13 ago Aeroportos sob mau tempo
No ano passado, o Brasil viveu durante meses o pesadelo do caos aéreo, do qual imaginava boa parte dos usuários ter-se livrado desde que o presidente Lula decretou hora exata para o fim daquele suplício. Na verdade, os tormentos ainda se estenderam por um bom período após o ultimato presidencial, um tanto ignorado por aqueles que tinham por missão encontrar solução para os agudos problemas que afligiam o país, mas ao longo deste ano conseguimos, enfim, viver sob certa normalidade no que respeita ao tráfego aeroviário, normalidade que pode estar com os dias contados. A partir de amanhã, o Tribunal de Contas da União (TCU) passará a analisar os relatórios sobre custos, licitações e estágio administrativo das obras nos mais importantes aeroportos do país, tendo como ponto de partida a estimativa, feita por auditorias técnicas, de que o superfaturamento nesses empreendimentos é de no mínimo R$ 3 bilhões. Seja no Brasil ou em qualquer outro país do globo, mesmo na superpotência americana, um rombo no Tesouro de mais de US$ 1,5 bilhão constitui motivo para ampla indignação popular. E o TCU precisa mesmo investigar a fundo a questão, posto que os brasileiros, além de não disporem no momento de um eficiente e confiável sistema de transporte aéreo, ainda estão se vendo na obrigação de arcar, pela via dos impostos escorchantes, com despesas espúrias provocadas por administradores destituídos de competência e de quaisquer escrúpulos para com os recursos públicos.
A própria diretoria da Infraero acredita que as obras poderão ser paralisadas em todo o país, o que será terrível para a aviação brasileira, sem dúvida, mas ainda assim algo menos nocivo do que seria se elas continuassem e, com elas, o desvio de dinheiro. Já em Santa Catarina, por conta da suspensão de duas licitações, estão seriamente ameaçadas as obras de ampliação do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, que já vem operando há bom tempo sob condições críticas. A capacidade do terminal de Florianópolis é de 980 mil passageiros/ano. Em 2007, passaram pelo Hercílio Luz 1,95 milhão de passageiros, e este ano a movimentação deverá chegar a 2,2 milhões. Ou seja, antevemos o caos.
Um país de dimensões continentais como o Brasil, cuja economia insere-se entre as maiores do mundo, e que tem pretensões de desenvolver o turismo e até de promover megaeventos como uma Copa do Mundo em 2014, não pode de modo algum descurar de sua infra-estrutura. A própria realização do Mundial de futebol já está sob ameaça, tamanho o descalabro detectado pelo TCU. Quanto a Santa Catarina, o turismo de alto nível certamente será afetado. O Hercílio Luz é o aeroporto brasileiro com maior número de vôos charters e a previsão para a alta temporada é de que um novo recorde seja batido – 602 vôos já foram solicitados para o verão, 308 charters e 294 regulares. As autoridades responsáveis precisam pois agir com celeridade e determinação, ao menos para encontrar alternativas que evitem aos usuários transtornos e prejuízos semelhantes àqueles que tanto martirizaram os passageiros no ano passado.
(Editorial, DC, 12/08/2008)