20 abr Entrevista com Raimundo Colombo: “Nunca vivi ou vi uma crise tão grave”
O cenário nacional que se desenha preocupa o governador Raimundo Colombo. Em 30 anos de vida pública, afirma não ter vivido uma situação parecida com a atual. Para piorar, alega haver uma crise de credibilidade da classe política que dificulta os avanços. Como agravante, Colombo ainda enfrenta dificuldades para fazer uma reforma administrativa no governo. Os obstáculos, descreve, são de ordem política. Nesta entrevista exclusiva, o governador fala sobre a atual crise brasileira e o que pensa sobre o futuro do trabalho da presidente Dilma Rousseff, a quem apoiou nas últimas eleições. Leia abaixo:
Por que a reforma administrativa atrasou tanto?
As dificuldades são de ordem política. Há uma incompreensão da classe política em fazer os enfrentamentos. Percebi que não adianta jogar a bomba para dentro da Assembleia. Lá no Congresso Nacional estamos vendo: estão até voltando atrás em avanços que precisam ser feitos. Estamos assim, num caminho mais difícil e mais demorado, conversando com as pessoas envolvidas. Procuramos explicar que não se trata de reforma do governo e nem de ajuste das contas do governo que, graças a Deus, estão controladas. Queremos fazer uma reforma para salvar o Estado, para prevenir gerações. Vamos reunir servidores públicos e setores do governo para mostrar as medidas que precisam ser adotadas e pedir a colaboração. Aí mandar para a Assembleia as propostas mais ou menos harmonizadas e avançar. No caso dos professores houve equívoco, em nosso entender. Mandamos agora a compactação da Agesc e Agesan, reduzindo 47 cargos, sem prejudicar o processo operacional. Mesmo assim há resistências. O problema é sempre político. Decidimos fatiar e fazer depois que as coisas amadureçam.
O próximo projeto é extinguir 500 cargos, alterações nas Secretarias Regionais ou a previdência pública?
A previdência vai ser a mais demorada. Temos que conversar com todo mundo, explicar as necessidades e pedir a colaboração. Como disse, nada disso vai ter benefício nos três próximos anos. É questão de visão estratégica. A ideia é modernizar, simplificar e reduzir custos do governo.
A mobilização do PSD no Estado tem o seu aval? Dizem que a estratégia visa 2018.
O movimento, pelo que sei, tem o objetivo de levar as ações do governo. Estamos realizando hoje o maior volume de obras de que se tem notícia em Santa Catarina em muitos anos, mas não há a devida compreensão. Combinamos que os líderes vão levar as informações à população. Santa Catarina vive um bom momento, mas o ambiente negativo nacional não é bom. Queremos evitar diminuição na atividade econômica, na geração de empregos. Na minha visão não tem nada de político ou eleitoral. Isto fica para depois. Seria um erro antecipar qualquer processo eleitoral. O governo tem três meses apenas. Seria um desrespeito para com a sociedade.
O senhor já viveu uma crise como a atual?
Não, nunca vi na minha vida. É a mais grave que já vivi. Estou no processo político há mais de 30 anos e nunca vi uma crise tão grave. Pior, porque junto há uma crise de representatividade e credibilidade da classe política. As pessoas não confiam. Como não confiam, não ajudam. Você não consegue avançar. É tudo difícil.
O senhor vê saídas?
Estou muito temeroso. Há a necessidade de lideranças para fazer esta transição. Do contrário, vai haver uma ruptura e a situação vai se agravar.
Corremos risco de ruptura?
Acredito que sim. As mudanças são absolutamente urgentes e necessárias. Quando você tenta fazer não consegue executar. O ajuste fiscal se mantém só na boa vontade do governo. Não se consegue realizar nada. O Congresso Nacional hoje não colabora e isto é uma irresponsabilidade. É claro que o ajuste fiscal impõe sacrifícios a todo mundo, inclusive aos Estados e à arrecadação estadual. Mas não adianta Santa Catarina ir bem e o Brasil ir mal. O desafio é grande, e o momento, extremamente difícil. Há também coisas boas: o povo está nas ruas pedindo mudanças. Isto nunca teve.
O futuro da presidente Dilma: risco de impeachmenet, renúncia ou continuará sangrando?
Não acredito em impeachment. Tenho certeza que não há nenhum envolvimento pessoal dela. Certeza absolutamente disso. Também não acredito em renúncia. Não é característica dela e não há como admitir. Vai entregar pro Michel Temer? Isso não existe. Acredito que possa surgir em algum momento um envolvimento nacional de superação da crise que inclua todo mundo. Todo mundo percebe, contudo, que neste momento não tem saída. Todo mundo pode falar mal de tudo, mas nós gestores temos que mostrar resultados. Temos muitos desafios, mas a economia brasileira está caminhando.
(DC, 18/04/2015)