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A produção durante todo o ano de alface e tomate já é possível na Comunidade de Uruçu, em São João do Cariri, na Paraíba, mesmo com as condições adversas do clima seco, típico da região nordestina. Por meio do projeto “Água: fonte de alimento e renda – uma alternativa sustentável para o semi-árido”, lançado há um ano, cerca de 80 famílias são beneficiadas e comemoram os primeiros resultados.
Após ter acesso pela primeira vez à água potável com a instalação de um dessalinizador, a comunidade agora se dedica à hidroponia – sistema de cultivo dentro de estufas no qual o solo é substituído por uma solução de água com nutrientes. O próximo passo será comercializar a produção, que só de alface chega a aproximadamente 6 mil pés mensais, além de 230 kg de tomate.
As famílias terão ainda outra alternativa de renda com a comercialização de tilápias, cuja produção atual chega a 5 mil peixes, e de spirulina, microalga que o Brasil atualmente importa. Utilizada principalmente para a produção de fitofármacos, a spirulina seca contém de 55 a 70% de proteínas, aproximadamente duas vezes mais do que a soja e três vezes mais do que a carne bovina, com a vantagem de ser altamente digerível.
O projeto, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental (edição 2006), é fruto de uma parceria entre a Fundação CERTI, de Florianópolis (SC), com o Laboratório de Referência em Dessalinização da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e os Laboratórios de Biotecnologia Alimentar e de Hidroponia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
De acordo com o coordenador do sistema de dessalinização do projeto, Kepler França, a iniciativa tem como objetivo levar água potável a comunidades do semi-árido por meio da instalação de um dessalinizador, tendo como diferencial o aproveitamento do concentrado (rejeito) resultante do processo de filtragem da água para o cultivo de microalgas, hidroponia e criação de peixes.
“Com a dessalinização, as águas subterrâneas dessas regiões, com altos índices de sais, tornam-se próprias para o consumo. Ao invés do concentrado resultante da dessalinização ser devolvido ao solo causando impactos ambientais, ele é utilizado para atividades que gerem renda para a comunidade, como a hidroponia”, explica.
A expectativa é de que até o final do ano as famílias de Uruçu, que participam do projeto, tenham mais uma alternativa de renda com a venda dos produtos cultivados por hidropônia, das tilápias e da spirulina. Segundo a diretora executiva do Centro de Referência em Ambientes de Inovação da CERTI e coordenadora técnica do projeto, Maria Angélica Jung Marques, com a venda da produção mensal de alfaces e tomate espera-se um retorno de R$ 13 mil só com a hidroponia.
Já a unidade produtiva de tilápias, cujo ciclo se dá a cada seis meses, deve gerar cerca de R$ 52.000 por ano, gerando uma receita média mensal de aproximadamente R$ 4.300 à comunidade. Com uma produção mensal de 450 kg a previsão é de que o faturamento por mês da spirulina chegue a R$ 18.000.
“Além da comercialização, próxima etapa do projeto, os produtos podem ser consumidos pelas famílias, que não encontram esses alimentos facilmente. Temos uma produção para atender supermercados e outros estabelecimentos, já que os produtos são diferenciados para as características da região, onde não existe produção hidropônica e nem orgânica”, diz o coordenador da unidade de hidroponia do projeto, Professor Jorge Barcelos.
Benefícios da hidroponia – Uma plantação hidropônica apresenta vantagens em relação à agricultura tradicional, com um produto mais balanceado em termos de nutrientes, sem uso de agrotóxico. Este sistema de cultivo não sofre interferências climáticas já que os produtos ficam numa estufa em calhas com água. Por meio desse processo de produção, a alface e outras plantas ficam mais viçosas permitindo o aproveitamento de todas as folhas.
Também na produção hidropônica, reduz-se a incidência de doenças sobre as plantas, pois elas não entram em contato com a terra o que evita doenças e contaminação com outros organismos existentes no solo. O engenheiro agrônomo do projeto, Rogério Coelho, explica que essas vantagens fazem com que esses produtos sejam mais valorizados pelo consumidor final, que se dispõe a pagar por um produto de saudável e de maior qualidade. A alface hidropônica, por exemplo, dura mais de uma semana enquanto o produzido de forma tradicional dura dois dias em média.
Sistema operacionalizado pela própria comunidade – Antes da instalação do dessalinizador, uma das primeiras etapas do projeto, as famílias de Uruçu, em São do Cariri, não tinham acesso à água potável. O que tinham era coletado por meio de cisternas quando chovia. Agora a comunidade tem acesso a 5 mil litros de água por mês.
“Essa quantidade aumenta à medida que se consegue aumentar o cultivo de produtos. O dessalinizador tem capacidade para filtrar 5 mil litros por hora”, afirma a coordenadora técnica do projeto, Maria Angélica Jung Marques. Ela completa que a além de dar continuidade ao processo de produção e comercialização, as próximas metas estão voltadas a preparar a comunidade para gerenciar esta iniciativa e comercializar seus produtos, assumindo integralmente o processo.
“O projeto prevê um sistema produtivo operacionalizado pela própria comunidade como meio de geração de emprego e renda, garantindo a conservação dos recursos hídricos e induzindo a práticas de gestão ambiental. A solução possibilita o desenvolvimento de um modelo sustentável e replicável para a região, cujos resultados permitem que as comunidades beneficiadas explorem economicamente os produtos e tenham uma melhor qualidade de vida.”
Para o próximo ano a expectativa é disseminar o projeto para outras localidades, uma vez que no semi-árido existem mais de 3 mil dessalinizadores instalados, mas cujo concentrado não é aproveitado, sendo devolvido ao solo, o que prejudica o meio ambiente. Estão envolvidos na execução do projeto “Água: fonte de alimento e renda – uma alternativa sustentável para o semi-árido”, cientistas das duas universidades parceiras, além da Fundação CERTI.
(Agecom, 08/09/2008)