O filme e o sonho

O filme e o sonho

Da coluna de Moacir Pereira (DC, 21/03/2011)

A cidade é um show de belezas naturais, de gente alegre, receptiva e com calor humano. A diversidade geográfica não tem similar no planeta. Um precioso colar de ilhas a seu redor, duas lagoas com distintos perfis, cumprindo funções diferentes. Rios e cachoeiras para refrescar nos dias quentes de verão. Morros e dunas para esquentar nas caminhadas frias de inverno. Canoas e baleeiras singrando as águas tranquilas do distrito encantado das bruxas. Gaivotas encantadoras cruzam o céu azulado, enquanto parapentes e asas-deltas coloridos pairam suavemente acima do verde exuberante dos morros. No outono, sustentados pela brisa do nordeste; na primavera, mesclando a paisagem com o amarelo- ouro dos garapuvus. Os mangues na área central, antes depósitos de lixo, agora transformados em fonte de estudos biológico e da curiosidade humana, acessíveis por deques e passarelas educativas. As baías, contrastadas pelo patrimônio natural e histórico. Fortalezas centenárias ao norte e ao sul constituem o marco da proteção contra os invasores. Ilhas e ilhotas em todas as latitudes revelam a riqueza da paisagem: umas desabitadas, cobertas de granito; outras, no esplendor de diversificada flora a acolher a variada fauna.

O oceano é uma das principais joias da coroa. Não só pela piscosidade. Sobretudo, pela rutilante preciosidade submarina. Ouriços traiçoeiros ao fundo, cardumes entre as pedras e as deslumbramentes algas, num balé arrebatador produzido pelo movimento das marés. No canal, desenha-se um novo espetáculo, com garças espertas na espreita de pequenos peixes para o bote mortal, misturadas com baleeiras, bateiras e batelões, denominações reveladoras da cultura açoriana. No estuário dos rios, onde a poluição e a ganância imobiliária ainda não chegaram, outro cenário natural enriquecedor. Na planície, a paisagem mais próxima ou bem distante, formando uma obra de arte. No alto das montanhas, o panorama hipnotizante.

Roteiro

As favelas desapareceram da Ilha. Obras públicas organizaram as habitações, humanizaram a convivência e viabilizaram a instalação de equipamentos urbanos. Os núcleos no alto dos morros contam, agora, com teleféricos e mirantes com vista estonteante, onde os turistas se divertem com exibições musicais e compram suvenires produzidos pelas comunidades. Os situados na periferia deslocam-se com transporte coletivo de qualidade. Serviços públicos são oferecidos nos distritos, descentralizados. Lá, os caixas eletrônicos de de empresas de serviços públicos dão atendimento respeitoso aos usuários.

Os irritantes congestionamentos desapareceram. Do Centro Histórico partem bondes elétricos em direção à UFSC e à Udesc, no Itacorubi, conduzindo milhares de estudantes e servidores, todos usuários de um transporte eficiente, confortável, econômico e rigoroso no horário. A reforma urbana acabou com as improvisadas servidões do Norte e ordenou a bagunça invasora do Sul. Parques infantis espalham-se pelas vilas e distritos. A programação cultural no interior vai de semana a semana, com músicas nas igrejas, nos pequenos teatros e centros comunitários. Casas de arte espalharam-se pelas regiões. Ensina-se música a partir da creche. Aulas de dança são oferecidas já aos cinco anos. Escolas de vela garantem vagas para crianças – pobres e ricas. As unidades escolares públicas viraram centros de eventos de famílias nos fins de semana. Trapiches e deques de madeira distribuem-se ao redor da Ilha. O transporte marítimo movimenta milhares de passageiros todos os dias. Na área insular e dela para o Continente. Marinas dão vida nova à cidade, geram empregos e enriquecem as duas baías. O destaque está na Ponta do Coral, onde um hotel de arquitetura leve e funcional mescla-se com lojas de artesanato, restaurantes, atelieres dos principais artistas e uma concha acústica, onde o povo se encontra e se diverte. As cabeceiras da Ponte Hercílio Luz são as mais frequentadas pela população local. Vistas de cair o queixo e serviços para tudo e para todos.

Há muito, muito mais no ideal de uma nova cidade. Florianópolis está aniversariando esta semana. A natureza foi generosa. O homem, demolidor. De um lado, eliminando seus encantos; de outro, impedindo seu desfrute racional e também sustentável.