20 jun O futuro de Floripa: somos protagonistas do amanhã
Artigo de Giovani Bonetti, vice-presidente da associação brasileira dos escritórios de arquitetura (DC, 14/06/2013)
Vivo em Florianópolis há quase meio século. Falar sobre o futuro da cidade quase que me obriga a refl etir sobre seu passado. Obviamente, não de um passado que transcenda minha existência, mas aquele que pude vivenciar e desfrutar. Uma cidade que possuía íntima relação com o mar, que convivia com os barcos de pescadores aportando no cais do Mercado Público. O grupo Hoepcke era uma potência e seus navios conectavam nossa Capital aos principais destinos do Brasil e da América Latina, dinamizando a economia da cidade e do Estado. As famílias da área central desfrutavam da Praia de Fora, Praia do Müller, Prainha, José Mendes e tantas outras. Os balneários do Norte da Ilha – Canasvieiras, Jurerê e Ingleses – eram colônias de pescadores, mas já serviam de refúgio para a vida agitada da “metrópole”que lentamente surgia. A Ponte Hercílio Luz era a única ligação com o continente. Os ônibus eram os circulares A, B, C e, depois de muito tempo, o D.
Meu relato não é por saudosismo, mas por plena convicção de que esses foram os atrativos que fi zeram de Florianópolis uma cidade desejada por tantos forasteiros que a escolheram para viver. Um local onde seus habitantes vivenciavam a cidadania plenamente. Esta é a Florianópolis que penso para o porvir, capaz de resgatar a cultura local e a identidade de seus espaços, como um imperativo para a construção de seu futuro. Uma cidade só é boa para seus visitantes se for ainda melhor para quem nela vive. A busca da vocação de Florianópolis que tanto se fala, no meu entendimento, seria a busca por atender as necessidades de sua população. Tal como acontece em cidades do perfil de Barcelona, Paris, Londres, Medellín, Copenhague e outras tantas mais. Viajamos e nos encantamos com esses destinos, desejando degustar um pouquinho da vida dessas cidades, usufruindo de seus espaços públicos, das alternativas de transporte, dos equipamentos públicos como museus e teatros. Ou seja, precisamos criar mecanismos que garantam trabalho, educação, lazer e serviços de qualidade para nossa comunidade. Que as pessoas tenham possibilidade de se locomover pela Ilha, em diferentes modais, com prioridade para o transporte público, seja ele rodoviário ou náutico.
Aliás, este ponto é polêmico, mas necessário e possível: possibilitar o uso de transportes alternativos, proporcionando infraestrutura para as bicicletas e calçadas que convidem o cidadão a caminhar. Em paralelo, estimular o resgate da identidade de cada bairro e as respectivas vocações, implantando equipamentos públicos e de serviços, para torná-los multifuncionais. Com isso, os moradores podem ter suas demandas básicas atendidas no âmbito de seu bairro, reduzindo os deslocamentos e melhorando a mobilidade.
Preservar nossa biosfera é importante, e para que isso ocorra, teremos de ponderar sobre o adensamento e verticalização de alguns espaços da cidade. Desde que feitos com qualidade e coerência, os prédios de maior gabarito permitem a ampliação dos espaços abertos, ventilação e iluminação natural de suas unidades.
A cidade cresce, e não somente num movimento migratório, mas vegetativamente, e somos obrigados a dar resposta para isso. Hoje temos 75% de nosso território como área de preservação, seja ela limitada ou permanente, o que qualifi ca e muito nosso ambiente urbano. Ou preferimos permitir que ela seja somente horizontal e deixar que as habitações invadam essas áreas de preservação? Temos de estimular a geração de emprego com a indústria limpa, prosseguindo com os investimentos em tecnologia, turismo e maricultura, mas também promovendo eventos culturais, festivais de música, dança, arquitetura e arte. Estimular o surgimento e o crescimento de centros universitários, qualificando a cidade pelo “saber” aqui gerado.
Nestes últimos tempos, fazendo parte da seccional catarinense da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, um grupo de arquitetos comprometidos com a cidade tem proporcionado reflexões e debates sobre arquitetura e urbanismo. Temos oferecido palestras, seminários e exposições, além de compartilhar experiências vividas em outras partes do Brasil, da América Latina e do mundo. São subsídios capazes de fomentar a cultura do urbanismo e da arquitetura. Vivemos em momento importante, em que essas discussões serão essenciais para definir os rumos da cidade que construiremos para o futuro breve. A viabilidade deste processo está condicionada ao fortalecimento do Instituto do Planejamento Urbano de Florianópolis, com instrumentos e equipe técnica qualificada. E não podemos perder a oportunidade, tendo o professor Dalmo Vieira, notável arquiteto e urbanista, como timoneiro desta transformação.
Este é o desafio compartilhado pelos cidadãos comprometidos com a cidade. Somos todos protagonistas!