24 jun Tesouro arqueológico é revelado no Sul da Ilha de Santa Catarina
Pedra histórica de um naufrágio de um navio espanhol, em 1583, foi retirada do mar neste domingo
Uma pedra histórica esculpida com o escudo das armas da Espanha foi retirada do mar, no Sul da Ilha, na tarde desta quinta-feira (23). Especialistas, que trabalham na exploração do sitio arqueológico há seis anos e acreditam que a peça faça parte de um dos naufrágios mais antigos encontrado em águas das Américas, provavelmente de 1583. Com aproximadamente 800 quilos, o objeto foi recebido com aplausos, quando chegou junto a embarcação, no Veleiros da Ilha, na Baía Sul da Capital.
Outras peças que ainda estão no fundo do mar, são agora o próximo alvo dos pesquisadores. Entre o tesouro arqueológico estão: armas reais, uma pedra triangular com inscrições em latim citando o rei Felipe II da Espanha, e um canhão de bronze que pode ser um dos mais antigos do mundo. Nos próximos meses a equipe deve concentrar esforços na retirada das peças.
As pesquisas arqueológicas subaquáticas no Sul da Ilha começaram em 2005, quando pesquisadores encontraram uma âncora de origem espanhola, provavelmente do século 16. “Isso nos motivou a realizar pesquisas, que tiveram um impulso maior, em 2008, com o apoio da Fapesc ( Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina)”, lembra o diretor do projeto Barra Sul, Gabriel Corrêa, responsável pela exploração.
“As informações que virão a partir do estudo destes artefatos vão nos mostrar uma história que pouca gente conhece”, avalia o historiador, Evandro de Souza. As pesquisadores exploram uma área de 400 quilômetros entre as praias de Naufragados, Ponta do Papagaio, Sonho e Pântano do Sul. Entre os séculos 15 e 16, a região era um ponto estratégico de abastecimento para navegadores. “As embarcações que naufragaram seguiam para o Estreito de Magalhães, no Chile (uma passagem navegável ao sul da América do Sul). Tinham um projeto audacioso para a construção de duas fortalezas”, conta Corrêa.
Destino da peça será avaliado
O capitão Claudio Lisboa, da Capitania dos Portos de Santa Catarina, explica que a pedra retirada está sob a responsabilidade da União e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Depois do trabalho de restauração será feita uma avaliação do local em que a pedra deverá ficar para exposição. “Será feito o levantamento do valor histórico e depois será avaliada uma instituição que tenha condições de manter a peça”, ressalta. “Acredito que a peça deve ficar no Estado”, comenta o secretário executivo do Ministério da Cultura, Vitor Ortis.
Para a coordenadora de Arqueologia da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) “a descoberta vai começar a descrever a história de ocupação no Estado”. A universidade fará todo o trabalho de dessalinização e higienização da peça.
O diretor de operações de mergulho, Ney Mund Filho, avalia que a peça é somente “a ponta de um Iceberg. Ninguém fez a inserção na parte coberta, acreditamos que tem muito mais coisas lá”, disse. “Com esta peça facilita a comprovação dos naufrágios”, completa.
(Por Mônica Amanda Foltran, ND, 23/06/2011)
Um tesouro histórico no fundo do mar
Peças de um naufrágio ocorrido no século 16 são encontradas no Sul da Ilha de Santa Catarina
Destroços do mais antigo naufrágio ocorrido na América no século 16 podem ter sido encontrados em Florianópolis. Ontem, uma pedra de cerca de 800 quilos foi retirada do fundo do mar, perto da Praia de Naufragados, no Sul da Ilha de SC. A peça, em formato quadrangular, foi esculpida em alto relevo com o escudo das armas da Espanha. Pesquisadores acreditam que o material é de um naufrágio de 1583.
Uma outra pedra, com inscrições em latim e citando o rei Felipe II da Espanha, além de dois ornamentos em formato circular, deverão ser retirados do mar em três semanas. Um canhão, com mais de três metros de comprimento, também permanece submerso. A retirada deve levar mais de um ano para acontecer, devido ao tamanho e ao peso. Na arma de guerra está marcado o ano de 1566.
A descoberta foi feita por mergulhadores do Projeto Barra Sul. O grupo faz pesquisas arqueológicas subaquáticas nas imediações da Praia de Naufragados, Pântano do Sul, Ponta do Papagaio e Praia do Sonho. A região é considerada o maior santuário de naufrágios no Brasil.
Entre os séculos 16 e 17, o Sul da Ilha era um ponto estratégico de abastecimento para os navegadores que serviam aos reinos de diversos países europeus e seguiam rumo ao Rio da Prata.
As pesquisas preliminares indicam que a embarcação La Provedora, que significa barco de carga, saiu da Espanha com os materiais que seriam usados para a construção de duas fortalezas no Estreito de Magalhães, no Chile. As pedras seriam postas em frente aos fortes para identificar a quem pertencia o local.
– Na época, os barcos paravam na baía Sul para se abastecerem de provisões e eram surpreendidos pela geografia acidentada da região e acabavam naufragando – explica o diretor do projeto, Gabriel Corrêa.
– É uma das descobertas mais importantes para a história de Santa Catarina, porque escreve outra página da colonização europeia no Brasil e vai agregar informações ao conteúdo histórico que já existe – considera a arqueóloga Deisi de Farias, que participa do projeto.
O naufrágio mais antigo registrado na América, até então, é do galeão Santíssimo Sacramento, que afundou na Bahia em 1668.
O material retirado do mar catarinense será levado ao Laboratório de Arqueologia da Unisul para dessalinização e higienização. Depois, deve ser encaminhado a um museu.
(Por Edinara Kley, DC, 23/06/2011)