Mobilidade urbana, questão de coletividade

Mobilidade urbana, questão de coletividade

Artigo de Walter Luz (Akatu, 21/05/2013)
A qualidade de vida, o bem-estar das pessoas e o trânsito nas cidades dependerão do pensamento coletivo. Esse parece um tema recorrente, mas infelizmente tem ficado despercebido. A cada minuto o trânsito, a qualidade de vida e a poluição pioram nas cidades brasileiras e pouco tem sido efetivamente feito para interromper esse processo. Medidas e ações paliativas são tomadas para melhorar a mobilidade e o fluxo dos veículos, como o aumento do número de faixas ou o alargamento das ruas e avenidas. Porém, muitas acabam tendo efeito oposto e tornam o trânsito ainda mais difícil, aumentando o estresse, o prejuízo para a economia do País e para o meio ambiente.
Claro que o tema não pode ser tratado de maneira igual para cada cidade, pois a realidade das metrópoles é diferente em municípios menores. Mas o que precisa ser comum é o pensamento coletivo, o foco no bem de todos. Não será somente o maior uso do ônibus e do transporte coletivo que resolverá o problema da mobilidade urbana. Também não bastam somente a implantação de novas tecnologias limpas ou mesmo legislações restritivas. Todas têm o mesmo objetivo, mas se colocadas em prática de maneira isolada e não integradas, não surtirão o efeito positivo e necessário que buscamos no curto, médio e longo prazos.
Consciência, bom senso, cidadania e um monte de outras características altruístas serão necessários para que consigamos, de fato, evoluir no tema e transformar o cenário brasileiro e mundial. Afinal, “que mundo desejamos para os nossos filhos?”.
Cerca de três milhões de veículos novos passam a circular somente nas ruas brasileiras a cada ano (no mundo são 80 milhões). Um milhão de motocicletas disputam o exíguo espaço em uma competição injusta e desigual que vai do pedestre ao ônibus biarticulado, passando por bicicletas, automóveis, caminhões e uma série de outros meios de deslocamento, como carroças ou carrinhos puxados por pessoas. Logo ali ao lado, embaixo ou em cima, trens e afins também circulam permeando cada centímetro, quadrado e cúbico. Como definir prioridades? Como estipular limites? Como articular todos esses “modais” para que cada um flua, siga o seu caminho, se desloque e chegue, em tempo, seguro e sem estresse ao seu destino? E nem abordamos a qualidade do ar ou a temperatura ambiente, a ocupação do solo ou da energia, a liberdade ou o direito de escolher qual desses meios utilizar.
Ar mais limpo, novas tecnologias e sistemas inovadores, veículos modernos. Nada disso vai surtir efeito se o pensamento de cada cidadão não mudar e estiver focado na mobilidade de todos, no direito de ir e vir, no dever de não obstruir ou poluir, na consciência de que somos, na essência, iguais perante o espaço e o tempo: fisicamente, ocupamos o espaço durante um determinado período de tempo.
É fundamental que sejam incentivados encontros para a discussão deste assunto que tanto influi em nossa qualidade de vida. Se não agirmos juntos e integrados, assim como cada modal, entidade e organização, daremos “braçadas” uns nos outros sem sair do lugar. “Empacados”, como se o nosso espaço fosse uma grande areia movediça e o nosso destino, a inércia total.