04 abr Litoral catarinense em alerta
Análise mostra que 58 pontos de SC passaram a maior parte da temporada impróprios para banho
Na Praia de Ponta das Canas, na Capital, o garoto de 13 anos exaltava a “baita beleza da praia”. – E como é a lagoa ali ao lado? – questiona o repórter. – Se tu tomar um banho lá, tu morre. É cheia de bactéria e cocô – responde o menino. Apesar do exagero, ele tem certa razão. A lagoa é um dos 58 pontos poluídos no Estado na maior parte da temporada.
O DC analisou os relatórios de balneabilidade da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) nos últimos três verões. Chegou à conclusão de que o número de pontos críticos aumentou na temporada 2010/2011, após uma queda no período de 2009/2010.
O estado é considerado crítico quando os pontos analisados passaram pelo menos a metade do tempo impróprios para banho, ou seja, se o local teve coletadas 10 amostras, por exemplo, pelo menos cinco vezes ele apresentava coliformes fecais acima do permitido.
Os pontos estão espalhados por toda a costa catarinense. Mas os resultados de três cidades chamam a atenção no ponto de vista negativo. Itapema e Porto Belo apresentam quase todos os pontos em estado crítico. E Florianópolis tem 23 locais na mesma situação.
Durante a semana, o DC, acompanhado do responsável pelo laboratório da Fatma, Marlon Silva, visitou pontos problemáticos no Norte da Ilha.
– Os rios se transformaram em condutores ou em depósitos de esgoto sanitário – analisou Marlon, ao passar ao lado do Rio do Braz, que desemboca na Praia de Canasvieiras, ao lado do trapiche das escunas de passeio.
Marlon contou que os pontos impróprios para banho estão, geralmente, próximos da foz de rios ou lagos. Significa que o esgoto doméstico passa por eles antes de contaminar a costa.
Naquele balneário, há seis pontos de análise: um crítico, dois regulares e três bons. Só que no relatório do dia 25 de janeiro todos foram considerados impróprios para banho.
– Naquela semana, choveu demais e estourou a barra do Rio do Braz, que invadiu o mar. Assim, todos os pontos ficaram contaminados – disse Marlon.
Ao lado de Canasvieiras, Ingleses também enfrenta problemas. Em um dos pontos, próximo a uma região de restaurantes, há um cano grande por onde deveria descer a água de um córrego. Mas a análise dos dados mostra mais do que água por ali. Há três anos, apenas 36% das análises estavam próprias para banho. Neste ano, nenhuma.
– No fim da tarde, desce pelo cano uma água preta com cheiro forte. Os turistas passam com a mão no nariz – conta o garçom Alex Sander Furtado.
Moradores dizem que, no passado, as mães levavam os filhos para brincar naquelas águas. Em outros pontos, a reportagem flagrou turistas e moradores passeando ou até pescando em lugares impróprios.
Em Ponta das Canas, uma garotinha brincava na água que escorria da lagoinha. A mesma água descrita pelo menino de 13 anos como um lugar cheio de bactéria e cocô.
(DC, 03/04/2011)
Mudança a curto prazo é difícil
O professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Sérgio Philippi, diz não ver perspectiva de mudança a curto prazo.
– Os investimentos são sempre mais lentos do que o aumento da quantidade de esgoto – avalia.
Para Philippi, a população não dá importância ao problema.
– Se os ônibus param, é uma gritaria. Por que não é assim com o saneamento? – questiona.
Para Fábio Krieger, diretor técnico da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), os pontos críticos ainda estão localizados e não comprometem o Estado todo. Segundo Krieger, a empresa vai atacar o problema com um investimento de R$ 5 bilhões nos próximos cinco anos.
Das três cidades em pior situação – Florianópolis, Itapema e Porto Belo –, a Casan só é responsável pelo saneamento da Capital, onde um projeto vai fiscalizar 18 mil imóveis por onde passa a rede coletora de esgoto.
– O problema é que as pessoas não ligam suas casas à rede.
A eficácia do sistema, segundo Krieger, poderá ser verificada no próximo verão. Até lá, promete ele, as praias de Canasvieiras, Ponta das Canas e Cachoeira do Bom Jesus, que ficam na mesma orla, terão 100% de rede coletora e uma estação de tratamento ampliada.
(DC, 03/04/2011)
Belas praias, mas poluídas
Porto Belo e Itapema, uma ao lado da outra, são cidades onde há mais pontos críticos do que próprios.
Itapema tem sete impróprios e cinco próprios, situação que pode demorar até 10 anos para mudar, diz o presidente da Fundação Ambiental de Área Costeira de Itapema, Juaci do Amaral.
– Metade da cidade tem rede coletora. O problema é que muitos ainda ligam esgoto à rede pluvial – conta.
A situação foi parar na Justiça, que suspendeu as ligações à rede coletora até que se defina se o Rio Perequê tem capacidade de absorver a água resultante do tratamento de esgoto.
O prefeito de Porto Belo, Albert Stadler, não atendeu às ligações do DC na sexta-feira para comentar a situação. Na cidade, dos seis pontos analisados, cinco estão em situação crítica.
(DC, 03/04/2011)
Ótimos exemplos
Apesar de ter rede coletora de esgoto só em 10% do município, Imbituba teve seus sete pontos classificados como próprios durante todo o verão. A prefeitura diz que a razão são as poucas construções ao longo da costa.
– Aqui o nosso Plano Diretor é mais restritivo – diz o prefeito José Roberto Martins, referindo-se a construções próximas ao mar.
O Plano Municipal de Saneamento já foi aprovado. A ideia é que em sete anos a cidade esteja com 90% de cobertura de rede de esgoto.
– Se não fizermos nada, teremos problemas em breve – alerta o prefeito.
Barra do Sul e Jaguaruna também tiveram seus pontos classificados como 100% próprios durante todo o verão.
(DC, 03/04/2011)