20 jun Maciço do morro da Cruz se transforma em um canteiro de obras
Dezesseis comunidades da região serão beneficiadas pelo projeto de urbanização. Parte delas, já aproveita as melhorias
Há mais de duas décadas morando no morro da Queimada, no maciço do morro da Cruz, só agora, há pouco mais de dois anos, que Andrea Rosa e sua família conseguem circular na comunidade sem medo de escorregar em um buraco. Serviços simples, porém indispensáveis como tratamento de água, esgoto, energia elétrica já chegam na porta de casa. O novo cotidiano vivenciado por ela e por mais 22 mil habitantes da região é resultado do projeto de urbanização do maciço do morro da Cruz, que iniciou há três anos e tem transformado a vida de 16 comunidades.
O trabalho envolve pavimentação com concreto, lajotas, escadarias, rampas, aberturas de ruas, muros de contenção, drenagem, ligações de esgoto, luz e água regularizadas. No total, os governos federal, estadual e municipal devem injetar R$70 milhões em recursos, destes, R$41 milhões repassados pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O projeto que transformou o maciço do morro da Cruz em um grande canteiro de obras passou a ser executado em 2008 e deve seguir por mais três anos. Apesar da falta de agilidade, os moradores vão comemorando dia após dia as conquistas. Para o presidente da Associação dos Moradores do morro da Queimada, Valmor Coelho, as melhorias não chegam rápido, mas quando são entregues animam a comunidade. “As pessoas vão vivenciando as mudanças e se entusiasmam com elas. Dá mais vontade de construir, de trabalhar e de circular pela comunidade”, diz.
A moradora Andrea Rosa, mesmo equilibrando uma caixa de ovos enquanto caminha entre as obras, diz que não deixa o morro por nada nesse mundo. “Nasci, cresci e quero morrei aqui. Se já era bom, agora está maravilhoso. Andamos em calçadas e não no meio do mato como antes e vai ficar ainda melhor”, relata animada.
Desabamento não assusta mais
Irmã Nereu Soares mora no maciço do morro da Cruz há 30 anos. Nesse período passou por muitos apertos, principalmente em dias de chuva. Na última enxurrada, em 2008, a casa de seu filho foi engolida pela terra e o terreno permanecia em área de risco sem a possibilidade de abrigar novas moradias. No entanto, a construção dos muros de contenção mudou esta realidade. Agora, uma nova casa pode ser reerguida no local sem perigo de desabamento. “Temos muito a comemorar. A chuva é até bem-vinda”, diz.
Sai o esgoto, entra a calçada
Em frente à casa de Maria de Lurdes Nunes, antes do início da urbanização, segundo ela, o esgoto corria a céu aberto. O mau cheiro e a presença de animais como ratos e baratas eram companheiros. “Não gosto nem de lembrar o que já passei aqui. Mas depois que ligaram a rede de esgoto e fizeram as calçadas minha casa tem outra cara. Agora é um lugar digno de se viver”, relata a moradora.
Adriano Pereira também aproveita as melhorias. A dificuldade de ir e vir ainda é vivenciada, porém de forma menos agressiva. “Entre caminhar no meio do mato e do lixo ou entre as obras, fico com a última opção”, diz.
Ligações clandestinas dão lugar ao kit postinho
O presidente da Associação dos Moradores do morro da Queimada, Valmor Coelho, ressalta que com a ligação de energia e água na casa dos moradores, as clandestinas – conhecidas por gatos – não existem mais. “Eles instalaram o kit postinho, todo mundo tem um e paga por sua conta. Gato agora, só em forma de bicho”, brinca.
Trabalho não está nem na metade
O engenheiro da Secretaria de Habitação e Saneamento, Américo Pescador, ressalta que o projeto de urbanização do maciço não atingiu nem a metade de todo o trabalho que precisa ser feito. O prazo inicial para entregar as obras encerrou este mês, mas foi esticado para mais três anos. “Desde 2008 foi concluído apenas 38% do total, não por falta de recurso, mas por falta de mão de obra e pela dificuldade de trabalho que as empreiteiras enfrentam. Os caminhões não chegam a muitas localidades e o material precisa ser carregado no braço”, relata.
E que ainda espera pelas melhorias, pede agilidade. No alto da Caieira, os moradores Erica Reis, Marisa Correa do Amaral e Sonia da Silva, precisam convivem com ruas esburacadas e inexistência das ligações de água, esgoto e energia elétrica. “Queremos que as obras cheguem logo por aqui, nós também temos direito a estas melhorias”, reclama Marisa.
O engenheiro Américo Pescador confirma que há muitas comunidades esperando pelos serviços, mas lembra que eles chegarão a todas as casas. “Não pretendemos deixar nenhuma rua para trás, porém, é preciso paciência”, diz.
O projeto também prevê a construção de 438 casas populares, no entanto, somente cinco estão em construção. “Abrimos licitação quatro vezes e não apareceram empresas interessadas”, explica o engenheiro.
Obras no parque em ritmo lento
O projeto de urbanização do maciço do morro da Cruz também prevê um parque natural com mais de dois milhões de metros quadrados. Desta área, estão destinados um 1,4 milhões de metros quadrados para implantação do parque.
De acordo com o engenheiro Américo Pescador, estão previstas a construção de dois estacionamentos, dois lagos revitalizados, um anfiteatro, duas quadras poliesportivas, dois playgrounds, duas áreas para ginástica ao ar livre e dois pórticos de entrada. Devem agregar também à estrutura, um mirante voltado para a avenida Mauro Ramos, áreas administrativas e viveiros de mudas.
No entanto, desde junho de 2010, início da construção do parque, só foram finalizados 15% do total da obra. “O prazo também já venceu. Estamos tentando entrar em acordo com a empreiteira que alega falta de mão de obra, já que a prioridade é para quem mora no morro”, explica Américo Pescador.
O projeto
Início: 2008
Previsão para término: 2014
Total em investimento: R$70 milhões (R$ 41 milhões do governo federal, R$15 milhões do governo estadual e R$14 milhões do governo municipal)
O que contempla: 100% de pavimentação em todas as ruas de 16 comunidades do maciço do morro da Cruz, além de escadarias, rampas, muros de contenção e ligações de esgoto, água e energia elétrica. Um parque de convivência para lazer dos moradores e a construção de 438 casas populares
O que já foi feito:
Total do projeto: 38%
Ligação de energia elétrica: 12%
Ligação de água e esgoto: 38% (Caieira e Serrinha 100%)
Urbanização (pavimentação, rampas, escadarias, muros de contenção): 38%
Abrangência: Tico-Tico, Mariquinha, Mont Serrat, Morro do Horácio, Morro da Penitenciária, Morro do Céu, José Boiteaux, Angelo Laporta, Morro da Queimada, Morro do 25, Santa Clara, Laudelina Cruz Lemos, Morro Santa Vitória , Jacatá, Caieira do Saco dos Limões e Serrinha.
(Por Aline Rebequi, ND, 18/06/2011)