, como São Sebastião do Campeche e Rio Tavares – subdividida entre os nomes acima enunciados.
Assim, o elevado não vai ser construído no Rio Tavares, mas no trevo do Porto do Rio Tavares. Precisamos ser fiéis à geografia e à história de nossa Ilha e esperar que nossos dirigentes conheçam melhor nossa realidade nossa geopolítica.
*Pesquisador da etnografia da Ilha de Santa Catarina / Florianópolis