18 jan Óleo que vazou em córrego em Florianópolis pode causar impacto ambiental severo
O vazamento de 12 mil litros de óleo que pode conter ascarel, uma substância altamente perigosa e que teve a fabricação proibida no Brasil em 1981, levantou uma série de dúvidas sobre o impacto ambiental que pode causar na área afetada. Enquanto as análises que vão confirmar ou descartar a presença do ascarel na área de mar e mangue entre o Ribeirão da Ilha e a Tapera não ficam prontas (vão levar pelo menos 15 dias), a recomendação é cautela. Embora autoridades e estudiosos digam que a probabilidade de contaminação é pequena, e que o embargo das atividades de pesca e maricultura são preventivos, também não negam que o risco existe.
Comprovada ou não sua existência no ambiente, o certo é que o ascarel, nome comum dado ao componente PCB (bifenila policlorada) é uma sustância altamente tóxica que se assemelha aos pesticidas e pode trazer danos irreversíveis aos organismos que tenham contato com ele. Marcio Tamanaha, professor de oceanografia e engenharia ambiental da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), o classifica como um fluído perigoso, que age silenciosamente e que, de acordo com a quantidade de cloro existente em suas moléculas, tem ampla capacidade destrutiva.
Por conta de sua estrutura molecular quase insolúvel, o impacto ambiental provocado pelo PCB, segundo o professor, pode ser bastante severo. “Se um peixe contaminado é comido por um pássaro, automaticamente este organismo será contaminado”, explicou.
O mesmo pode acontecer com pessoas que ingerirem algum produto exposto ao ascarel. “O maior dano é via oral, na alimentação”, pontuou. Segundo Tamanaha, o efeito não é letal, mas provoca alterações genéticas nos seres contaminados, como mudanças nos estágios de reprodução, processo de engorda, crescimento e desenvolvimento do organismo: “Em alguns casos, pode ser eliminado pelas defesas do organismo, tudo depende da quantidade ingerida”.
Monitoramento das áreas afetadas
Caso se corfirme que a região foi afetada pelo produto químico, o professor e engenheiro ambiental Marcio Tamanaha sugere o monitoramento em longo prazo. Por ser de difícil degradação, os traços desse óleo podem permanecer no meio ambiente até um ano depois de sua contaminação. Além disso, parte desse material pode contaminar o solo e chegar ao lençol freático.
Nesse caso, segundo ele, os danos ambientais seriam menores. “Ele não desaparece, é como um pesticida, seus componentes têm um processo biológico tão forte que não se quebram e nem se dividem. Também não há como recuperar a área degradada. De qualquer forma, haverá impacto no ecossitema, que pode se auto regular e se moldar a essa nova condição”, afirmou.
A fabricação das PCBs foi proibida no Brasil em 1981. Além de trasformadores, a substância era utilizada em lubrificantes, plastificantes e solventes de tintas. No entanto, existe uma exceção na lei, e sua utilização em equipamentos que já estavam operando foi permitida.
Tamanaha acredita que ainda hajam equipamentos de 30 anos ou mais em operação. E sugere um mapeamento de onde eles estão. Procurada, a Celesc não informou se ainda utiliza transformadores com ascarel ou se existem equipamentos desativados no Estado.
Órgãos decidem como será recurso judicial
Procuradoria Geral do Estado, Fatma, Ibama e outros órgãos afetados pela decisão judicial que proíbe as atividades de maricultura nos municípios da Grande Florianópolis, devem entrar hoje com pedido de recurso. Na quinta-feira, nem todos conseguiram juntar estudos e argumentos para a ação, e uma nova reunião ficou marcada para hoje.
Segundo Jordani Pelisser, consultor jurídico da Secretaria de Estado Agricultura e Pesca, o encontro vai definir se os órgãos entram com uma única ação ou se os pedidos serão individuais. Por enquanto, maricultores de Florianópolis, Biguaçu, Palhoça, São José e Governador Celso Ramos estão impedidos de trabalhar e a Fatma não pode liberar licenças ambientais.
(ND, 18/01/2013)