22 maio Municípios de Santa Catarina em busca da excelência
Oito prefeituras de SC receberão, numa parceria do governo do Estado com a iniciativa privada, capacitação para melhorar a gestão pública. A ideia é estabelecer metas e indicadores para ter parâmetros de avaliação de resultados, assim como no setor empresarial. O custo total do projeto será de R$ 3 milhões.
Um café da manhã pode ter selado o destino de oito prefeituras de Santa Catarina para os próximos 20 ou 30 anos. O encontro realizado ontem entre prefeitos e cerca de 30 empresários buscou apoiadores para o projeto gestão municipal. A ideia é adotar nas prefeituras práticas que as empresas já usam há décadas: planejamento estratégico, metas e avaliação de resultados.
Araquari, Garuva, Gravatal, Itajaí, Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul, São José e Santo Amaro da Imperatriz serão os primeiros municípios a integrar a ação. O projeto está sendo construído pelo governo do Estado em parceria com a iniciativa privada e com o Centro de Liderança Pública (CLP). Os oitos municípios foram convidados pelo governo e escolhidos de forma a representar a diversidade econômica de Santa Catarina.
O objetivo do projeto é captar junto às empresas cerca de R$ 2,5 milhões para custear as consultorias que serão dadas aos municípios. A Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com o Sebrae/SC, vai investir R$ 500 mil, que serão utilizados para pagar as horas dos consultores do Sebrae, somando assim os R$ 3 milhões orçados.
Será a primeira vez no país que um consórcio de prefeituras será capacitado para melhorar a gestão, de acordo com o CLP. Segundo Leticia Piccolotto Ferreira, que vai coordenar as ações do Centro de Lideranças em SC, o projeto-piloto começa com a adesão de oito prefeituras, podendo chegar até o limite de 20 municípios, nesta primeira fase, porque é preciso começar com um número menor para construir o modelo de avaliação e acompanhamento de metas e resultados. É esperada a adesão de seis a 10 empresas.
Na primeira ação para alavancar o projeto, o pontapé inicial da arrecadação de recursos foi dado por um parceiro de peso. Jorge Gerdau, empresário brasileiro, referência nacional e internacional, deu uma palestra no café da manhã para os prefeitos e empresários catarinenses e foi o primeiro a assinar a participação no projeto. Seguiram o empresário líderes de outras quatro grandes empresas: BMW, Malwee, Bomi Farma e Litoral – Soluções em Comércio Exterior.
– Acredito que esse modelo que estamos tentando construir aqui pode ser replicado no país todo. O analfabetismo gerencial que as prefeituras têm no Brasil é muito preocupante – disse Gerdau.
Previsão é iniciar projeto em julho
A previsão é que as ações de capacitação dos prefeitos, gestores municipais e funcionários comecem a ser colocadas em prática a partir de julho.
O vice-presidente de jornais, rádios e digital do Grupo RBS em Santa Catarina, Eduardo Smith, também fez uma apresentação no evento. O grupo é parceiro da iniciativa e contribuirá com a fiscalização do cumprimento das metas estabelecidas para as prefeituras.
– O papel da mídia é mostrar o que está acontecendo, em especial na esfera pública – destacou Smith.
WANDER WEEGE
Diretor-proprietário da Malwee Malhas
“Este programa vai gerar uma nova visão do planejamento. Precisamos investir e aprimorar nossa educação e nossos transportes, ter uma nova visão para breve. Urgente. Queremos novos caminhos para a administração. Com o projeto poderemos ter um desenvolvimento maduro para ter uma visão global das necessidades reais do Estado.”
SÔNIA HESS
Presidente da Dudalina
“Acredito que este projeto vai melhorar a administração como um todo. Os prefeitos vão entender o mecanismo de funcionamento do dia a dia. Eles (os prefeitos) precisam aderir. É algo vital. Vai possibilitar que eles façam uma melhor gestão”.
MANOEL ZARONI
Diretor-presidente da Tractebel
“Precisamos ter uma gestão mais efetiva de pessoal, de gastos e de orçamentos. É preciso fazer a gestão pública com se faz a gestão de uma empresa, tendo como cliente o cidadão. O programa vai ajudar na dinâmica do dia a dia do prefeito que, tendo vontade, vai focar no resultado desejado”.
Cronograma
Até 20 de junho, o governo fará contatos em busca de apoio de empresas.
No dia 26 de junho, está prevista a assinatura do projeto.
As ações nas prefeituras começam no dia 2 de julho.
A previsão é de que os trabalhos nas prefeituras durem um ano.
(DC, 22/05/2013)
“Gerenciar processos com eficiência é definitivo”
O empresário Jorge Gerdau deu palestra aos prefeitos e empresários catarinenses e falou da importância de se ter metas e indicadores.
Diário Catarinense – Um dos desafios de vida do senhor era levar os indicadores de boas práticas de gestão da iniciativa privada para o setor público. Como este processo está avançando no governo federal e em outras esferas da administração pública?
Jorge Gerdau – Temos hoje vários estados que mostram uma evolução fantástica nesses últimos 10 anos com experiências de gestão em algumas prefeituras. No governo federal já tem algumas áreas avançando de forma organizada. Estamos trabalhando os mapas estratégicos, processos críticos. Hoje, neste momento aqui, nesta conjugação das prefeituras, mobilizando o empresariado, tudo isso é para o aprimoramento de gestão.
DC – Quais os principais desafios para levar as boas práticas de gestão do setor privado para o público?
Gerdau – O problema é cultural. O setor público nada mais é do que um prestador de serviços à comunidade. Gerenciar com eficiência esses processos é definitivo. Isso tem sido analisado já com experiências importantes em alguns grandes municípios e estados. O importante é replicar essa experiência.
DC – Onde é possível ver mais rapidamente e a longo prazo as mudanças de gestão: em uma prefeitura de pequeno porte ou em uma maior?
Gerdau – Para buscar essa eficiência é preciso que cada setor canalize sua definição estratégica para o futuro para, a partir daí, definir que processos críticos vão levar ao sucesso. Essa construção, essa análise, possibilita a busca dessa eficiência em prefeituras de qualquer porte.
DC – Qual é o efeito esperado após a implantação dos indicadores nos municípios de SC?
Gerdau – São um estímulo. Você tem que, nos indicadores, buscar benchmarking nacionais e mundiais para ver quais são as melhores práticas e, através desta análise, obter melhores padrões, melhores práticas do mundo. É você que realmente torna a sua comunidade, a sua cidade, o seu governo competitivo neste cenário mundial.
DC – Não é difícil conseguir uma gestão de alto padrão com o funcionalismo público com as regras atuais, incluindo a de estabilidade do trabalhador?
Gerdau – Hoje, com minha experiência, tenho notado receptividade muito boa. Existem cada vez mais instrumentos de meritocracia que valorizam a eficiência. Então cada vez mais temos que ter um profissionalismo na área gerencial do setor público.
DC – Santa Catarina está no limite prudencial dos gastos com a folha de pagamento. Como resolver este problema cada vez mais frequente na administração pública?
Gerdau – Tem que se estabelecer um teto de gastos percentual sobre o orçamento. Você tem que trabalhar com esse quadro, com essas pessoas. Você tem uma tendência de cada vez aumentar mais as estruturas e consequentemente leva a custos não competitivos no Estado. Então precisa-se dizer: vou trabalhar com tal número. E aí buscar a eficiência com esse número.
(DC, 22/05/2013)