24 set Um dia sem carro
Iniciada no ano de 1998, na França, repete-se hoje em 160 cidades do mundo, incluindo Santa Catarina, a campanha Um Dia sem Meu Carro. O tráfego de veículos motorizados será interrompido em áreas centrais, possibilitando ao pedestre mais conforto e segurança para transitar nos centros urbanos.
Expande-se a proposta de que é possível viver sem carro, pelo menos durante algum tempo. Entre os objetivos da campanha, está a reflexão das comunidades na busca de soluções para uma questão que se agrava a cada dia: a do excesso de veículos nas cidades.
A frota mundial se aproxima de 5 bilhões de veículos, responsáveis, em parte, pelo aumento da camada de ozônio na atmosfera e pelo aquecimento do planeta. O fato se explica pela produção diária de monóxido de carbono dessa monumental frota de automóveis.
Mas ainda é pequeno o número de pessoas já conscientes da urgência de mudanças de comportamento. A campanha Um Dia sem Meu Carro procura difundir o sentimento de responsabilidade individual de cada motorista, ao mesmo tempo em que deseja mostrar às populações os benefícios de se dispensar o veículo por algumas horas. Estimulam-se, assim, o uso do transporte coletivo, o prazer e os benefícios de uma caminhada, além de provocar a discussão sobre a necessidade de reformular valores e hábitos, em nome do bem-estar das pessoas e do planeta.
Campanhas dessa natureza também permitem que a sociedade discuta com administradores públicos a urgência de se dar atenção ao planejamento urbano. Grande número das cidades brasileiras é refém de visões reconhecidamente amadoras no âmbito da questão urbana. Apesar das exigências legais de planos diretores e da formação de equipes técnicas voltadas ao urbanismo, essa área não tem merecido de prefeitos e de vereadores a importância que requer.
Em malha viária construída há mais de cem anos em cidades como Joinville, Florianópolis, Blumenau e Criciúma, circulam hoje milhares de veículos. Mesmo assim, à exceção da Capital, a geografia urbana continua quase a mesma. Em Joinville, por exemplo, circulam mais de 200 mil veículos praticamente nas mesmas ruas que existiam em maio de 1907, quando chegou o primeiro automóvel. Da mesma forma, apesar de ter o título de “Cidade das Bicicletas”, Joinville se ressente da falta de ciclovias. Também não tem parques ou rotas para caminhadas, problemas que se repetem em outros centros urbanos. A infra-estrutura precária para pedestres e ciclistas e a falta de opções eficientes para o transporte de pessoas explicam as dificuldades no tráfego das principais cidades catarinenses e a relutância em se deixar o veículo na garagem.
Um Dia sem Meu Carro deve ser dedicado à reflexão da população e dos governos em torno dessas questões. Cabe aos governantes viabilizar a reformulação dos transportes e melhorar o funcionamento das cidades. Calçadas em bom estado, parques para caminhadas e lazer, transporte coletivo eficiente, ciclovias, tudo isso permitirá um acréscimo na qualidade de vida dos moradores urbanos. Por enquanto, a rotina é de congestionamentos. Sem medidas práticas e imediatas e sem planejamento eficiente, a tendência é que aflições desse tipo se agravem.
(A Notícia, 22/09/2007)