28 abr Fórum sobre Mobilidade Urbana em Florianópolis termina com baixa participação de autoridades
Evento internacional contou com especialistas mundiais que trataram sobre sistemas de transporte coletivo, uso do carro e ciclovias
A segunda edição do Fórum Internacional sobre Mobilidade Urbana, realizado na Capital na terça (26) e quarta-feira (27), no teatro Pedro Ivo, na SC-401, terminou com a entrega de certificados de participação para cerca de 200 pessoas, mas muito pouco se viu a presença das autoridades locais, quem realmente tem poder de decisão para mudar o cenário da imobilidade urbana vivida na cidade.
A organização do evento afirmou ter convidado diversas autoridades municipais, estaduais e federais que não precisariam desembolsar de R$ 190 a R$ 790, como fizeram os demais participantes, para presenciar os debates com os maiores especialistas do mundo no assunto. Da prefeitura, quem esteve o tempo todo no teatro Pedro Ivo foi a diretora de Planejamento do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), a arquiteta Vera Lúcia Gonçalves da Silva, que, atenta, usou o telefone celular para gravar os diálogos dos palestrantes.
No entanto, uma comitiva da Prefeitura da Capital está se organizando para participar do quinto Congresso Mundial da Rede Cities For Mobility, em Stuttgart, na Alemanha, entre os dias 3 e 5 de julho deste ano. Naquele país, os representantes da Capital catarinense se farão presentes para discutir soluções de mobilidade e também receber o prêmio que a Prefeitura de Stuttgart planeja entregar em razão do acordo de cooperação entre as duas cidades, realizado há cinco anos.
Secretário argentino quer implantar ciclovias
O fórum realizado em Florianópolis chamou a atenção de pessoas de outros municípios e Estados brasileiros e até do exterior. Moradores de Goiânia, Bahia e de cidades catarinenses, como Blumenau e Joinville, participaram dos debates. O secretário de Governo da Prefeitura de Júnin, na Argentina, Mauro Gores, fez pessoalmente a inscrição e acompanhou todas as discussões.
Júnin, uma cidade de cem mil habitantes, não tem sistema de transporte coletivo. De acordo com Gorer, os moradores se deslocam apenas por meio de carros e motos. “Vim participar do fórum porque a questão da mobilidade urbana tem que ser prioridade para os governos locais que devem pensar nas pessoas. A ideia que levo daqui é a ciclovia. Vou propor a fomentação do uso de bicicleta com a estruturação de ciclovias em toda a cidade”, contou o secretário argentino.
Estudo de demanda viária é fundamental
Para amenizar os problemas de trânsito na cidade, a especialista e professora da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), Giselle Xavier, acredita ser fundamental estudo técnico de demanda viária, executado e financiado pelo poder público. “O transporte público não funciona se não se souber para onde as pessoas querem ir”, afirmou, durante o painel “A questão da mobilidade urbana nas cidades catarinenses”, na tarde de quarta-feira.
Há quem defenda também a participação do setor privado, por meio de concessões e parcerias público-privadas. “Resolver os problemas de mobilidade urbana custa bilhões de reais, por isso acredito que a iniciativa privada deveria participar do processo”, observou o presidente da Comissão de Transportes e Mobilidade Urbana da OAB-SC, Fernando Augusto Ferreira Rossa.
Promover mobilidade e sustentabilidade nas cidades com o incentivo ao uso da bicicleta também ganhou destaque nas palestras de quarta. “Há uma demanda reprimida de pessoas que gostariam de deixar o carro em casa para ir ao trabalho ou universidade de bicicleta, mas as pessoas têm medo de pedalar por causa da velocidade dos automóveis e da falta de ciclovias”, alertou o presidente da ViaCiclo (Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis), Daniel de Araújo Costa.
“Mudança nem sempre se faz por consenso”
Um dos maiores especialistas em promoção do uso da bicicleta no mundo, o diretor-executivo da 8-80 Cities, do Canadá, Guillermo Peñalosa, fechou o Fórum Internacional sobre Mobilidade Urbana em Florianópolis com a palestra gratuita “Bicicleta – da Recreação à Cidadania”. A 8-80 Cities é uma organização que trabalha pelo incentivo das caminhadas e pedaladas em todos os lugares públicos. Na filosofia da 8-80, uma criança de 8 anos e um idoso de 80 anos precisam ter as mesmas condições e oportunidades de caminhar e andar de bicicleta pela cidade como tem um adulto de 30 anos. Se assim o for, é porque a cidade oferece uma boa mobilidade à população.
“Desenvolver estruturas para pedestres e ciclistas é demonstrar respeito perante os cidadãos”, afirmou Peñalosa. Segundo ele, a estruturação da malha cicloviária nas cidades passa obrigatoriamente pela diminuição da velocidade dos carros nos bairros para 30 quilômetros por hora e pela criação de barreiras físicas que proporcionem segurança aos ciclistas nas rodovias muito movimentadas e com velocidade superior a 40 quilômetros por hora. “A mudança nem sempre se faz por consenso”, ressaltou Peñalosa, referindo-se à resistência dos motoristas que pressionam o poder público ao se depararem com medidas que visem diminuir o uso do carro nos centros urbanos.
(Por Maiara Gonçalves, ND, 28/04/2011)
Mobilidade e a responsabilidade de cada um
Da coluna de Carlos Damião (ND, 28/04/2011)
Excesso de carros, sinalização ultrapassada e motoristas sem consciência: tudo contribui para a tranqueira
A constatação de que a mobilidade urbana é um desastre na Grande Florianópolis nem precisaria ser respaldada pela presença na Capital de alguns craques do assunto, respeitados mundialmente, e que vieram participar de um simpósio internacional. A observação pura e simples do que acontece, por qualquer leigo, indica inúmeras questões complexas. A mais destacada delas, que salta aos olhos, é justamente o excesso de veículos. Em segundo lugar, mas não menos importante, está a falta de um setor de engenharia de tráfego que seja produtivo, dinâmico e presente. Houvesse uma união de esforços entre as prefeituras, grande parte do sistema de trânsito deveria ser revista, com redução da sinalização (o excesso aumenta a tranqueira) e outros procedimentos indispensáveis. Em terceiro lugar está a reeducação dos motoristas. E esse é um dos desafios mais grandiosos, por conta da evidente preferência de uso do automóvel como meio de transporte – sendo que mais de 60% dos carros transportam, nos horários de pico, apenas uma pessoa, o motorista.
Ausência
É evidente que as discussões teóricas são essenciais para o esclarecimento de dúvidas e oferecimento de soluções capazes de melhorar a mobilidade urbana. E é lamentável que poucas autoridades catarinenses tenham dado importância ao evento internacional realizado na Capital.
Pedal
“É enorme a demanda de pessoas que gostariam de deslocar-se de bicicleta em Floripa para ir trabalhar/estudar. Faltam ciclovias integradas”. Do empresário Ernesto São Thiago, em seu twitter (@ernesto_floripa)