Florianópolis estimula o uso de novas fontes de energia

Florianópolis estimula o uso de novas fontes de energia

No último final de semana, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comemorou os dez anos de implantação de um projeto piloto na geração solar de energia elétrica. Esta foi a primeira instalação solar integrada à arquitetura e interligada à rede elétrica pública do Brasil. Novas fontes de energia renováveis como a solar e a eólica (vinda do vento) estão sendo discutidas em todo mundo por questões ambientais e por causa do temor de um colapso energético.

Em Florianópolis, além da UFSC, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (Cefet/SC) realiza desde 2002 experiência com energia solar e, desde 2005, começou uma experiência com energia eólica.

O projeto da UFSC foi inaugurado em setembro de 1997, no bloco A do Departamento de Engenharia Mecânica. Ele converte diretamente energia solar em eletricidade através dos módulos fotovoltaicos instalados na cobertura do local. Apesar dos inúmeros benefícios do novo sistema, ele ainda é pouco utilizado em todo País pela falta de iniciativas governamentais.
Além do gerador instalado no Departamento de Mecânica existem outros geradores implantados na universidade que utilizam essa tecnologia limpa. Entre eles, um no Centro de Cultura e Eventos e; outro na Casa Eficiente, numa parceria com a Eletrosul.

De acordo com o engenheiro mecânico e pesquisador da UFSC Alexandre de Albuquerque Montenegro, o principal benefício da a energia solar é que ela é uma fonte de energia renovável que não polui o meio ambiente. “Infelizmente no Brasil a maior geração de energia ainda é centralizada e acaba havendo muita perda por causa disso.”

Ele aponta que em países europeus e nos Estados Unidos, o governo tem incentivado cada vez mais a instalação de geradores solares em prédios e residências. Montenegro acredita que para acontecer o mesmo no Brasil será necessário uma mudança de mentalidade por parte do governo federal.

Um dos estados que mais tem avançado nesta questão é Minas Gerais. “Se o governo não tem uma política ou investimentos neste setor, as indústrias também não terão interesses em investir nesta área”, explicou.

Vantagem de aplicação no meio urbano

O aproveitamento da energia solar para a geração de energia elétrica apresenta um grande potencial no desenvolvimento social, econômico e ambiental no Brasil. Por ser bem distribuída em todo País, a energia solar é uma fonte para produção de eletricidade que pode atender tanto aos habitantes dos grandes centros urbanos – abastecidos pela rede elétrica pública – como para as comunidades ou habitações isoladas, nas quais a extensão da rede elétrica convencional apresenta custos proibitivos.

Além de utilizar uma fonte de energia renovável, não poluente e silenciosa, ela pode ser integrada a edificações urbanas, se transformando numa usina geradora que não ocupa espaço adicional nos centros urbanos. A aplicação da energia solar em edifícios fotovoltaicos apresenta grandes vantagens por colocar a geração de energia de forma integrada no meio urbano.

Os prédios que utilizam esses geradores são chamados de edifícios solares fotovoltaicos, pois integram à sua fachada ou cobertura painéis solares que geram de forma descentralizada e junto ao ponto de consumo e energia elétrica pela conversão direta da luz do sol.

O potencial da energia solar fotovoltaica no Brasil é muitas vezes superior ao consumo total de energia elétrica do País. “Esses sistemas injetam na rede elétrica pública qualquer excedente de energia gerado e utilizam a rede elétrica como backup quando a quantidade de energia gerada não é suficiente para atender à instalação consumidora”, explicou o pesquisador da UFSC Alexandre de Albuquerque Montenegro.

Centro mostra resultados de aplicações eficientes

O Ecoenergia – núcleo de pesquisa e extensão do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (Cefet/SC) formado por um grupo multidisciplinar de profissionais foi criado com o objetivo de apresentar alternativas na área de conservação de energia, eficiência energética e desenvolvimento sustentável através de fontes alternativas de energia.

Nos últimos cinco anos foram criados projetos de energia solar e eólica, que são aplicados na unidade.O coordenador do projeto, Paulo Roberto Weigmann, explica que, em 2002, o centro implantou um programa de energia solar para a iluminação pública e bombeamento de água através da energia fotovoltaica. No primeiro, 14 postes foram transformados como unidade autônoma e iluminam o campus das 19 às 21 horas.

Neste mesmo ano, o Cefet colocou em funcionamento o Labmóvel – uma unidade móvel criada para divulgar o projeto solar. O veículo é equipado com eletrodomésticos como TV e computador e tem placas solares colocadas em cima dele.

Existem ainda o sistema solar de aquecimento de água para os chuveiros do ginásio de esportes, com um sistema com três mil litros de água quente e 30 placas de cem litros cada, o que dispensa o uso de chuveiros, já que o aquecimento é feito por energia solar.

A experiência no setor eólico é feita com duas torres com capacidade de 1 quilowatt e 250 quilowatts, respectivamente, que são utilizadas para iluminação externa do campus.

Previsão aponta um colapso mundial até 2030

Os combustíveis fósseis são a principal fonte de poluição do ar no mundo e responsáveis pelo aquecimento global no planeta. A energia limpa e renovável é fundamental para o desenvolvimento sustentável de todas as nações. Cientistas mundiais acreditam que, no máximo em 30 anos, as fontes de gás natural, petróleo e carvão se esgotem. E mesmo que este esgotamento não seja total, ele tornará esses produtos muito caros.

Para o diretor de relações internacionais da Eco Power, Jorge Pinheiro Machado, se esse tema não for discutido urgentemente, a previsão é que o mundo sofra um colapso de energia elétrica em 2030. “A discussão sobre energia renovável é um assunto que está na pauta do dia de todos os países do mundo.”

Os professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sérgio Colle, especialista em energia solar, e Júlio César Passos, especialista em energia eólica, defenderam a implantação de novos tipos de energia renováveis como o único caminho para um dos principais problemas que afligem a humanidade: o aquecimento global. “Alguns estados brasileiros estão inovando ao aprovar leis, como uma em São Paulo, na qual as novas edificações que foram construídas terão de se preocupar com a questão da energia solar”, disse Passos. Um dos exemplo positivos na região Sul do País é o da cidade gaúcha de Osório, que possui o maior parque eólico do mundo.

Capital vai debater força renovável

Florianópolis discutirá entre os dias 28 a 30 de novembro, durante o Eco Power Conference – Fórum Internacional de Energia Renovável – os novos tipos de energia renovável no País. O evento terá convidados nacionais e estrangeiros ligados à energia. Será no Costão do Santinho Resort.

Entre os convidados confirmados, o físico e professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Mohan Munasinghe, e o vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus.

Para 2008, a expectativa é que o Fórum reuna personalidades mundiais, como o ex-presidente do Estados Unidos Bill Clinton, o ator e governador da Califórnia (EUA), Arnold Schwarzenegger; a presidente do Chile, Michele Bachelet Jeria, entre outras personalidades.

Os furacões, as inundações, as secas, as ondas de calor em países europeus e os efeitos do aquecimento global foram apontados como as principais características que levaram à criação da Eco Power. Santa Catarina já está estudando algumas áreas que poderão receber energia eólica no futuro, como no Alto Quiriri (na região de Joinville e Garuva), Laguna e Água Doce.

No mundo hoje apenas 13% da energia utilizada é renovável. No Brasil, a energia sustentável é usada de forma moderna, ao contrário de alguns países da África e da Ásia, que ainda são primitivos. “No Brasil, a energia é usada através de usinas hidrelétricas e de outras formas de combustível, como o etanol, da cana-de-açúcar”, diz Goldemberg.

(André Luis Cia, A Notícia, 19/09/2007)