A verdade sobre a Ponte Hercílio Luz

A verdade sobre a Ponte Hercílio Luz

Da coluna de Carlos Damião (ND, 04/03/2011)
Matéria do Notícias do Dia no fim de semana teve o mérito de apresentar a realidade sobre a obra de restauração
Há algo em relação à Ponte Hercílio Luz que precisa ser dito: é muito melhor ouvirmos a verdade dos governantes atuais do que aquele papo “empreendedor” do tipo “vamos fazer e acontecer, a ponte ficará pronta em tal data, o metrô de superfície está garantido, as verbas estão asseguradas” etc. e tal. A realidade é uma só: o governo não tem capacidade financeira para arcar com a recuperação do monumento histórico, conforme ficou bem demonstrado na reportagem de Maiara Gonçalves, publicada pelo Notícias do Dia no fim de semana. E se chegamos ao estágio atual é porque, lá atrás, há alguns anos, as autoridades que administravam o Estado não planejaram a sequência da reforma da Hercílio Luz. Esse é o ponto: a falta de planejamento. Que é o mesmo que percebemos em outras questões, como a reforma do Centro Integrado de Cultura, a construção da arena do Norte da Ilha, as reformas consecutivas (e concomitantes) dos hospitais públicos, o atrasado projeto de saneamento básico da Capital, entre tantas.
Parceria
Um caminho para concluir a recuperação da Ponte Hercílio Luz – talvez o único recomendável pelo bom senso e pela responsabilidade governamental – é a parceria com a iniciativa privada. Como a ponte é um símbolo histórico e cultural, por que não receber impulsos financeiros de grandes organizações empresariais?
Obstáculo
Mais uma consideração razoável sobre a Ponte Hercílio Luz: os técnicos são unânimes em dizer que a recuperação do monumento não significará a criação de uma alternativa para a mobilidade urbana. Simplesmente porque o problema da ponte é a falta de acessos – de entrada e saída. “Queimar” R$ 170 milhões só para restaurar o símbolo é algo que não tem justificativa contábil, nem urbanística.
Ferrovia
Se a Hercílio Luz for integralmente recuperada, ela servirá à mobilidade apenas para a passagem de um trem – o que, aliás, seria a simples retomada do projeto original de Hercílio Luz, o construtor. No início do século 20, com poucos automóveis, a Ponte da Independência seria apenas uma ponte férrea, ponto de partida da ligação entre a Capital e o Planalto Serrano.