15 abr Dez anos depois da "integração", sistema do transporte coletivo da Capital está ultrapassado
Passados os ataques do PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que criou um caos no transporte coletivo de Florianópolis, o sistema voltou ao “normal”: ônibus superlotados nos horários de pico, embarques demorados, falta de integração em algumas linhas e sem um centímetro de corredor exclusivo. A reportagem do Notícias do Dia entrou nos ônibus para ouvir a opinião dos usuários. O que mais se ouviu: péssimo, precário, terrível, horroroso.
Os dados mostram a defasagem do sistema, criado em 2003. Enquanto o número de usuários começou a cair depois de 2008, o de carros e motos cresceu mais de 50% na Capital. Desde 2010 espera-se uma nova licitação, cuja promessa da nova administração é lançar ainda este ano.
Na sexta-feira, a equipe do ND percorreu algumas linhas do sistema. A ideia era sair do Ticen (Terminal de Integração do Centro), passar pelo Titri (Terminal da Trindade), ir ao Tirio (Terminal do Rio Tavares) e voltar ao ponto de partida. No Ticen, o aposentado por invalidez João Batista, 48 anos, em sua cadeira de rodas, reclamava. Queria que os cobradores dos ônibus adaptados não chegassem em cima da hora para o embarque, para não ter correria. “Além disso, eu quase caí na hora em que estava entrando em um ônibus. Sorte que o motorista me agarrou”, disse.
Às 15h, o Beira-mar Norte, um ônibus articulado, estava quase vazio. Na altura da Justiça Federal subiu a autônoma Elenita Fátima, 54. No Titri ela não desceu do veículo. Por quê? “Estou indo para o Centro. Mas não tinha como atravessar a Beira-mar para pegar ônibus”, contou.
A ideia da nossa equipe era ir para o Tirio. “Agora tá ruim”, avisa o cobrador. “É melhor vocês voltarem ao Centro para ir até lá. É mais rápido”. Mudança de percurso. Decidimos ir até a UFSC para, depois, voltar ao Centro. Entramos o Saco Grande.
A auxiliar de enfermagem Mônica Midilelli, 44, pegou o mesmo ônibus. Tentava chegar a uma consulta no Córrego Grande. “É uma dificuldade chegar ao Córrego Grande. Ou eu chego muito cedo ou muito atrasada”, disparou.
Na universidade, mais um ônibus: o UFSC Semi-direto para o Centro. Ônibus novo, chamado de BRT (Bus Rapid Transit). O embarque durou quase três minutos. Se fosse um sistema BRT de verdade, os usuários teriam passado a catraca já no ponto.
O ônibus começou a andar até a polêmica Edu Vieira, no Pantanal. Outro problema: os ônibus, como em toda a cidade, não têm prioridade. O BRT, como o de Curitiba, teria que ter corredores exclusivos. O cobrador faz as contas: “Sem trânsito, em 20 minutos fazemos o trajeto. Mas teve dias que já demoramos 1h40”.
Duas horas e 30 minutos depois da saída do Ticen, a equipe do ND voltou ao terminal. Era horário de pico. E a situação começou a piorar.
Prefeitura promete um novo modelo
O coração do novo sistema de transporte coletivo serão as linhas circulares, conectadas e abastecidas por linhas alimentadoras. Em muitos trechos haverá corredores exclusivos para os ônibus. Essa é a síntese do que está sendo pensado no Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis).
Na lista de prioridades do Ipuf, o primeiro item é o Plano Diretor. O segundo, mobilidade urbana. “Há um consenso que os problemas de mobilidade urbana começam a ser solucionados com transporte público coletivo. O desafio é tirar do discurso e colocar na prática”, afirmou o superintendente do Ipuf, Dalmo Vieira Filho.
E o tempo corre. Na coletiva de imprensa dos cem dias de governo, o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) reafirmou a promessa de campanha. “Até o fim do ano sai a licitação do transporte coletivo. E de um novo modelo”, declarou. O objetivo é que seja mais eficiente e com passagem mais barata.
Segundo Dalmo, havia duas hipóteses para o transporte coletivo: manter o conceito atual e atualizá-lo ou buscar as soluções sintonizadas com o que acontece no mundo. Foi escolhida a segunda opção.
Hoje, as linhas têm ponto de chegada e partida, geralmente em grandes terminais. A ideia, agora, é que sejam linhas circulares, conectadas umas às outras. “É o mesmo conceito de metrô. Ninguém sabe o horário que o metrô sai. Basta chegar ao terminal que logo o metrô chega e sai”, explica Dalmo.
É como se a linha UFSC Semi-direto ficasse circulando o tempo inteiro e que fosse conectada a outra linha circular, que passasse pelas avenidas Mauro Ramos e Hercílio Luz. Os técnicos do Ipuf estão desenhando o sistema, que deve ser apresentado, provavelmente, em uma reunião pública, até o fim de semana. “Não é uma solução pronta. Queremos expor conceitos e diretrizes. A ideia é fazer uma reunião pública, pensando no transporte aliado ao planejamento urbano”, defendeu Dalmo.
Entre os desafios da nova administração está escolher o local onde serão as linhas exclusivas. “A ideia é ótima, concordamos com ela. Mas colocar aonde? Na Mauro Ramos, na Beira-mar? Não acredito que vá acontecer”, opinou Waldir Gomes, presidente do Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis).
(Notícias do Dia, 14/04/2013)