Fatma calcula dez anos para área do Parque do Tabuleiro se recuperar após incêndio

Fatma calcula dez anos para área do Parque do Tabuleiro se recuperar após incêndio

Cantam numa floresta carbonizada bem-te-vis, andorinhas e uma grande diversidade de pássaros. As asas salvaram as aves de três dias de incêndio no Parque da Serra do Tabuleiro, maior área de preservação do governo de Santa Catarina, que destruiu 922 hectares de vegetação nativa – o maior estádio do Brasil, o Maracanã, tem seis hectares. Não é possível contabilizar o número de animais mortos com a queimada, entre eles, o tamanduá-bandeira – ameaçado de extinção. Assim como, milhares de árvores da mata atlântica que viraram pó.

Os danos foram tão nocivos que Murilo Flores, presidente da Fatma (Fundação do Meio Ambiente), prevê: “Não há horizonte menor que 10 anos para recuperação da área”. Flores informa que do Parque sobraram “apenas algumas manchas de verde”. Répteis, anfíbios e até bichos de passo rápido como, lebres, capivara, lontras e ouriço não tiveram tempo de fugir.

O fogo começou na estrada que conduz a praia do Sonho, em Palhoça, foi se alastrando com auxílio do vento pelo contorno da BR 101, só foi contido na SC 434, rodovia que liga a Pinheira. Flores expôs que as estradas minimizaram a proporção do acidente. “Sem esses acessos poderia ter tomado as casas da região”, disse. É possível visualizar nesses caminhos um cenário surreal: a mata mudou de cor, de verde para amarelo escuro e vermelho, a terra se transformou num lago espesso e negro. O cheiro, cinco dias após a queimada, ainda é forte.

O biólogo Alair de Souza, chefe da unidade de conservação do Parque conta que o processo de recuperação será natural: “agora temos que permitir que a natureza se reestruture”. A fiscalização também será mais incisiva, conforme o comandante do Batalhão da Polícia Militar Ambiental, tenente-coronel Leibnitz Martinez Hipólito, que suspeita de incêndio criminoso.

As averiguações apontam para dois caminhos, ambos com interferência humana: “retaliação ao trabalho de fiscalização ou intenção de tomada do Parque, através de invasões”. Murilo complementa, “aqui está o maior problema fundiário do Estado”.

(ND, 10/04/2012)