Árvores e humanos: uma forte relação

Árvores e humanos: uma forte relação

Artigo escrito por João Carlos de Mole Jr., Professor de botânica do departamento de ciências biológicas da Univille (A Notícia, 21/09/2008)

Exuberantes e vigorosas, as árvores têm mostrado, ao longo do processo de evolução da sociedade, sua fundamental importância para a promoção da qualidade de vida do ser humano e para a manutenção da vida no planeta. Historicamente, as árvores estão ligadas ao desenvolvimento cultural e socioeconômico de vários povos e nações tão distintas quanto as plantas por elas manipuladas.

No Brasil colonial, a mais antiga e importante relação é com o próprio nome do País, que originou-se da árvore da família Leguminosae – Caesalpinia echinata, denominada por etnias indígenas tupis por ibirapitanga (pau-vermelho) e pelos colonizadores portugueses como pau-brasil, por causa de sua semelhança com uma espécie oriental, o que marcou um dos primeiros ciclos econômicos da então colônia de Portugal.

Nomes de árvores nativas também são utilizados há muito tempo para designar cidades, bairros, praças e ruas, em decorrência da grande importância desses vegetais para as populações locais, tanto por sua freqüência em determinadas regiões quanto por seu valor como elemento referencial da paisagem. A exemplo, podem ser citadas as cidades de Imbuia (SC), Massaranduba (SC), Guaraná (SP), Angicos (PE), Castanhal (PA), Juazeiro (BA), Butiá (RS) e Curitiba (PR).

Do ponto de vista tecnológico, a árvore, fornecedora da madeira como matéria-prima detentora de diferentes propriedades mecânicas, contribuiu de forma decisiva para atender a incontáveis necessidades humanas, como a construção de moradias, maquinários agrícolas, utensílios domésticos, instrumentos musicais, brinquedos, combustível e também arte sacra.

Além das relações já expostas, podemos destacar relevantes contribuições das árvores como elemento potencializador da qualidade ambiental. Fragmentos florestais urbanos e árvores isoladas empregadas na arborização de ruas e praças públicas compõem um cenário paisagístico peculiar ligado, em primeira instância, à minimização dos impactos ambientais resultantes do próprio processo de expansão territorial e do crescimento urbano e populacional.

Neste sentido, é possível afirmar que o pensamento ecológico moderno serviu como base para sensibilizar a sociedade sobre o papel das árvores além do aspecto decorativo e estético. Logo, a presença da vegetação é fundamental na vida urbana, funcionando como referência fisionômica, amenização climática (controle da temperatura e do ciclo hidrológico e auxílio na ventilação), combate à degradação ambiental (controle da poluição atmosférica via fixação do carbono – um dos gases que causam o efeito estufa, redução de ruídos e combate à erosão dos solos) e manutenção de espécies animais pela oferta de abrigo e alimento.

Ao final dessa pequena história do diálogo estabelecido entre árvores e seres humanos, cabe enfatizar que a participação comunitária no processo de arborização urbana e preservação das áreas verdes localizadas nas cidades constitui uma ação de exercício da cidadania e, sem dúvida alguma, um passo importante para a consolidação da educação ambiental e a construção de uma sociedade harmoniosa composta por atores sociais comprometidos com a gestão participativa da qualidade ambiental e humana.

Frase

“Neutralizamos as emissões de carbono feitas com o filme Linha de Passe. Fizemos o cálculo: foram 118 mil toneladas de carbono. Para compensar, foram plantadas 7,5 mil árvores nativas.”
WALTER SALLES, diretor de cinema

“As árvores parecem corpos. São seres vivos que acabaram de morrer. Tenho vontade de pedir desculpas. É minha espécie que está fazendo isso com a Amazônia.”
RODRIGO BALEIA, fotógrafo que faz documentário sobre desmatamento