Usuários do transporte público de Florianópolis aguardam licitação que não anda desde 2010

Usuários do transporte público de Florianópolis aguardam licitação que não anda desde 2010

Cinco empresas dividem há cerca de 30 anos o bolo do transporte coletivo de Florianópolis e desde 2010 estão amparadas em um contrato emergencial válido até que seja concluída a primeira licitação para o serviço. A concorrência pública inédita está tão atrasada quanto o sistema de transporte da Capital. Se o edital sair ainda neste semestre, como afirma o secretário municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais, vice-prefeito João Batista Nunes, é possível que a partir de 2014 ocorra uma mudança significativa.

Os 250 mil passageiros que usam diariamente o transporte coletivo na Capital contam os dias para o fim das filas nos terminais e com a chegada de ônibus modernos e confortáveis e linhas interligando bairros e regiões. A longa e complexa fase de preparação do edital de licitação se deve a fatores burocráticos, como a auditoria para identificar o passivo indenizável das empresas – o valor equivalente à diferença entre a tarifa e os investimentos feitos por cada uma delas desde 1999 –, e até à doença do auditor, além da necessidade de conhecer melhor o sistema local e observar iniciativas de outras cidades.

O procurador do Município, Jaime Souza explica que, como não há segurança fiscal para as empresas, também não há melhorias. “Sem processo licitatório, a presença delas no próximo ano é uma incógnita. Quando sabem que durante 20 ou 30 anos vão explorar o serviço é possível fazer investimentos com mais confiança”, observa.

“A licitação é o certo. Mas seria sonho? É urgente se fazer algo para diminuir o número de automóveis e melhorar a mobilidade”, diz Luiz da Silva, 70 anos, usuário do transporte. Sem um serviço eficiente o sistema apenas acompanha a queda constante do número de usuários. O número de passageiros/ano caiu de 55.413.541 em 2010 para 54.363.854 em 2011.

Empresas que já operam vão concorrer

O transporte coletivo de Florianópolis é explorado por cinco empresas, divididas por regiões. Transol, Canasvieiras, Insular, Emflotur e Estrela começaram as atividades em diferentes anos, mas, de acordo com Valdir Gomes, presidente do Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Florianópolis), nenhuma tem menos de 20 anos de atuação na cidade. A Canasvieiras, por exemplo, tem 85 anos e a Insular começou em 1950.

Gomes garantiu que as cinco empresas são a favor da licitação. “Elas terão tranquilidade jurídica. Todas estão se preparando para concorrer e vão se habilitar”, confirmou. A Canasvieiras, por exemplo, já adquiriu três ônibus que integrarão o sistema BRT, e a Insular tem dois veículos neste modelo.

De acordo com Deonísio Linder, secretário de Finanças e Assuntos Jurídicos do Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano da Região Metropolitana de Florianópolis), a licitação, em forma de consórcio, não deve derrubar as empresas que já operam o serviço na Capital. “Nós somos a favor da elaboração de uma política clara de transporte público, que incentive as pessoas a deixarem seus carros em casa para andar de ônibus”, opinou.

Melhorias previstas para 2014

A licitação prevê melhorias para o transporte coletivo da Capital. O vice-prefeito João Batista Nunes espera que até 2014 todo o sistema esteja adequado às novas regras previstas no edital. As mudanças vão desde a exigência de redução da vida útil dos ônibus, de oito para quatro anos, até a implantação do BRT (Bus Rapid Transit – em português, trânsito rápido de ônibus) na cidade. “Não haverá mais separação por região. Todas as linhas serão integradas. A ideia é fazer isso por meio de uma empresa ou consórcio de empresas que explorarão o serviço”, explicou.

Há ainda a ideia de integrar com o transporte lacustre, com tarifas iguais à dos ônibus. De acordo com o vice-prefeito, os cidadãos poderão monitorar por meio da internet as atividades dentro dos ônibus, por meio de câmeras de vigilância, e a rota, já que toda a frota será equipada com GPS. “O valor da tarifa não vai aumentar. Pelo contrário, a tendência é diminuir. O número de usuários deve aumentar com uma tarifa mais justa e social”, ressaltou.

Usuários têm que ficar em pé

No Ticen (Terminar de Integração do Centro), a situação precária do sistema fica clara ao andar pelas plataformas, principalmente no horário de pico. As filas crescem a cada segundo e o número de ônibus e linhas não dá conta da demanda. Junto a diversas pessoas que esperavam para pegar o Corredor Continente , da Emflotur, Tairone Tessaro, 50 anos, carregava, como sempre, uma sacola nas mãos. Ele sai de casa cedo pela manhã e volta à noite, sempre usando o transporte coletivo. Sem saber se vai sentir ou não calor dentro do ônibus lotado e sem ar condicionado, leva uma muda de roupa extra para trocar quando chega ao trabalho. “Eles tiraram as linhas Canto e Jardim Atlântico e colocaram em um único ônibus, que vem e vai lotado. Ficamos esperando na fila pelo próximo ônibus para ver se conseguimos ir sentados, mas, na maioria das vezes, é em pé mesmo”, contou.

A mulher de Tessaro chegou a reclamar para a empresa sobre a mudança, mas não houve resultado. “O preço que pagamos pelo transporte não condiz, não é legal. Poderíamos ser melhor atendidos. Cada vez mais a gente vê uma pessoa dentro de cada carro. Talvez com licitação, e novas empresas, pudesse melhorar o serviço”, afirmou.

Não muito longe dali, na terceira plataforma, uma enorme fila persistia em frente ao ponto da linha Rio Tavares Direto, da Insular. Quando o ônibus lotava, muitas pessoas preferiam aguardar em pé, na fila, pelo próximo veículo. “É uma falta de consideração. Pegamos fila e ainda temos que ficar em pé no ônibus. Reclamamos para os fiscais, mas não adianta. Muito caro pelo péssimo atendimento”, desabafou Luiz da Silva, 70.

As filas não são menores para o Norte da Ilha. O trajeto é longo e ninguém quer ir em pé depois de um longo dia de trabalho. Sentada na escada do ônibus da Canasvieiras, Celma Vieira, 30, improvisou uma solução para a falta de acentos. “Aqui está sempre lotado. Mas para ir para os Ingleses é ainda pior”, comentou.

Como é o transporte hoje

– Cinco empresas administram o serviço

– Empresas divididas em regiões

– Frota com oito anos de vida útil

– Veículos sem ar condicionado, GPS e câmeras de vigilância

– Cada empresa tem uma cor de veículo

– Não há integração com transporte lacustre

– Tarifa alta com poucos investimentos

– Não há faixa exclusiva de ônibus nas ruas da Capital

– Integração por meio dos terminais

– Abrigos de ônibus ultrapassados, sem itinerários e horários das linhas

Como será pelo edital de licitação

– Uma empresa ou um consórcio de empresas administrará o serviço

– Linhas integração bairros de diferentes regiões

– Frota com quatro anos de vida útil

– Veículos com ar condicionado, GPS e câmeras de vigilância

– Veículos com cor padronizada

– Haverá integração com transporte lacustre (tarifa única)

– Tarifa baixa com aumento de investimentos

– Transporte integrado pelo sistema BRT (prevê faixa exclusiva para ônibus em determinadas regiões)

– Linhas podem não exigir passagem nos terminais para integração

– Abrigos de ônibus com informações em tempo real, por meio de telas led

Raio X das empresas

Canasvieiras

Região: Norte da Ilha

Número de ônibus: 140

Colaboradores: 600

Atuação no transporte: 85 anos

Principais linhas: Canasvieiras Direto/ Santo Antônio Direto/ Canasvieiras Mauro Ramos/ Canasvieiras Gama D’Eça / Canasvieiras Trindade

Insular

Região: Sul da Ilha

Número de ônibus: 110

Colaboradores: 573

Atuação no transporte: 62 anos

Principais linhas: Rio Tavares Direto/ Corredor Sudoeste/ Costeira do Pirajubaé/ Tapera/ Campeche

Transol

Região: Centro/Leste

Número de ônibus: 193

Colaboradores: 1.000

Atuação no transporte: 23 anos

Principais linhas: UFSC Semidireto/ Lagoa da Conceição/ Agronômica/ Volta ao Morro Carvoeira e Volta ao Morro Pantanal

Emflotur

Região: Continente

Número de ônibus: 35

Colaboradores: 181

Atuação no transporte: 65 anos

Principais linhas: Corredor Continente/ Coloninha/ Bairro de Fátima/ Aracy Vaz Callado

Estrela

Região: Continente

Número de ônibus: 138

Colaboradores: 660

Atuação no transporte: 37 anos

Principais linhas: Abraão/ Copeiras/ Itaguaçú/ Chico Mendes/ Vila Aparecida

Últimos reajustes na tarifa

Período Cartão (R$) Dinheiro (R$)
Janeiro de 2008 1,98 2,50
Janeiro de 2009 2,10 2,70
Agosto de 2009 2,20 2,80
Maio de 2010 2,38 2,95
Abril de 2011 2,60 2,90
Janeiro de 2012 2,70 2,90

(Emanuelle Gomes, ND, 31/03/2012)