29 maio Florianópolis teve 15 greves de ônibus nos últimos 17 anos
Passava das 19h30 quando a assembleia dos cobradores e motoristas anunciou o fim da greve. O que parecia um alento veio acompanhado de novas ameaças: os ônibus podem voltar a parar na próxima quarta-feira, caso não haja uma definição sobre as 350 demissões de cobradores. A Prefeitura de Florianópolis diz que não vai intermediar as negociações, que deve ser resolvida entre empresas e trabalhadores. No meio das trocas de farpas entre sindicatos, a população se prepara para novos dias de caos.
Desde 1998, em apenas dois anos não houve greve no transporte coletivo de Florianópolis. Com esta de ontem, são 15 greves em 17 anos. Os meses de paralisações são sempre os mesmos, e marcam a data-base de reajuste da categoria. Este ano não é o reajuste salarial, nem o aumento do vale-alimentação, mas sim a demissão de 350 cobradores prevista no SIM (Sistema Integrado Municipal), que motivou a parada.
Secretário de Mobilidade Urbana e responsável pela fiscalização dos serviços, Valmir Piancentini disse que o Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano), ao agir à revelia de patrões, poder público e sociedade, fragiliza as relações entre todos e transforma o transporte coletivo na Capital numa grande incógnita.
Na próxima segunda-feira, todos devem voltar à mesa de negociação, mas por determinação do desembargador Jorge Luiz Volpato, do TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Depois dos prejuízos vivenciados por boa parte da população, a expectativa é uma audiência de conciliação entre Prefeitura, Sintraturb e Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte da Grande Florianópolis).
Já na terça-feira, uma nova assembleia está marcada para as 22h, quando mais uma vez a decisão de greve estará nas mãos do Sintraturb. Ontem, o procurador regional do Trabalho, Alexandre Medeiros da Fontoura Freitas, ajuizou ação requerendo execução da multa de R$ 50 mil, ou penhora de bens do Sintraturb e Setuf, pelo não cumprimento de frota mínima durante as paralisações.
Greve prejudica 200 mil pessoas
No dia em que o transporte coletivo de Florianópolis parou, a cidade andou mais devagar. Durante 24 horas, a rotina da Capital e cidades da região metropolitana sofreu alterações que vão muito além de 546 ônibus parados. Estudantes não foram à escola, pacientes perderam consultas médicas, trabalhadores não chegaram ao serviço, o comércio deixou de vender e milhares perderam horas esperando o transporte alternativo. “O comércio perdeu 80% em termos de venda, 30% dos trabalhadores não chegaram ao trabalho ou se atrasaram, enfim, hoje [ontem] tivemos uma cidade inteira refém de uma categoria”, lamentou Osmar Silveira, diretor de Assuntos Públicos da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas).
“É lamentável que mais uma vez os principais prejudicados foram os trabalhadores, que nada têm a ver com essa briga entre patrão e empregado”, avaliou Valmir Piacentini, secretário de Mobilidade Urbana de Florianópolis. Segundo Piacentini, em torno de 200 mil pessoas na Grande Florianópolis foram diretamente atingidas pela paralisação, e 546 ônibus permaneceram parados nas garagens das empresas. “Tentamos amenizar a situação com as vans, mas a demanda era muito maior”, disse.
Na mesma linha, o advogado Gustavo Villar Guimarães, conselheiro da OAB/SC (Ordem dos Advogados do Brasil) e presidente da Acat (Associação Catarinense dos Advogados Trabalhistas), disse que a paralisação afetou a sociedade como um todo. Além disso, afirmou, vai contra a Lei de Greve 7.783/89. “Ela estabelece que greves em serviços essenciais não podem afetar minimamente a subsistência de atendimento ao público. Eles estão descumprindo a lei e o TRT [Tribunal Regional do Trabalho] precisa observar isso”, afirmou.
Dirigente do Sintraturb diz que greves continuam se demissões forem mantidas
Pivô nas últimas paralisações e na grande greve de ônibus de ontem, Ricardo Freitas, dirigente do Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores do transporte Urbano da Grande Florianópolis), diz que prefeitura e empresas mentem à população.
Qual o motivo da greve dos trabalhadores do transporte coletivo?
Ricardo Freitas – O novo sistema prevê 350 demissões, com uma expectativa de 30 demissões mensais, é contra isso que lutamos.
O prefeito afirma que não haverá demissões, porque deixar a população sem ônibus?
Ricardo Freitas – Este decreto é ilegal, a Prefeitura não tem legitimidade para legislar sobre a contratação de empresas privadas. É um engodo. Vamos perseguir as greves até que haja uma definição.
Mas porque fazer greve em São José, Biguaçu e Palhoça se o novo sistema é da Capital?
Ricardo Freitas – O acordo coletivo da categoria é o mesmo, a classe é uma só, por isso que atingiu todos os municípios.
(Notícias do Dia Online, 29/05/2014)