29 maio Rio Tavares agoniza com lixo e esgoto
Mataram o Rio Tavares, aos poucos. Há 20 anos suas margens foram tomadas por ocupações ilegais. A emissão clandestina de esgotos domésticos e poluição por metais pesados dizimaram criadouros de camarões. De vez em quando, surgem peixes, mas ninguém os come. Estão contaminados. As águas, agora pretas, do principal rio que banha o Sul da Ilha, viraram uma mistura fétida de lodo e lixo. Para minimizar o risco de enchentes, a Prefeitura, enviou a equipe de limpeza hidrográfica. Em três dias forma retirados seis caminhões abarrotados de entulhos. Submersos fogões, geladeiras, sofás. Passadas 24 horas, o cenário se refez.
“É incontrolável”, expõe Milton Otávio da Silva, diretor de operações da Secretaria Municipal de Obras, se referindo ao controle dos dejetos. Há três meses, o canal havia sido limpo. “Os moradores jogam da janela sacolas com detritos, bicicletas, televisões, peças de carro, é inacreditável o que se encontra ali”, disse. Ataíde Silva, vice-presidente da Associação dos Moradores do Campeche, conta que já observou liberação de produtos tóxicos pelas oficinas e postos de gasolina, que cercam o local. Na vizinhança impera a máxima do “não fui eu”.
O poder público não se pronuncia sobre um tratamento que reverta à situação. A Floram (fundação Municipal do Meio ambiente), afirma que só pode fiscalizar as ocupações irregulares, que as casas construídas a menos de 30 metros do rio já foram autuadas, e os processos estão tramitando. A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), explica que não tem licença ambiental para construir uma estação no bairro. A Vigilância Sanitária, que só atua mediante denúncias. E no jogo da “responsabilidade não é minha”, vários trechos do rio morreram, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade).
Que peixe é esse?
É comprido e até reluz, mas não tem vida. No anzol de Fernando Heinz, 32, vem de tudo, menos peixe. Quando, entre detritos, escama um bichano com o filho Gustavo, 7, para o jantar de segunda-feira, é porque comprou na pescaria. Há 17 anos, o empreiteiro, mora às margens do Rio Tavares, mas nunca foi abastecido de alimento por aquelas águas. Num dia, pegou um bagre. “Fiquei surpreso! Pena que precisei jogá-lo fora”, conta. Circundando as casas, o lixo é um risco para as crianças que correm livremente. Tábuas com pregos enferrujados, telhas pontiagudas, vidros estilhaçados, ferros-velhos estão por toda parte, possibilidade iminente de acidentes ou doenças, como tétano.
(ND, 29/05/2012)