03 out Criatividade lucrativa
No curso de Cinema da Unisul um grupo discutia constantemente ideias de filmes. Das reuniões informais nasceu um projeto e, em 2010, Cíntia Domit Bittar decidiu abrir uma produtora em Florianópolis. Depois de dois dias, tinha a sala para abrigar o projeto. Nascia, de forma veloz, a Novelo Filmes, que no ano seguinte ganhou o reforço de mais cinco sócios.
A produtora vende algo inesgotável e intangível: ideias e talento. Essa é a base da economia criativa, tema em ebulição, mas que ainda encontra barreiras para se desenvolver. Carlos Eduardo Somaggio, coordenador do Catarina Criativa – programa de fomento a novas empresas – afirma que são três gargalos para o desenvolvimento do setor no Estado: falta de estrutura e políticas públicas; concepção de produtos não orientados a necessidades dos clientes e falta de acesso ao mercado. Para ultrapassar esses obstáculos, o programa, criado em 2013, irá lançar o Lab Catarina Criativa em novembro. O projeto irá auxiliar os criativos a desenvolverem produtos e apresentá-los a clientes.
O diretor-executivo do Sapiens Parque, José Eduardo Fiates, afirma que a economia criativa em Santa Catarina é impulsionada pelo setor de games, audiovisual e design, principalmente de moda – a meta é consolidar SC como o terceiro polo do país em 10 anos.
“É preciso inverter o binóculo”
Entrevista com LALA DEHEINZELIN, especialista em economia criativa
Lala Deheinzelin é taxativa ao defender que não há futuro sem a economia criativa. A pioneira do tema no Brasil afirma que ela é necessária para garantir a sustentabilidade do planeta e para tornar um negócio bem-sucedido. A palestrante internacional está em Florianópolis para ministrar um workshop:
DC — O que é economia criativa?
Lala Deheinzelin — Economia criativa é toda riqueza que você pode gerar a partir de recursos intangíveis. E tem um campo de aplicação muito maior do que os setores criativos propriamente ditos. Isso é uma tendência de futuro. Não adianta mais só fazer algo, tem que fazer algo com algum propósito, que esteja ligado ao cuidar, à sustentabilidade e tem que ser querido pelas pessoas. E para ser querido pelas pessoas, ele tem um diferencial, que é intangível.
DC — O Brasil tem conseguido acompanhar essa mudança?
Lala — Não tem. Falta articulação, porque o tipo de modelo que a gente tem não permite ação conjunta. E a economia criativa é um ecossistema. Florianópolis e Santa Catarina estão avançando, já que o ecossistema é muito ativado pelo parque tecnológico na cidade. A tecnologia é o grande elemento que ativa a economia criativa.
DC — Como trazer o conceito da economia criativa para nossa vida?
Lala — Primeira coisa, saiba que o futuro está muito mais nos negócios a partir dos intangíveis — a partir de sua experiência, seus sonhos. A solução no futuro será empreender a partir daquilo que você tem de único. Então o grande tesouro da economia criativa é a diversidade cultural. Economia criativa é a chave para qualquer tipo de empreendimento. É preciso inverter o binóculo, para prestar atenção naquilo que eu sou, o que eu gosto, no que eu acredito e com quais pessoas quero colaborar.
DC — Então é praticamente uma questão de sobrevivência?
Lala — Exatamente. A economia criativa é a maneira de garantir a sustentabilidade do planeta, sobretudo associada à tecnologia. Isso vai ter de acontecer, porque será impossível continuar gerando riqueza a partir de extração e consumo de tangíveis.
(DC, 03/10/2014)