Tecnologias permitem emitir CO2 sem agredir o clima

Tecnologias permitem emitir CO2 sem agredir o clima

Um mundo sustentável, com as mudanças climáticas sob controle, só é possível se eliminarmos as emissões de dióxido de carbono (CO2), certo? Em parte.
O desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a geração de energia limpa ou para a produção de automóveis que não emitam poluentes, por exemplo, é uma preparação para um mundo sem petróleo nos próximos séculos. Mas a urgência do aquecimento global exige que se encontre saídas para lidar com o problema agora, quando o planeta ainda depende ardentemente dos combustíveis fósseis.
E já que é impossível substituir todas as fontes poluentes do mundo por tecnologia limpa de uma hora para outra, os cientistas vêm encontrando soluções para esse período de transição. A idéia é deixar de poluir sem deixar de emitir.
E para fazer isso, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, desenvolveu uma estratégia para capturar, estocar e até reciclar o carbono proveniente de veículos, evitando que cheguem à atmosfera. Os especialistas têm como meta um carro com zero de emissões e um sistema de transporte completamente livre de combustíveis fósseis.
O objetivo deles é criar um sistema de transporte sustentável, que utilize um combustível líquido e aprisione as emissões de carbono no veículo para posteriormente processá-lo em uma estação de combustível. Ao chegar na usina de tratamento, o carbono é transformado em combustível líquido novamente. A pesquisa atualmente está em fase de desenvolvimento do equipamento para separar e estocar o carbono no veículo em forma de líquido.
O professor do departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina, Nito Debacher, que atua no desenvolvimento de um processo para degradar e transformar moléculas provenientes da combustão em usinas, chaminés de indústrias e escapamentos de veículos (conhecido como Gás Limpo), acredita que novas tecnologias com potencial para redução de emissões são indispensáveis neste momento.
“Acredito que iniciativas como o Gás Limpo são muito importantes e serão de fundamental importância para garantir a manutenção do desenvolvimento durante o período de transição do modelo energético”.
Transformando ar em gasolina
Outra iniciativa semelhante vem do Laboratório Nacional de Los Alamos (pertencente ao Departamento de Energia dos Estados Unidos). Os cientistas Jeffrey Martin and William Kubic Jr defendem a teoria de que as pessoas continuarão dirigindo carros movidos à gasolina e emitindo CO2 na atmosfera por mais cinqüenta anos sem que isso agrave o aquecimento global.
O conceito desenvolvido pelos pesquisadores – denominado Green Freedom (ou Liberdade Verde, na tradução livre) – propõe remover o CO2 do ar e transformá-lo em gasolina. A idéia é utilizar uma solução líquida de carbonato de potássio que absorve o CO2 do ar. O gás então é extraído e submetido a reações químicas para que se transforme em combustível, seja metanol, gasolina ou querosene de aviação.
Este processo pode transformar o CO2 indesejado de um veículo poluente em uma fonte vasta de produção de combustíveis renováveis. O ciclo fechado (quantidades iguais de CO2 emitidas e removidas) significaria que carros, caminhões e aviões que utilizassem os combustíveis sintéticos não contribuiriam para o aquecimento global.
Apesar de os cientistas ainda não terem construído uma fábrica de combustíveis sintéticos, ou mesmo um protótipo, eles afirmam que a idéia é viável por ser baseada em tecnologias já existentes. “Tudo no conceito já foi construído, está operando ou possui um primo próximo que está em operação”, afirma Martin.
Uma fábrica para se transformar o CO2 em gasolina só não foi construída ainda porque essa atividade necessita de uma quantidade gigantesca de energia. Para se tornar viável, a experiência de Los Alamos contou com diversas inovações para lidar com esse problema, inclusive no processo eletroquímico para a detecção do CO2 após ser absorvido pela solução de carbonato de potássio. O processo foi testado na garagem de Kubic, em um aparato simples que mais parece com um Tupperware mutante.
Mesmo com essas improvisações, seria preciso uma usina específica (preferencialmente uma nuclear) que fornecesse energia para a produção de gasolina em escala comercial (cerca de 750 mil galões por dia), afirmam os cientistas.
O projeto custaria 5 bilhões de dólares para ser construído, poderia produzir gasolina a um custo operacional de 1,40 dólares por galão e se tornaria economicamente viável quando o preço na bomba alcançasse 4,60 dólares por galão – levando em conta os custos de construção e outras despesas para fornecer o gás para o consumidor. Com alguns avanços tecnológicos adicionais, o preço baixaria para 3,40 dólares o galão, eles afirmam.
Tecnologicamente um reator nuclear não é necessário. O mesmo processo químico poderia ser gerado por painéis solares, por exemplo, mas os custos financeiros nesse caso seriam maiores.
Necessidade
O professor Debacher acredita que a tendência é que as pesquisas e tecnologias se movam no sentido de se construir um mundo livre das emissões de carbono, mas que é preciso lidar com a matriz fóssil existente atualmente por pelo menos mais 50 anos, até o seu esgotamento. “A passagem do atual modelo para um outro não é simples, pois o processo é lento e carece do desenvolvimento de tecnologia aplicada a novas fontes de energia. Desta forma não é possível abandonar o atual modelo nos próximos 30 a 40 anos mesmo que todos os esforços sejam neste sentido”, avalia.
Portanto, defende, é indispensável desenvolver novas técnicas de redução de emissões de gases da combustão provenientes da atual matriz energética para amenizar os problemas ambientais tais como o efeito estufa, oriundos da emissão de CO2 e outros gases.
“As pesquisas que se baseiam na reutilização e transformação dos gases em outras fontes de energia, como no processo do Gás Limpo, baseiam-se em processo natural como o do ciclo do carbono, realizado naturalmente pelas plantas (reino vegetal), que absorvem o CO2 e liberam oxigênio pela fotossíntese”, conclui Debacher.
(Sabrina Domingos, Carbono Brasil, 04/03/08)