08 jan Norte da Ilha precisa de novas ações para evitar falta de água, afirma presidente da Casan
O presidente da Casan, Dalírio Beber, admitiu ontem, em entrevista ao Notícias do Dia, que o Norte da Ilha, região mais afetada pela falta de água nos últimos dias em Florianópolis, precisa de novas ações da estatal. Embora não tenha anunciado as medidas a serem tomadas pela equipe, Beber se deteve a afirmar que a solução está em quatro grandes obras previstas para os próximos cinco anos: ampliação da Estação de Tratamento Morro dos Quadros, em Palhoça, construção de duas adutoras para trazer a água de Palhoça à Ilha e a nova captação de água no rio Tijucas. Juntas, as obras somam R$ 360 milhões.
Apenas as três primeiras saíram do papel e estão em andamento, com prazo de conclusão da Estação Morro dos Quadros até o final deste ano e das adutoras no final de 2015. Sem recursos federais, a Casan precisa viabilizar R$ 300 milhões em empréstimos para executar a obra em cinco anos. Beber fez ainda duras críticas à imprensa e alegou que a falta de água é um problema nacional na alta temporada, originado pela falta de infraestrutura para atender a demanda de turistas. Confira a entrevista:
Já sabendo do aumento de pessoas e de consumo na alta temporada, por que faltou água em Florianópolis?
Faltou por três motivos: grande fluxo de pessoas, a cidade triplicou de habitantes e não há como a mesma estrutura comportar tamanha demanda; calor excessivo, tivemos a maior onda de calor nas últimas duas semanas; e queda de energia, durante três dias, 28, 29 e 30 de dezembro e em períodos longos, o que prejudicou nosso sistema de abastecimento porque deixamos de produzir sete milhões de litros de água neste período. Vale ressaltar que foram casos pontuais no Norte da Ilha, todo o resto da cidade e nos outros 199 municípios do Estado atendidos pela Casan não houve problemas.
Não houve preparo da Casan para atender a demanda de turistas?
Há anos investimos. Dobramos a produção de água no Norte da Ilha de 250 litros por segundo para 500 litros na alta temporada e neste ano nem isso foi suficiente. A quantidade de pessoas em Florianópolis não causou apenas falta de água, gerou congestionamentos, filas nas ruas, nos supermercados, faltaram produtos nas prateleiras dos supermercados, faltou combustível, as BRs do litoral registram filas de mais de 20 quilômetros de Tijucas a Navegantes. E isso não é situação só de Florianópolis, é do país todo, Balneário Camboriú, Laguna, Navegantes, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre também tiveram problemas.
Quais as medidas que a Casan vai adotar para resolver o problema no Norte da Ilha e para que não falte mais água em Florianópolis na temporada de verão?
Neste momento em que conversamos, os técnicos estão reunidos na sede da diretoria para elaborar um relatório e analisar medidas a serem tomadas para este ano. Esse relatório vai apontar o que poderemos fazer até que as grandes obras previstas para o setor sejam concluídas.
Quais são essas grandes obras previstas pela Casan para resolver o problema? E em quantos anos estarão concluídas?
As obras no setor de tratamento de água e saneamento são estruturantes e caras. Giram em torno de sete anos, até projeto, licitação, licenças, busca por recursos e construção. Na região da Grande Florianópolis, são três grandes obras em andamento, orçadas em R$ 60 milhões, que são a ampliação da ETA (Estação de Tratamento de Água) do Morro dos Quadros, em Palhoça, que queremos concluir até o final deste ano, e as duas adutoras que trarão esta água para a Ilha com prazo de conclusão de 24 meses. Com as melhorias na ETA Morro dos Quadros será ampliada a produção e a capacidade de tratamento de água em até 50% passando dos atuais 2.000 para 3.000 litros por segundo. As obras incluem a implantação do equipamento chamado floco decantador, que aumenta também a capacidade de filtragem, garantindo a qualidade e a quantidade e reduzindo a turbidez em períodos de chuvas intensas, como a que aconteceu nos últimos dias. Para trazer a água tratada de lá, implantaremos duas novas adutoras, uma de 1.200 mm que vai do trevo de Forquilinhas até Capoeiras, para reforçar o abastecimento da Região Metropolitana, e outra específica, de 600 mm, para a região do Itacorubi, Pantanal, Córrego Grande, Saco Grande II e Norte da Ilha. Com essas obras nós vamos ter regularidade no abastecimento em Florianópolis, em especial na Ilha, além de mais qualidade da água.
E até lá, o que a Casan fará para garantir água aos florianopolitanos?
Nossos técnicos estão analisando a situação e vão emitir um relatório sobre as ações possíveis no Norte, único lugar que tivemos problemas. Nos últimos anos fizemos muitas ações, construímos poços, temos plano de emergência que resolveram a situação nas outras regiões, porém não temos como controlar a quantidade de pessoas que estará na Ilha na temporada. Foi muita gente, casas com capacidade para sete pessoas com 18 alojadas.
Sem essa estimativa, ainda pode faltar água na Capital?
Eu quero crer que existem medidas que possam ser implementadas na perspectiva de que possamos ter um resultado melhor na operação no Norte da Ilha. Nós temos que ter uma previsão do que vai acontecer em nível de público para dimensionar a infraestrutura de água. Gostaríamos que não faltasse água, não estamos confortáveis com a situação. Para nós o que importa é o que não deu certo, porque o que deu está no contingente da nossa obrigação. Não estamos comemorando o resultado positivo no Sul da Ilha, na Costa Leste, em todos os municípios do Oeste, no Sul do Estado. Estamos discutindo em nível de empresa que as nossas ações não foram à altura no Norte da Ilha, devido ao público recorde e ao forte calor. Precisamos resolver isso. Se tiver medidas que podemos tomar ainda hoje, tomaremos, se for na semana que vem, faremos.
Então a Casan ainda não tem ações previstas para resolver o problema local?
Teremos, estamos analisando a situação e iremos propor ações. Não podemos desassociar Santa Catarina e a Casan do resto do Brasil. Por que a crítica está tão forte em cima da Casan e do problema pontual da Capital? Que interesses há? Todas as cidades turísticas tiveram problemas, obviamente pela quantidade de turistas. Quero que vocês vejam com todas as empresas de saneamento do Brasil se entre a constatação da necessidade, concepção e a elaboração do projeto, a contratação do financiamento e a execução desta obra se conseguiriam fazer em 12 meses. O dia que conseguirem alguma empresa que consiga obras estruturantes em tão pouco tempo é justo que se puna a Casan. Vou falar para vocês, são cinco para sete anos para viabilizar uma obra.
Este é o resultado da falta de investimento nos últimos anos?
Mas é natural, porém resta saber o seguinte: o sistema tinha capacidade de poder contrair financiamentos desta magnitude para atender pontualmente uma questão de dez dias? Essa questão também precisa ser vista, porque todo o investimento precisa ser amortizado. E quem vai fazer a amortização? Não são seus usuários? Sim.
Qual a representatividade de Florianópolis em termos de abastecimento e receita?
Florianópolis é a maior cidade, representa 30% do abastecimento e da receita da Casan. Em segundo é São José, terceiro Criciúma e quarto Chapecó. Essas são as quatro maiores cidades parceiras da Casan.
Quantos geradores e caminhões-pipas foram disponibilizados pela Casan em Florianópolis neste período de falta de água?
Nós temos geradores em todos os sistemas de esgotamento sanitário, não sei dizer o número exato. Caminhões-pipas, temos contrato terceirizado que não prevê números, precisamos disponibilizar quantos forem necessários. Até sexta-feira usamos os caminhões, sábado já não foi mais preciso. O problema dos caminhões-pipas é a mobilidade, não podemos colocar um monte deles para circular o tempo todo na cidade. O ideal continua sendo o transporte via tubulação.
A quantidade seguiu o plano de emergência cobrado pelo município?
Cumprimos o plano.
A população dos bairros Santinho, Canasvieiras e Ingleses reclamaram do atendimento call center da Casan. Segundo eles, não foram atendidos quando solicitaram caminhões-pipas e no retorno das ligações funcionários alegaram que seus protocolos registrados não eram válidos. A diretoria da Casan conhece a reclamação? Tomará alguma medida?
Recebemos reclamações neste sentido e foram encaminhadas à nossa diretoria comercial, responsável pelo atendimento. Estão fazendo levantamento e estatísticas para ver o que de fato aconteceu para tomarmos medidas.
A população também teve que comprar água de comerciantes com caminhões-pipas e indicam um novo comércio na Capital surgido pelo problema que não encontra solução há mais de uma década. Até onde vai a responsabilidade da estatal e por que a Casan não consegue atender a demanda?
Não seria lógico pensarmos que a Casan deixa faltar água para favorecer o surgimento de uma atividade paralela. Muito pelo contrário. Somos totalmente contra, não estamos querendo promover esta atividade comercial. Vamos lutar para que todas as unidades sejam abastecidas via rede. Este é o nosso desafio.
Em 9 de outubro de 2013, a Prefeitura de Florianópolis lançou a Operação Presença envolvendo 60 entidades para indicar as soluções aos problemas enfrentados na alta temporada e evitar o impacto negativo da cidade turística. A Casan assumiu cinco compromissos para evitar a falta de água: acionamento dos sistemas de tratamento reserva; escalas de serviço 24 horas para operação dos sistemas; contratação de carros pipas; construção de 30 poços para captação de água no Norte da Ilha e 15 no Sul; implantação do floco decantador, para ampliar distribuição; e melhoria na ETA do Morro dos Quadros. Essas medidas foram garantidas? Não foram suficientes?
Tem medidas que foram implementadas e outras que estão em processo, como a do floco decantador, que está em andamento. Nós temos um corpo técnico que está debruçado sobre isso, avaliando e vamos ter um relatório sobre todas essas questões o mais breve possível.
A falta de água é um problema recorrente. Em 24 de novembro de 2011, a Casan anunciava a implantação de duas estações compactas, em Ratones e na Daniela, além de mini poços artesianos e ponteiras na Vargem do Bom Jesus, Vargem Pequena e Vargem Grande como solução para a falta de água no Norte da Ilha. O diretor de operações e de meio ambiente da estatal, Valter Galina, garantiu que não faltaria água, a não ser em casos pontuais na cidade. Porém, faltou água naquele ano, em 2012 e em 2013. Qual a explicação?
Todas essas obras foram executados. O que é garantir água? Nós implantamos todas essas estações e produzimos mais de 200 litros por segundo, o que garante abastecimento o ano todo. Na alta temporada, essa produção dobra, então nos propomos a um desafio grande para resolvermos esse problema. Estamos fazendo, mas a demanda está cada vez maior.
Falta estrutura e investimentos da Casan e do governo do Estado para atender a demanda de turistas que triplica o consumo na alta temporada?
Nisso vocês podem fazer um bom papel. Se nós tivéssemos hoje R$ 300 milhões e executássemos essa obra do rio Tijucas, resolveria o problema do Norte da Ilha. O dinheiro resolve qualquer coisa. Vocês da imprensa têm que ajudar, vocês têm um papel importante, não no sentido de colocar as pessoas encurraladas na parede. Tem lógica isso? Querer resolver tudo em tempo recorde? A Casan está sendo crucificada e vocês não falaram nada da falta de água no resto do país. O que aconteceu no resto do Brasil não está sendo avaliado por vocês da imprensa. Tem que ter contexto. 99% dos nossos municípios foram super bem, atenderam a demanda, mas vocês preferem o caos. Querem atingir a Casan. Vai visitar o Norte da Ilha, a sensação é que todo mundo ficou sem água, pelo noticiário. Para onde foram os 500 litros por segundo que produzimos? Foram jogados fora?
O senhor esteve no Norte da Ilha? Conversou com os moradores?
Sim, estive, falei com a população. Não estou dizendo que não houve falta de água, mas nós produzimos o dobro da capacidade de água em nível de tempo regular nesses dias.
Mas é preciso admitir que não foi suficiente, certo?
Sim, mas vocês têm que ler e ajudar o Brasil. Uma menina em Santos reclama também da falta de água em Guarujá. Alugou uma casa no dia 28 e só teve água no primeiro dia. Mais adiante, mostra que ela era apenas uma do grupo de 18 pessoas na casa com capacidade para sete. Como não vai faltar? Isso é uma praxe e não vi a imprensa falar sobre isso.
Como o senhor encara a notificação e a possibilidade de multa por parte da Agesan à Casan? Que respostas a empresa teria à agência?
Os nossos técnicos darão a resposta. Estão analisando os horários em que houve a falta de energia e informarão no relatório à agência. Nós todos estamos sujeitos a multas se de fato o que ocorreu foi por negligência da empresa. Eu não acredito que levaremos multa, porque implementamos ações que responderam positivamente em todos os outros municípios. No Norte da Ilha também ações foram implementadas. Não vai haver multa porque a empresa não foi negligente.
E o tom ameaçador do prefeito interino João Amin em relação ao contrato com a estatal? A responsabilidade é só da Casan?
O poder concedente é do município, nós respeitamos e se formos chamados vamos sentar com as autoridades municipais e apresentar os resultados desse relatório da diretoria de operação. Não considero que isso afetará o contrato entre Casan e município, em função do bom senso. Quem está no serviço público sabe das suas responsabilidades, mas também sabe das dificuldades para responder as demandas estabelecidas por fatores alheios.
A Casan tem problemas financeiros?
A Casan não tem folga, investe tudo o que arrecada. Em melhorias operacionais e em obras novas. Se não tivéssemos uma boa condição econômica não teríamos contratado financiamentos com Caixa Econômica, agência japonesa, agência francesa. Isso não significa que temos dinheiro em abundância, sem destinação.
Por que foi necessário buscar empréstimos de R$ 30 milhões no mercado de capitais em julho de 2013?
Em função de fluxo de caixa, isso é uma coisa normal. Se tu olhares a quantidade de investimentos feitos nos últimos anos, vais ver que foi necessário.
Em ata no dia 4 de julho de 2013, a Casan revela inadimplência de mais de R$ 19 milhões. Quem são esses devedores? Não há cortes no abastecimento em caso do não pagamento? Isso prejudica o caixa?
É um índice histórico, especialmente em regiões de interesse social, que nem sempre é possível cortes. Estamos desenvolvendo ações para recuperar esse dinheiro e enquadrar essas pessoas na tarifa social. Mas existem inadimplentes de todas as ordens, inclusive com ações na Justiça. Em 60 dias da falta de pagamento da segunda fatura, se determina o corte no abastecimento, porém em muitos casos não é possível, pela carência social de consumidores. Não chega a ser um problema que afeta a capacidade financeira da empresa.
Mesmo com índice de inadimplência e empréstimos para fluxo de caixa, a Casan aumentou em 2013 o salário dos advogados em 25% e dos pregoeiros, além de elevar o valor das diárias. Por quê?
Quanto aos advogados, 25% representam as duas horas a mais que enquadramos, já que a jornada era de seis horas e passamos para oito horas. As diárias são valores justos de mercado. Nós temos um conselho de administração, uma auditoria externa e o Tribunal de Contas que fiscalizam nossas ações. A sensação que eu tenho é que tu estás achando que esses são atos de irresponsabilidade por parte da diretoria e que está comprometendo a saúde financeira da empresa. Eu lamento, eu não pensei que iria responder a isso, realmente não imaginava.
Qual o lucro anual da Casan e quanto do total é destinado a investimentos?
Fala com seu contador para ele vir aqui e discutir comigo isso porque pode confundir a opinião pública. Uma coisa é lucro e vamos ter, não fechamos ainda. Lucro não significa dinheiro que sobra, é em função do resultado de uma gestão econômico-financeira adequada. Isso não significa que no final do ano nós vamos ter dinheiro sobrando no caixa, porque 100% do resultado da empresa são investidos. Temos que analisar os números do balanço com os investimentos feitos para ter uma ideia.
O estatuto da Casan prevê a distribuição de dividendos obrigatórios de 25% destinados aos acionistas (governo do Estado, Celesc, SCPar e Codesc). Quanto isso representou em 2013? Esse montante tem sido reinvestido pelos acionistas em obras da Casan ou em outras áreas?
Não é só o estatuto, é lei federal, que rege as S/As. Em nível de governo do Estado, nós sempre obtivemos do governo a aprovação para capitalização da empresa no montante do que lhe era devido. Nem todos os acionistas fazem isso, o governo sempre fez assim.
Em 2011, uma ação do Ministério Público bloqueou os bens de 14 diretores da Casan que dividiram parte do lucro da estatal. A Casan ainda distribui parte aos administradores?
Desde que estou aqui, no início de 2011, nenhum centavo foi distribuídos para diretores e administradores de qualquer ordem. Devido a esses questionamentos também não estamos distribuindo aos funcionários. Existe uma determinação nossa no sentido de que não haja qualquer tipo de distribuição, nem direito, no caso do funcionário. A eles, talvez depois retroativo, mas só depois de resolvido na Justiça.
(Notícias do Dia Online, 08/01/2014)