05 nov Ecologicamente corretos
Não jogar lixo na rua, fechar a torneira ao escovar os dentes e desligar a televisão quando ninguém está assistindo são atitudes que passaram a fazer parte do cotidiano dos catarinenses nos últimos anos, quando o meio ambiente virou assunto obrigatório. Hoje, pessoas e empresas buscam novas formas de diminuir o seu impacto na natureza.
Todos os dias, em torno de cinco mil toneladas de lixo são geradas nas casas catarinenses – quase um quilo por pessoa – e, se não destinados corretamente, contribuem para a poluição do solo e dos recursos hídricos.
Além disso, apenas 11,6% dos municípios do Estado – 34 dos 293 – possuem serviço de coleta seletiva.
O DC destaca algumas iniciativas que têm surtido resultados em Santa Catarina.
Material reciclável reduz em 30% a conta de energia
Uma alternativa de aquecedor de água está ajudando populações de baixa renda a poupar energia e tirar proveito de materiais recicláveis, como caixas de leite e garrafas plásticas. Somente este ano, o aquecedor deverá ser instalado pela Celesc em 480 residências e instituições sociais do Estado.
Ao ser instalado no telhado, o chamado coletor solar capta a energia do sol para aquecer a água e mantê-la em boa temperatura para ser usada nos chuveiros e torneiras.
Ele é um complemento ao sistema de energia elétrica. Nos dias em que não há sol, ou quando a pessoa julgar que a água não esquentou o suficiente, pode-se utilizar um equipamento no chuveiro que mistura as duas fontes de energia ou utiliza só a elétrica.
Segundo o seu idealizador, José Alcino Alano, de Tubarão, o coletor solar pode ser utilizado em pequenas e grandes construções, gerando uma economia de energia de 30%. Além disso, o coletor solar reaproveita materiais que normalmente vão para o lixo.
– Não adianta falar em preservar o meio ambiente e não ter ação – diz Alano.
Em SC, as caixas dágua e os canos estão sendo doados e instalados em residências de regiões carentes pela Celesc, por meio de seu Núcleo de Responsabilidade Social. A empresa também promove oficinas de capacitação para ensinar a técnica de produção do sistema e conscientizar a população sobre a importância da economia de energia e da preservação ambiental.
As garrafas e caixas são recolhidas nas próprias comunidades. O objetivo da Celesc é instalar o coletor em 480 domicílios até o final do ano, 30 em cada uma das suas 16 agências regionais. Por enquanto, eles já funcionam em 10 residências de Laguna, Joinville, Blumenau, Tubarão e da Capital, além de uma instituição para dependentes químicos em Tubarão.
– Só nesses 11 lugares, 3.940 garrafas e 3.940 caixas de leite foram retiradas do meio ambiente – explica Jacó Rocha, coordenador estadual do projeto da Celesc.
Uma destas casas é a de Jair Alves, na comunidade Chico Mendes, na Capital. Segundo ele, desde a instalação do sistema, em maio, a conta de energia da casa, onde moram quatro pessoas, caiu de R$ 80 para R$ 60 por mês. E ele espera uma economia maior no Verão.
– Ele economiza e esquenta bem. E, ecologicamente, é um respiro para o ambiente.
Como funciona o coletor solar
O sistema coletor é colocado em uma área do telhado que receba a energia do sol e fique abaixo da caixa dágua. Ele é formado por canos de PVC, por onde a água passa, que são envolvidos pelas caixas de leite pintadas de preto. Estas, por sua vez, ficam dentro das garrafas plásticas.
As garrafas produzem um “efeito estufa” ao longo do cano, não deixando o calor sair, o que provoca o aquecimento da água.
Como a água quente é mais leve, ela sobe para a caixa dágua, e a fria desce para ser aquecida.
Em SC, em um dia de Verão, o sistema precisa receber a luz solar por cerca de duas horas para aquecer a água de uma caixa de 250 litros, o suficiente para uma família de quatro pessoas.
No Inverno, o tempo de exposição para esquentar a água até a temperatura ideal de banho é de cerca de cinco horas e 30 minutos.
O aquecedor é um complemento ao sistema de energia elétrica. Nos dias em que não há sol, ou quando a pessoa julgar que a água não esquentou o suficiente, pode utilizar um equipamento no chuveiro que mistura as duas fontes de energia ou utiliza só a elétrica.
Líderes comunidades carentes interessadas no projeto podem entrar em contato com o Núcleo de Responsabilidade Social da Celesc: (48) 3231-5522. Fonte: José Alcino Alano, idealizador do sistema
As sacolas das vovós
O antigo hábito das vovós, de sair de casa para o mercado com aquela sacolinha de pano, plástico ou mesmo com carrinho, está voltando para as ruas com novo propósito. É pensando no impacto de cada um no meio ambiente que alguns clientes deixaram de sair de mercados, padarias, locadoras e outros estabelecimentos com sacolas plásticas que levarão, em média, cem anos até se decompor.
Comerciantes, por sua vez, também passaram a oferecer opções ecológicas. Quando viram sacolas plásticas entupirem bueiros perto da sua padaria, no Bairro Itaguaçu, em Florianópolis, as empresárias Linda Cover e Helena Chagas Pereira decidiram que era hora de colocar em prática uma idéia.
– Vi todas aquelas sacolas plásticas, quando o bueiro foi desentupido pela Casan, e falei para a minha sócia: “Olha para onde está indo nosso dinheiro” – relembra Linda.
Foi então que as empresárias foram a campo. Pesquisaram fornecedores, calcularam custos e, no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, passaram a oferecer aos clientes uma sacola retornável, feita em TNT (Tecido Não-Tecido).
Dobrável, a prática embalagem pode ser carregada dentro da bolsa. A sacola antiga, de plástico, ainda está disponível aos clientes da padaria, mas a expectativa é que, aos poucos, eles passem a dispensá-la.
O custo 10 vezes mais alto do novo modelo será compensado pela fidelização dos fregueses.
– Sabemos que isso envolve uma mudança de mentalidade, mas estamos apostando – releva Linda.
Se alguns conseguiram colocar a idéia em prática agora, outros já comemoram alguns aniversários longe das sacolas plásticas. É o caso de Miliza Fehlauer, moradora do Bairro Campeche, também na Capital. Ela é o que se pode chamar de consumidora consciente: tem a asua sacola retornável para compras na feira, e, quando é dia de rancho, leva as compras no carrinho até o estacionamento do mercado.
No porta-malas do carro, Miliza carrega uma caixa organizadora Ela também prefere produtos que não vêm pré-embalados em plásticos, como frutas e verduras.
– Não adianta reclamar dos governantes sem fazer nada. Algumas pessoas estranham esses hábitos, mas não me preocupo. Não faço isso por modismo, faço porque acredito – revela Miliza.
Uso de retornáveis é comum na Europa
Um dos locais onde ela costuma passar é a loja de produtos naturais de Herbert Sebastiani, no mesmo bairro. O alemão trouxe da terra natal a postura consciente.
– Lá na Alemanha, se você quer uma sacola plástica deve pagar por ela – conta, relevando uma prática comum em muitos países da Europa, como Inglaterra e Portugal.
Na loja dele funciona assim: a pessoa no caixa não oferece uma sacola antes de perguntar se ela é necessária. Em geral, clientes que param para comprar poucos itens carregam as compras na mão até o carro. E o estabelecimento ainda dispõe de sacolas retornáveis de algodão, que estão à venda.
A polêmica das biodegradáveis
Uma prática que tem crescido entre os estabelecimentos comerciais do país é a substituição do plástico normal das sacolas por uma matéria-prima batizada de oxi-biodegradável. O material se decomporia em até dois anos.
Os plásticos alternativos possuem componentes que podem ser destruídos por agentes biológicos, como as bactérias, ou que se degradam pela ação do calor ou da luz.
– Seguramente, a tendência de substituição das sacolas plásticas de supermercados por materiais biodegradáveis é uma corrente bastante forte, significativa e vantajosa sob vários aspectos – acredita a professora Sonia Iara Portalupi Ramos, do Laboratório de Gestão e Valoração de Resíduos do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
No entanto, nem todos os especialistas da área enxergam a questão da mesma maneira.
– É uma ilusão pensar que a sacola chamada de oxi-biodegradável não polui. Tudo o que está na formulação do plástico se dispersará no meio ambiente. E o pior é que o fato de se decompor mais rápido justifica, para alguns, jogar essa sacola no meio ambiente. – opina Elisa Garcia, do grupo de Meio Ambiente do Centro de Tecnologia de Embalagens do Instituto de Tecnologia de Alimentos do Governo de SP (Cetea/Ital).
Óleo de cozinha entra na ração de animais
O óleo de cozinha, que a maioria das donas de casa despeja no ralo da pia por falta de alternativa ou de orientação, pode ser utilizado de forma a preservar o meio ambiente e ao mesmo tempo gerar emprego e renda.
Esta foi a preocupação do Serviço Social da Indústria (Sesi) ao procurar um novo destino para os 12,8 mil litros de óleo vegetal saturado que, todos os meses, eram enviados de suas 56 cozinhas industriais para aterros sanitários.
– O óleo contamina o solo e causa mortandade de animais se for parar nos rios – explica a consultora do Sesi/SC, Paula Martins.
A solução encontrada foi a formação de parcerias com empresas que, há dois anos, começaram a recolher o óleo e a utilizá-lo para a fabricação de biodiesel, cosméticos e ração animal.
Uma dessas empresas é a Eco Ambiental, de São José, na Grande Florianópolis, que foi criada em janeiro deste ano e já atende a 185 clientes, entre restaurantes, bares, lanchonetes, condomínios e até mesmo residências da Capital e de São José.
Periodicamente – a cada semana, quinzena ou mês, de acordo com a necessidade de cada cliente – a Eco Ambiental recolhe o óleo vegetal utilizado na cozinha e o processa.
Primeiro, o produto é filtrado para que os resíduos sejam retirados. Depois é decantado, o que permite a separação da água. O óleo resultante – cerca de 70% do volume total recolhido – é comercializado com empresas que produzem farinha de osso, tinta e ração para aves. A água, depois de tratada, vai para a rede de esgoto e os resíduos são utilizados para a produção de adubo.
– Eu via na TV os problemas com óleo e empresas que não sabiam o que fazer com ele. Aí resolvemos montar a empresa – explicou a proprietária, Jânia Schmitt Hames.
Entre os clientes atendidos pela Eco Ambiental estão a Marinha, o Exército e o presídio de Tijucas. No total, são recolhidos dez mil litros de óleo por mês, que depois de processados, se transformam em sete mil litros. Cada litro é vendido por R$ 0,35.
Congresso
Florianópolis recebe o 12º Congresso Latino-Americano de Óleos e Gorduras entre os dias 12 e 14, no CentroSul. Nele serão apresentadas as inovações e as pesquisas mais recentes na área. O evento é realizado a cada dois anos. Nessa edição, ele terá dois eixos centrais de discussão: o biodiesel e a questão da nutrição/saúde e alimentos funcionais.
(Laura Coutinho e Estephani Zavarise, DC, 03/11/2007)