02 jun Indústria e supermercados lançam programa para reduzir desperdício de sacolas plásticas
Cansadas de serem apontadas como vilãs e coadjuvantes do excesso de resíduos em aterros, a indústria do plástico e as associações de supermercadistas começaram semana passada a se mobilizar em uma campanha nacional para tirar de circulação 5,5 bilhões de sacolas plásticas. Este montante, conforme o presidente-executivo do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), Francisco de Assis Esmeraldo, representa 30% de tudo o que os consumidores levam para casa com suas compras. No Brasil, o total nesta área chega a 18 bilhões de unidades/ano.
Chamado Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, o trabalho foi lançado em São Paulo no último dia 29, numa iniciativa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o Plastivida, o Instituto Nacional do Plástico (INP) e a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief). A idéia é incrementar a resistência das sacolas de plástico de modo que elas possam suportar até seis quilos cada uma.
Assim, a meta, em um ano, é diminuir significativamente a quantidade delas em circulação. “Os supermercados querem preço baixo pelas sacolas, e os fabricantes cada vez mais diminuem a espessura para poder fabricar mais com menos material. Mas, com isto, o produto passou a perder em qualidade, pois se você coloca determinados produtos em uma sacola, e dependendo da forma como os coloca, elas rasgam, não suportam o peso”, explica o executivo do Plastivida. O que geralmente acontece, afirma ele, é o consumidor usar duas ou até mais sacolas para embalar a mesma quantidade de mercadoria que deveria estar em uma só. “Há um desperdício e aumento da quantidade de resíduos”, resumo.
Certificação
Os fabricantes também terão vantagens com esta mudança, diz Esmeraldo. Eles passarão a produzir de acordo com a norma da ABNT 14.937, que atestará a certificação de resistência do produto. Assim, as sacolas terão que conter informação sobre o peso que suportam. O objetivo é certificar os 12 maiores fabricantes, que representam 75% da oferta de sacolas aos supermercados. “Estas empresas já estão passando por capacitação”, explica.
O programa de consumo responsável foi lançado em São Paulo e deverá se estender para nove capitais. Além de São Paulo, se estenderá para Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Recife. Na capital gaúcha, será lançado no próximo 12 de junho, em evento no Hotel De Ville. “Vamos lançar em Porto Alegre na presença do professor titular da Universidade da Califórnia Joseph Green, que falará sobre o aproveitamento do plástico”, anuncia o executivo.
Os supermercadistas trabalharão no sentido de conscientizar seus empregados e consumidores. Uma das propostas é realizar blitze para ver como o consumidor se relaciona com as sacolas. Segundo Esmeraldo, o fato de usar mais de uma delas para embalar a mesma quantidade de mercadoria que cabe numa só já é um indicador de que quem vai ao supermercado não confia nas sacolas.
Pesquisa
Conforme um levantamento realizado pelo Plastivida junto a 400 pessoas em 12 grandes supermercados de São Paulo, 13% da população leva para casa em cada compra pelo menos duas sacolas sem necessidade. Além disto, 61% usam as sacolas pela metade, ou seja, colocam em cada uma poucas mercadorias, temendo que se rompam caso sejam plenamente utilizadas. “O consumidor percebe que a sacola é muito frágil”, atesta o representante do Plastivida. “Tanto o empacotador quanto o consumidor superpõem sacolas.”
O Plastivida constatou também que 100% da população reutiliza as sacolas plásticas para acondicionar lixo. Além desta, foram verificadas outras 37 utilidades para o produto.
Retornável
A mobilização para a mudança de hábitos e a proposta das sacolas mais resistentes começou em setembro do ano passado, quando foram realizados os primeiros cálculos e teses em busca da sacola considerada resistente, num equilíbrio entre oferta em quantidade e qualidade. Foram realizados testes-piloto ao longo deste primeiro semestre para a implementação do programa em julho próximo.
Outra novidade é o lançamento da sacola retornável, com maior dimensão que a encontrada geralmente nos supermercados e com capacidade de suporte de 8 a 10 quilos. Ela está sendo vendida por preço entre R$ 3 r R$ 4. “Uma das vantagens desta sacola em relação às de papel é que se podem acondicionar produtos congelados sem romper o invólucro. Em relação às de tecido, a vantagem é que não se gasta água e sabão para a lavagem, basta um pano úmido”, compara Esmeraldo.
Oxidegradação
A recente oferta de sacos para lixo oxidegradáveis – erroneamente chamados oxibiodegradáveis – é um assunto a ser enfrentado também pela indústria do plástico. “Estão sendo vendidos no mercado sacos de lixo em cuja composição se adicionam substâncias para que o material se deteriore mais rapidamente. Isto pode ou não incluir metais pesados, por exemplo. Mas é grave, pois o produto se pulveriza, não pode ser mais recolhido para reciclagem, contamina o solo e ainda há o risco de animais ingerirem esses restos”, explica o representante do Plastivida.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, argumenta que “este tipo de produto não foi homologado por órgãos competentes, como o Ministério do Meio Ambiente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde) e o Inmetro (instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial)”.
“A Agas apóia a idéia de reutilização, reaproveitamento e reciclagem, e a oferta de sacolas mais resistentes. Queremos uma campanha contínua de conscientização quanto ao uso responsável do plástico. As sacolas de plástico têm centenas de utilidades, elas são usadas para embalar alimentos, produtos de limpeza e outras funções. Um dos aspectos principais é conscientizar também as prefeituras e Câmaras de Vereadores para que levem a campanha do consumo consciente para cada município”, afirma. No Rio Grande do Sul, a Agas tem cerca de 2 mil lojas associadas, que representam 90% do PIB do setor supermercadista no Estado.
(Cláudia Viegas, Ambiente JÁ, 02/06/08)