22 nov Faxina no fundo do mar
Órgãos de preservação ambiental retiraram o lixo, como materiais de pesca e até cadeiras, na região da reserva biológica
No fundo de um dos maiores paraísos ecológicos do Brasil, a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, entre Florianópolis e Bombinhas (a 18 quilômetros do Norte da Ilha de SC), foram encontados lixos de todas as espécies.
De linhas e redes de pesca a panela, cadeiras e até porta de geladeira foram recolhidos das águas e costões, ontem, no Clean Up Day, o dia da limpeza. Pela primeira vez, a ação é realizada no santuário natural e recolheu cinco metros cúbicos (o que equivale a cinco caixas de água de mil litros) de detritos que destroem a vida marinha.
O relógio marcava 9h quando as 10 embarcações da atividade, realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o apoio do Ministério Público Federal, chegaram na reserva. Participaram barcos e lanchas da Marinha do Brasil, da Polícia Federal, das empresas ligadas à Associação das Escolas e Operadoras de Mergulho do Estado de Santa Catarina (Aeomesc) e do próprio ICMBio.
Parte da equipe limpou os costões, onde foram encontrados até cadeiras e, principalmente, garrafas pets e sacos de lixos. Mergulhadores foram mar adentro, a mais de 20 metros de profundidade para retirar linhas e redes trazidas pelas correntezas ou por embarcações que entram escondidas na área proibida.
– Encontramos até uma rede de 15 metros presa no fundo do mar. Chamamos de rede fantasma, pois fica constantemente matando os peixes do costão, que se enroscam e não conseguem mais sair. A tartaruga verde é outra vítima do lixo, pois acaba comendo sacos plásticos, o que entope o seu trato digestivo e a mata – explica o analista ambiental do ICMBio, Leandro Zago da Silva.
Para o presidente da Aeomesc, Julio Cesar da Silva, a ação serve também para oferecer um momento de educação ambiental aos alunos das escolas de mergulho. Conforme o chefe da reserva Ricardo Castelli, a ideia é realizar o dia da limpeza a cada três meses. O lixo recolhido foi encaminhado ao setor de reciclagem da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap).
(DC, 22/11/2012)
Ilha pode virar parque nacional
O lixo que chega na reserva é trazido de praias pelas correntes marítimas. Outra origem são dos barcos de pesca clandestinos que navegam na região do Arvoredo. Pescadores acabam jogando no mar os dejetos.
A região da Ilha do Arvoredo foi oficializada como reserva em março de 1990. Após 22 anos restrito à preservação da vida marinha, ainda tramita no Congresso propostas para fazer da reserva um parque nacional. Neste ano, parlamentares catarinenses retomaram a ideia de transformar o local em parque em conversas com o Ministério do Meio Ambiente e com o ICMBio. Nada ainda foi decidido.
Enquanto a reserva determina a preservação total dos recursos naturais, com a proibição de visitação – exceto as de caráter educacional e de pesquisa –, o parque nacional permitiria a realização de atividades de recreação, educacionais e de turismo ecológicos. Em ambos os casos, pesca e construções ficam proibidas.
O assunto é polêmica entre instituições e especialistas, pois o local abriga algas e corais raros, além de ser rota de espécies ameaçadas de extinção. Por outro lado, o parque impulsionaria o turismo de mergulho.
A Rebio Marinha do Arvoredo é um das duas únicas reservar com conservação exclusivamente marinha no país. A outra é a Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte.
(DC, 22/11/2012)