Reciclagem é ação ambiental e movimenta economia

Reciclagem é ação ambiental e movimenta economia

À medida que a reciclagem de materiais como o papel e o vidro vai se tornando um hábito para os moradores dos grandes centros, cresce a necessidade de reaproveitamento de outros produtos. “Cerca de 90% do lixo descartado é reutilizável”, afirma Paulo Correia, diretor da ONG Instituto Triângulo, especializada na reciclagem de óleo de cozinha.
Assim como acontece com as latas de alumínio, a reciclagem do óleo usado está se tornando um exemplo de como o reaproveitamento de matéria-prima pode ser duplamente benéfico. Alguns condomínios, por exemplo, vendem o óleo usado e, com a renda obtida, pagam as despesas de manutenção dos prédios. Outros entregam o material a usinas de reciclagem e recebem de volta o sabão produzido a partir dele.
De qualquer forma, a reciclagem, além de fazer bem para o ambiente, é melhor ainda para a sociedade, que ganha oportunidades de negócios e empregos e ainda gera inclusão social.
Conheça outros materiais que são problema hoje, mas que, no futuro, podem se tornar uma solução.
ISOPOR
A bandejinha do frango, o protetor de eletrodomésticos e a maquete de um trabalho de colégio podem não parecer, mas são bastante nocivos ao ambiente. Também conhecido como poliestireno estendido (ou EPS), o isopor é, na realidade, um tipo de plástico que leva 150 anos para se decompor. No Brasil, são consumidas anualmente 36,5 mil toneladas do material.
Segundo o Instituto Akatu, poucas empresas o coletam, pois é necessária uma grande quantidade do material para que a reciclagem se torne economicamente viável. Composto por 98% de ar e 2% de plástico, apenas 10% do material inicialmente coletado é utilizado depois de derretido. Para dificultar ainda mais, o isopor é bastante volumoso, o que encarece o transporte usado na coleta.
Mas, uma vez reciclado, o EPS torna-se bastante útil, principalmente na construção civil. Misturado ao cimento, ele oferece várias vantagens em relação à cerâmica e ao concreto comum. Chamado de cimento isopor, ele é mais leve e, como não é orgânico, não serve de alimento a nenhum ser vivo, como formigas ou cupins.
A partir da mesma matéria-prima, foi desenvolvido no Brasil o “termobloco”, à base de isopor 100% reciclado. Por dispor das mesmas propriedades do isopor, ele ainda serve como isolante acústico e térmico, reduzindo o gasto de energia com aquecedores e ares-condicionados.
ÓLEO DE COZINHA
Vilão das dietas, o óleo usado no preparo de algumas das delícias da cozinha brasileira se tornou também um dos principais poluentes da pouca água que há hoje disponível para consumo no mundo.
Quando é jogado diretamente no ralo da pia ou no vaso sanitário, ele diminui a vida útil dos encanamentos e traz conseqüências desagradáveis como entupimento de canos e refluxo de esgoto. Segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), cada litro de óleo de cozinha pode contaminar 20 mil litros de água.
E o estrago não pára por aí. Quando o esgoto não é tratado, o óleo é despejado em rios e mares e prejudica a sobrevivência de peixes e algas. O óleo pode também chegar ao solo e impermeabilizá-lo, colaborando para aumentar um problema que o paulistano conhece bem: as enchentes.
Mesmo quando o esgoto é tratado, o óleo não é bem-vindo, pois encarece o processo. Depositá-lo em um aterro sanitário ou em um lixão tampouco é a solução, já que, quando se decompõe, o óleo libera gás metano e colabora para o efeito estufa.
Ainda segundo a Sabesp, estima-se que cada família produza mensalmente um litro e meio de óleo de cozinha, que pode se transformar em sabão e em biodiesel. Quem não quiser fazer o sabão em casa, pode levar o óleo usado para algum ponto de reciclagem. Nove cooperativas conveniadas pela prefeitura recolhem o material, que também pode ser descartado nos “Ecopontos”. Algumas ONGs, como o Instituto Triângulo, possuem usinas de reciclagem de óleo e mantêm postos de coleta.
E-LIXO
Se o Brasil ainda está longe de oferecer acesso digital a toda a sua população, as metas de reciclagem do e-lixo, ou lixo tecnológico, ainda engatinham. Parte disso se deve à falta de leis que regulem a reciclagem e a reutilização de computadores, CDs, DVDs e celulares.
Estima-se que há mais de 40 milhões de computadores em uso no país, dos quais cerca de 1 milhão é descartado todos os anos. Segundo o Instituto Triângulo, pode ser que os bisnetos dos netos dos seus netos encontrem seu “micro dinossauro” por aí, no ano de 2.308, já que ele pode levar 300 anos para se decompor.
Muitos dos eletrônicos, como TVs e monitores, também possuem, em seu interior, substâncias como chumbo e fósforo, que podem contaminar o ambiente.
Com a reciclagem do lixo tecnológico, podem-se obter ferro, alumínio e metais preciosos como ouro ou prata. Uma boa alternativa para a reciclagem é a reutilização. Além de vender ou trocar seu micro usado, há a opção de doá-lo a uma ONG ou associação.
Já a reciclagem de CDs e DVDs só está disponível, por enquanto, em escala industrial.
CHAPAS DE RAIO-X
As chapas de raio-X esquecidas nos hospitais são revendidas e muitas vezes recicladas por empresas responsáveis por lixo hospitalar. Já as que vão para casa geralmente vão parar em lixões e aterros. Como contêm metanol, amônia e metais pesados como cromo, as chapas usadas acabam carregando resíduos tóxicos.
O que pouca gente sabe é que delas é possível extrair cristais de prata.
Reutilizados, esses cristais se transformam em talheres e jóias, por exemplo. A partir de outro material restante da reciclagem das chapas, o acetato, podem-se fabricar caixas de presentes e bolsas.
Mas, segundo o Instituto Triângulo, o processo de reciclagem das chapas ainda é complexo, gera resíduos tóxicos e requer um alto gasto de energia. A ONG estuda uma forma de fazer a reciclagem das chapas ainda neste ano.
Por enquanto, pode-se tentar vendê-las. Na internet, há anúncios, geralmente dirigidos a quem vende o material em grandes quantidades. Por isso, é interessante que condomínios e associações se reúnam para coletar e revender as chapas, que costumam render cerca de R$ 1,50 a unidade.
(Folha de S. Paulo, 24/04/08)