10 nov Água e Luz: à espera de um verão melhor
CASAN, CELESC E PREFEITURA garantem que tomaram medidas para evitar novo colapso nos sistemas de água e energia da Grande Florianópolis na temporada. No verão passado, cerca de 350 mil pessoas sentiram a falta de água e de luz nos bairros do norte da Ilha.
O verão está prestes a começar e as diretorias da Companhia de Águas e Saneamento (Casan) e a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) comunicaram que não haverá colapso no abastecimento de água e energia, entre 26 de dezembro e 2 de janeiro. Na última temporada, considerada “a pior da história” pelo prefeito Cesar Souza Junior, o norte da Ilha de Santa Catarina somou mais de 350 mil pessoas afetadas pelo desabastecimento de água. Elas ficaram reféns de caminhões-pipa, insuficientes para a alta demanda. Além disso, uma pesquisa da Fecomércio mostra que 15% dos turistas adiantaram a saída de pousadas e hotéis, afetando a economia local.
Um levantamento feito pelo DC com promessas de autoridades na última temporada revela que, das seis principais ações previstas, três foram cumpridas: a entrega do plano emergencial antes da temporada, foram feitas podas na rede elétrica e a colocação de geradores para garantir a energia do sistema de tratamento de água. O andamento dos projetos é criticado pelo presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária – seção Santa Catarina (Abes-SC), Afonso Veiga Filho:
– Há solução para a falta de água: planejamento a longo prazo. Enquanto a gestão desse serviço for política, e não técnica, vai continuar tendo problema de abastecimento. Políticos estão de passagem, então não pensam no futuro.
As concessionárias informam terem investido mais de R$ 50 milhões para evitar o desabastecimento. A Operação Presença Verão 2015 foi lançada no final de outubro com a garantia de melhor atender moradores e 1,5 milhão de turistas – média de visitantes que circulam pela cidade. Mas a população já se prepara para os problemas. Em Canasvieiras, famílias usam os traumas de verões passados para ampliar os próprios reservatórios de água para a alta temporada.
Caminhões-pipa contratados
O prefeito Cesar Souza Junior fala em “voto de confiança” para as concessionárias.
– Casan e Celesc nos apresentaram mudanças nos sistemas de água e luz e precisamos acompanhar como isso vai funcionar na prática – afirma.
A Casan informa que investimentos devem melhorar o serviço, mas a contratação de 10 caminhões-pipa está encaminhada.
– Algumas obras que fizemos durante o ano devem melhorar em 25% a capacidade de abastecimento no norte da Ilha. Também já contratamos o aluguel de 25 geradores – afirma o Carlos Alberto Coutinho, superintendente Regional da Casan.
Os geradores estavam previstos no plano emergencial, mas não foram instalados. Por isso, com as quedas de energia em dezembro, os serviços de tratamento de água e esgoto ficaram deficientes. No caso da energia, além do acréscimo no consumo por causa do aumento da população, a Celesc explica que as altas temperaturas do verão provocam um gasto extra de 40% de energia por unidade. Investimentos de R$ 10,8 milhões nas redes de média e baixa tensão da Grande Florianópolis devem ajudar a evitar sobrecargas no sistema, informou a Celesc em nota.
(Diário Catarinense, 10/11/2014)
Casan acumula multas na Justiça
Por não ter disponibilizado geradores, como estava previsto no plano emergencial do ano passado, a Casan foi sofreu punições. O descumprimento da exigência serviu de justificativa para a Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico de Santa Catarina (Agesan) multar em R$ 300 mil a Casan, em janeiro deste ano. Esta e outras penalidades nunca foram pagas pela concessionária, que recorre de todas na Justiça. Apenas por falhas no tratamento da água, que apresentaram níveis de alumínio e outras substâncias acima do permitido, a concessionária já recebeu cerca de R$ 12 milhões em multas desde 2010.
– Estamos discutindo essas multas na Justiça e acreditamos que vamos vencer. É importante que fique claro que não estamos devendo nada – defende valter José Gallina, presidente da Casan.
Não é apenas o tratamento de água que é alvo de desconfiança. Em 2013, uma ação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) chegou a pedir o bloqueio de R$ 156 milhões da Casan, Agesan, governo do Estado e Prefeitura de Florianópolis por diversas irregularidades no sistema de tratamento de esgoto.
O Ministério Público Federal (MPF) possui outras quatro ações contra a Casan relacionadas ao tratamento de esgoto. Alguns casos, como a ação a respeito da poluição da Lagoa da Conceição, começaram em 2000 e continuam tramitando na Justiça Federal, para execução de acordo. Em nenhum deles houve multa ou qualquer outro tipo de penalização financeira contra a concessionária.
(DC, 10/11/2014)
“É o momento de dar um voto de confiança”
Prefeito de Florianópolis, CESAR SOUZA JUNIOR
O prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Junior, garantiu que todas as exigências feitas à Casan após o colapso de água e energia da temporada passada foram atendidas. Ele não cogita quebrar o contrato de concessão e enfatiza que é o momento de acreditar que a Casan não deixará os mesmos problemas do ano passado se repetirem. Além disso, garantiu que não vai tirar férias no verão e, desta vez, estará aqui para resolver as intempéries, caso ocorram.
Diário Catarinense – A Casan está prometendo um plano emergencial para o verão, da mesma forma como ocorreu no ano passado, quando a concessionária não cumpriu o acordo e houve falha no serviço de abastecimento de Florianópolis. O que leva o senhor a acreditar que este ano será diferente?
Cesar Souza Junior – O que nós fizemos a partir do ano passado foi notificar a Casan, exigindo dela um plano de contingência. Nos reunimos na semana passada na prefeitura e a diretoria da concessionária prestou contas de suas ações. Os principais assuntos foram as obras e os geradores nas estações de bombeamento e tratamento de água. No papel está funcionando bem, então estamos dando um voto de confiança para eles.
DC – Em janeiro deste ano, após o colapso no sistema, o senhor chegou a fazer algumas exigências para a diretoria da Casan. O que foi cumprido?
Cesar – Foi 100% cumprido, incluindo geradores, projetos e a melhoria da capacidade do serviço. A Agesan está conveniada conosco para fazer a averiguação de todos os procedimentos. Paralelo a essas ações, tivemos o programa da prefeitura “Floripa se liga na rede”, em que tivemos mais de 6 mil imóveis fiscalizados com ligação irregular de esgoto, principalmente na Lagoa da Conceição, Canasvieiras e Ingleses. Pelo menos 40% desse número já se regularizaram.
DC – Além de avisos, a prefeitura chegou a multar a Casan em diversas oportunidades. Se ocorrer um novo colapso no sistema, como o do último verão, existe a possibilidade de quebra no contrato de concessão?
Cesar – É o momento de dar um voto de confiança à Casan, substituir um fornecedor de saneamento e de água não é algo fácil. Várias cidades fizeram isso no Estado e não melhoraram. Vamos dar esse voto de confiança, avaliar com a Agesan e a Secretaria Municipal de Saneamento com muito critério a temporada e depois vamos nos manifestar, seja parabenizando ou punindo. Existe um amplo leque de medidas, cuja mais extrema é o rompimento do contrato. Por enquanto, não quero falar por hipóteses. A gente espera que o melhor aconteça, mas se prepara para o pior. Claro que uma nova tragédia como a do ano passado vai nos obrigar a tomar alguma providência.
DC – Moradores e turistas sofreram com quedas de energia entre dezembro de 2013 e janeiro deste ano. A Celesc já informou para a prefeitura quais providências tomou para evitar novas falhas na distribuição de energia?
Cesar – Sim, conversamos com o Cleverson Siewert (presidente da Celesc). A energia não é um serviço regulado pelo município, mas a Celesc também está envolvida na Operação Presença na temporada. Eles nos apresentaram o cronograma de obras e nos tranquilizaram quanto à sequência do serviço. Também estamos dando um voto de confiança para a distribuidora.
DC – Durante o auge do colapso de água e energia, o senhor estava de férias e foi bastante criticado por isso. Vai tirar folga no mesmo período este ano?
Cesar – Não, vou estar aqui. Não tenho data marcada para férias, mas certamente não vai ser mais no verão. Ficou a lição.
(DC, 09/11/2014)
Seis soluções para a temporada – clique para ver documento PDF (arte DC)
Cumprimento do plano emergencial é prioridade
Reforço de equipes de atendimento, geradores, novas adutoras e poda de árvores para evitar acidentes com fiação. Essas são algumas das ações que Casan e Celesc prepararam para a próxima temporada de verão. Com problemas no cumprimento do plano emergencial do ano passado, a concessionária do serviço de tratamento e abastecimento de água já anunciou um gasto de R$ 5,7 milhões com a locação de 25 geradores, que ajudarão a água a subir até os locais mais altos da Grande Florianópolis. Além disso, uma nova adutora deve conectar os Sistemas Interligados de Florianópolis (SIF) – que atendem basicamente a região central da Capital e municípios vizinhos – com o Sistema Costa Norte (SCN) –, onde há maior escassez de fontes de água.
– O SIF é atendido pela Cubatão-Pilões, que possui maior capacidade de produção de água. Ao contrário do SCN, que depende de alguns poços para captação de água. Com essa adutora, o norte deve ganhar uma vazão extra de 60 litros por segundo – afirma o diretor de Regulação e Fiscalização da Agesan, Silvio dos Santos Rosa.
Ele diz que a Casan informou que essa, juntamente com outras medidas, deve melhorar em 25% a capacidade de produção no norte.
(DC, 09/11,2014)
“Vamos dar mais tranquilidade à população”
CLEVERSON SIEWERT, Presidente da Celesc
Para o presidente da Celesc, Cleverson Siewert, o tempo e a fiação aérea são dois dos principais rivais do abastecimento de energia elétrica em Florianópolis.
DC – No verão passado, após os casos de queda de energia, a Celesc informou que iria avaliar quais os problemas que provocaram a falta de luz em algumas regiões do Estado. Esse diagnóstico foi feito? Qual foi o resultado?
Cleverson Siewert – Fizemos uma análise bastante criteriosa de tudo o que ocorreu no nosso sistema. Um dos principais problemas que temos é a exposição da fiação, o que a deixa suscetível a problemas como abalroamento por carro ou então intempéries do tempo. Por exemplo, no verão, a incidência de chuvas é 35% maior do que em outras épocas do ano. Isso também influência, pois um raio ou um galho de árvore pode atingir a fiação. Apesar das quedas que ocorreram na última temporada, apresentamos uma evolução percentual na DEC (Duração equivalente por unidade consumidora), que é uma forma de medir o número de interrupções de energia.
DC – Quais medidas a Celesc tomou para evitar novos problemas no final do ano?
Siewert – Do call center até o número de técnicos, todas as equipes foram reforçadas para a temporada. Este ano contratamos 220 novos eletricistas, o que deve agilizar a solução de possíveis acidentes na rede. Além disso, temos investimentos de R$ 70 milhões na construção de novas subestações. Com manutenção e reestruturação do sistema de baixa e média tensão, além de poda e roçada para evitar que a vegetação prejudique a distribuição, investimos R$ 120 milhões no Estado, sendo R$ 10,8 milhões apenas para a Capital.
DC – É possível garantir que não vai faltar energia no verão?
Siewert – Faltar energia é óbvio que pode acontecer. Enquanto nosso sistema for aéreo, qualquer distribuidora está suscetível a sofrer com isso. A única solução seria transforma todo o sistema de fiação em subterrâneo, mas a Celesc teria que gastar R$ 60 bilhões para fazer isso em todo o Estado. É inviável financeiramente. Tanto pode faltar energia que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estipula um limite máximo de interrupções para cada distribuidora, mas nós sempre ficamos abaixo dessa meta. A agência é muito rígida e diminui esse limite todos os anos. Na década de 90, o nosso DEC era o dobro do atual. Então não podemos garantir 100% que não haverá falta de energia, mas todos os anos buscamos mitigar a possibilidade disso acontecer.
DC – Há déficit de geração de energia no Estado?
Siewert –Não temos problemas em alta tensão. Para você ter uma ideia, nossa capacidade transformadora é de 6.500 MW (megawatts), mas o auge do consumo durante o último verão foi de 4.700 MW. Além disso, nossa produção energética hoje chega a 6% da nacional, sendo que consumimos apenas 5%. Então existe um equilíbrio no sistema.
(DC, 09/11,2014)