24 out Ilha menos verde
As cinco propostas de novos parques na Capital não devem sair do papel e podem ficar apenas na vontade dos moradores. Em quatro deles, o motivo é o alto valor das desapropriações
Florianópolis tem sonhado com novos parques urbanos. Há ideias inovadoras, como a do Parque Linear do Córrego Grande. Ele seguiria o curso do rio da Cachoeira do Poção ao manguezal do Itacorubi, e teria calçada, ciclovia e trilha. Mas hoje há poucos indícios de que ele se torne realidade. A falta de dinheiro para desapropriações é o principal motivo. E o problema se repete em outros cantos da ilha.
O Diário Catarinense fez um levantamento de como estão as cinco propostas para criar novos parques na Capital. Quatro delas, segundo o secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SMDU), José Carlos Rauen, sequer devem virar projetos porque caem no mesmo problema: o valor das desapropriações: o já citado Parque Linear do Córrego Grande, o das Três Pontas, o Vassourão e o Cultural do Campeche (Pacuca).
– Não adianta querer fazer parque em terreno privado. Nós teríamos que investir muito dinheiro em desapropriações – diz Rauen.
Já o Jardim Botânico, tocado pelo governo do Estado, não tem prazo para sair do papel. A ideia ganhou fôlego quando a OSX tentava construir um estaleiro em Biguaçu. O empresário Eike Batista chegou a investir R$ 500 mil no primeiro projeto e prometeu R$ 20 milhões para a obra.
Como o empreendimento trocou Santa Catarina pelo Rio de Janeiro por causa das restrições ambientais, a promessa do dinheiro sumiu. Segundo o presidente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Murilo Flores, o Estado busca parceiros na iniciativa privada para fazer o projeto executivo, no valor de R$ 2 milhões. Também é da iniciativa privada que se esperam os R$ 50 milhões para a obra toda.
Espaço no Abraão vai ser sede da Polícia Ambiental
Os argumentos para a criação dos parques são quase sempre os mesmos: faltam áreas de lazer e os espaços verdes estão acabando. Só que não adianta apenas criá-los. No Abraão, por exemplo, o Parque da Pedreira vai virar a sede da Polícia Ambiental. No final de 2005, a pedreira foi transformada no Parque Aventura Maria Inês Tournier Rodrigues. A Associação Catarinense de Escalada e Montanhismo até preparou o lugar para escaladas. Hoje, um cadeado tranca o portão principal. Mas quem quiser pode entrar por um portão destruído. Há lixo em vários lugares.
– Começou a ter prostituição, assaltos e uso de drogas. A Polícia Ambiental vai construir sua sede ali. Preferiríamos o espaço para a comunidade, mas, do jeito que está, até preferimos que a polícia ocupe o espaço – afirmou Paulo João Rodrigues, vice-presidente da Associação dos Moradores do Bairro Abraão (Amba).
(Por Mauricio Frighetto, DC, 24/10/2011)
Parques que são extremos
No Dia das Crianças em Florianópolis, no Parque de Coqueiros, no Continente, praticamente todos os espaços estavam sendo usados: pais brincando com os filhos, adultos se exercitando, jovens lendo livros embaixo de árvores. Do outro lado da baía, no Parque da Luz, há espaço também, mas faltam pessoas e equipamentos de lazer. Em 30 minutos, o DC contou apenas 13 pessoas. E isso acontece não só num dia especial, mas em finais de semana ensolarados e com temperatura agradável.
O Parque de Coqueiros tem uma infraestrutura de dar inveja. Tem academia ao ar livre, pista para caminhar, correr ou pedalar, quadras de vôlei e basquete, campo de futebol, espaços gramados e arborizados.
Em praticamente todos os domingos, o engenheiro civil George Vandresen, 28 anos, leva suas filhas para o parque – uma de dois e outra de 10 anos.
– A menor fica no parquinho, enquanto a maior vai andar de bicicleta – diz o engenheiro, que ainda gostaria que tivesse mais policiamento no parque.
Do outro lado da baía, a realidade é diferente. A bancária Débora Aguiar, 46 anos, levou seu cachorro para passear no Parque da Luz. Mas acha que o lugar está um pouco abandonado:
– Hoje, até que está bom, com a grama cortada. Mas faltam equipamentos. Tem um campinho de futebol que não recebe manutenção e nada mais. E o pior é à noite, porque não tem iluminação nem vigilância.
Para a comerciante Carmem Soares, 33, o espaço é bonito, mas não recebe a atenção que deveria:
– É só ver a diferença com o Parque de Coqueiros.
(DC, 24/10/2011)