Ilha de miséria

Ilha de miséria

A demissão do secretário da Prefeitura de Florianópolis e do presidente da Fundação Municipal de Meio Ambiente acabou provocando maior impacto pela revelação de ambos, de que cerca de um quarto da população da Ilha vive em situação de miséria e que 14 mil residências estão em risco geológico, do que se pode deduzir que há perigo de desabamento, inundação e até de crimes ecológicos.

Se houvesse por parte da Prefeitura um compromisso com a saúde da cidade, em nível de população e do seu meio ambiente, com certeza os dois dirigentes já teriam sido convocados para comandar uma mobilização no sentido de ainda salvar a Ilha.

A miséria de Florianópolis é, em proporção, maior que a do Rio de Janeiro, calculada em 18%. E ainda se continua achando que campo de golpe, marina e outros empreendimentos são prioritários, como que escamoteando os gravíssimos problemas sociais e ecológicos.

A visão do lucro só é capaz de alimentar a engrenagem de uma sociedade capitalista quando em seu alicerce há espaço suficiente para assegurar o bem-estar social da população. As cidades que não souberam cuidar dos seus habitantes ficaram à margem do crescimento econômico e, principalmente, turístico. E o exemplo mais recente é a velocidade com que Bogotá e mesmo Medellín recuperam o prestígio mundial através das soluções sociais que já tornaram essas cidades mais alegres.

Nem golfe e nem marinas salvarão a Ilha de Santa Catarina de um futuro ainda mais catastrófico se não houver preocupação em dar prioridade às questões sociais e de meio ambiente. A Ilha está perdendo o seu encanto; seus mares se revoltando e os ares pesados já indicam o sedentarismo urbano, em meio à neurose da impaciência.

A qualidade de vida de uma cidade não se mede pela opulência de seus empreendimentos e equipamentos turísticos e nem pela aparência luxuosa de casarões e mansões de bairros privilegiados. O equilíbrio social é a referência que exibe uma cidade sem os muros invisíveis que hoje escondem os 60 mil moradores miseráveis nesta Ilha.

(artigo, Laudelino José Sardá – Jornalista e professor da Unisul, DC, 09/10/2007)