23 fev Quantos cabem na Ilha?
( Da coluna de Sérgio da Costa Ramos, DC, 22/02/2015)
A Ilha de Santorini, principal estrela do arquipélago das Cíclades, no mar Egeu, emerge das águas cristalinas na forma de anéis que não se fecham.
Constitui a borda de um vulcão submerso, cuja milenar inatividade dá ao homem a certeza de conviver com segurança numa natureza bela e pacificada.
A simples visão da ilha, em duas meias-luas de terra que se projetam acima do mar translúcido – o fundo do mar visível do alto da vila, Théra, a 366 metros de altura –, seduz a retina do turista mais exigente, tudo sob o sol inigualável da Grécia.
Essa ilhota de sonho oferece também alguns exemplos inestimáveis para quem quer organizar o turismo. Em primeiro lugar, parte do pressuposto de que o lugar tem uma capacidade limitada de receber visitantes – e não é do tipo coração de mãe, onde sempre cabe mais alguns milhares.
Com 12 quilômetros de extensão por quatro de largura no seu quadril, a ilha é quatro vezes menor que a de Santa Catarina. Por trás dessa modéstia, esconde tesouros arqueológicos, aquedutos, antigas termas greco-romanas, acrópoles, inscrições rupestres e um riquíssimo artesanato milenar – tudo absolutamente intocado.
A infraestrutura de turismo é tão interessante quanto a sua história. Registrados, existem pouco mais de 30 hotéis. Mas toda casinha branca da ilha é um hotel, todos os moradores alugam cômodos – e assim complementam sua renda.
Num platô do seu topo, aeroporto, bancos, central telefônica, hospitais, restaurantes e pousadas. Ao nível do mar, seis praias, 10 marinas e dois portos – que recebem até seis navios por dia.
No alto da escarpa rochosa, 13 vilas, comércio internacional, centenas de restaurantes típicos, boates e butiques de primeiríssimo mundo.
O trânsito de veículos é limitado, as ruas estão sempre cheias de pedestres. E todos parecem felizes – anfitriões e visitantes. O segredo maior é o manejo do público que entra. Em reconhecimento à capacidade de lotação da ilha.
A partir de determinado número de ancoragens, um transatlântico só é autorizado a lançar ferros se outro levanta a sua âncora – o que exige controle, fiscalização e uma sintonia fina de horários.
Claro que o exemplo de Santorini não se aplicaria a Floripa. Mas o conceito, sim. Conciliar infraestrutura e população flutuante. Afinal, as autoridades precisam saber quantas pessoas cabem na ilha ao mesmo tempo durante a alta temporada.